22/01/2018 às 08h01min - Atualizada em 22/01/2018 às 08h01min

Tiroteio em boate de Taguatinga expõe irregularidades

Jbr

Com dez meses de existência na QI 16 de Taguatinga Norte, a boate O’Beco Underground fazia festas mesmo sem alvará de funcionamento e tinha como chefe de segurança um homem que fraudava documentação, além de suspeitas de tráfico de drogas e de adulteração de bebidas alcoólicas. Todas as informações levantadas na investigação são negadas pelos donos da casa. Ali, na madrugada de sábado, um homem armado, ao tentar defender um amigo, fez sete disparos e baleou seis pessoas. Até o fechamento desta edição, o suposto autor do crime, Ruan Guilherme César Cavalcanti, 19, se encontrava foragido.

O delegado Douglas Fernandes, da 17ª DP (Taguatinga Norte), relata que as apurações não vão se restringir ao tiroteio, mas às suspeitas de outras irregularidades na casa, como a adulteração de bebidas para arrecadar mais dinheiro e tráfico de drogas durante os eventos.

De acordo com a polícia, a casa apenas deu entrada no alvará de funcionamento. O documento final não teria sido expedido, tampouco feitas as vistorias dos órgãos responsáveis. Os donos da boate negaram que facilitassem o tráfico e argumentaram que repreendiam o uso de entorpecentes.

Porém, o que levou os três sócios- proprietários à prisão ainda no sábado foi a modificação da cena do crime. Para a Polícia Civil, ocorreu fraude processual, pois houve a limpeza do sangue das vítimas e até o recolhimento dos projéteis. O objetivo, conforme a investigação, seria abafar o assunto e dificultar a prisão do autor, que seria amigo de todos eles. A pena chega a quatro anos para este tipo de delito.

“Nossa equipe da 17ª DP foi ao local às 6h e verificou que havia pessoas lá dentro que não quiseram atender a perícia. Não encontramos nenhuma cápsula. Os proprietários disseram que limparam porque acharam que não tinha problema, mas depois um deles disse que sabia que não poderia limpar por se tratar de cena de crime”, afirma o delegado Douglas.

Assim, Fábio Luís conceição Borges, Waleska Aparecida Rocha dos Anjos e Renato Eduardo Ervilha de Carvalho foram presos na manhã de sábado dentro da boate.


Polícia Civil

Como o crime é passível de fiança, Fábio e Waleska pagaram R$ 5 mil e foram liberados na mesma noite. Renato seguia preso até ontem. O quarto detido é o responsável pela segurança do local há seis meses, José Ignácio Araújo de Oliveira. Ele se apresentava para todos como Castiel, inclusive para os donos da boate, que não conheciam o verdadeiro nome dele. Teria sido ele quem recolheu as cápsulas.

Indícios

O delegado afirma que haverá uma investigação paralela sobre a situação de José Ignácio, pois haveria uma série de fraudes ligadas a ele. O suspeito eventualmente se apresentava como policial, ou ainda como dono de uma empresa de segurança que sequer existe; portava botas e colete do Samu, mas não tem ligação com a instituição; e teria deixado o suspeito da autoria dos disparos entrar na boate sem a devida revista. Todo o público era revistado, porém quando havia alguém conhecido, o cuidado era menor, o que facilitou a entrada do homem armado.

Porém, ao  JBr., um dos sócios, Fábio Borges, garantiu que a revista   era uma norma da casa e só havia exceção para os artistas. A decisão  de não averiguar a entrada do suspeito teria sido de José Ignácio.

Briga motivou disparos: seis vítimas feridas

Está em investigação o que teria levado Ruan Guilherme a fazer os disparos. O que se sabe até o momento é que, na área VIP, teria começado uma briga entre um “homem branco gordo  e um negro alto”, segundo testemunhas, um deles amigo do acusado. Assim, para defendê-lo, o rapaz fez os sete disparos. Nenhum deles teria acertado o alvo, mas seis pessoas acabaram feridas. Algumas estavam na área VIP, outras na pista.

As vítimas, de 18 a 27 anos, foram levadas aos hospitais de Taguatinga e Ceilândia pelos bombeiros – a mais grave ferida no tórax. Nenhuma tem risco de morrer.

A confusão começou durante o show do músico Dan Lellis. Ele teria cantado cinco músicas quando os disparos ocorreram. Segundo a produção do artista, logo que começou a gritaria, ele se recolheu ao camarim. A correria foi grande, já que havia cerca de 1,2 mil pessoas no evento, segundo a polícia.

O delegado Douglas Fernandes vai pedir a prisão de Ruan ainda nesta manhã. Devido a denúncia de que ele seria traficante de drogas, houve diligências em pontos de venda dos entorpecentes, mas ele não foi encontrado. A casa da mãe dele também foi averiguada. Segundo a mulher, o rapaz não aparece ali desde a noite de sexta.

Ruan será indiciado por homicídio qualificado, já que o alvo dos disparos estaria de costas e não teve chance de defesa. Nesta semana, mais vítimas serão ouvidas.

Ao JBr., a Administração de Taguatinga informou que não pôde precisar ontem em que em etapa a obtenção do alvará parou.

Três perguntas para Fábio Borges, um dos sócios:

Por  qual motivo houve a limpeza da cena do crime?

Nós, sócios, não estivemos envolvidos na limpeza. Eu  e o Renato Ervilha (outro sócio) fomos ao hospital ver as vítimas. Quando chegamos, ficamos sabendo que a polícia esteve no local e que o segurança  tinha dito que não havia ninguém. Depois, ficamos sabendo que  o local foi limpo pelo Castiel (José Inácio).

Vocês sabiam que José Inácio não era segurança?

Há 10 meses ele nos procurou e ofereceu o serviço, se identificando como vigilante. Não desconfiamos de que os documentos eram falsos. Tudo batia e o trabalho era bom. Mas fomos bem enganados em relação a isso. Até a empresa dele era fantasma.

Por que a boate funciona sem alvará?

Nós entramos com o pedido na administração, mas ainda não pegamos o documento final. A gente tem um protocolo falando que podemos funcionar.


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