21/04/2018 às 06h40min - Atualizada em 21/04/2018 às 06h40min

Internado, casal de idosos cultiva paixão centenária e comove hospital do DF

O amor de Francisco, 102 anos, e Sebastiana, 101, nasceu em 1936, quando eles fugiram para se casar

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O amor “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Já estava escrito em um dos livros mais antigos do mundo – a Bíblia –, mas há quem diga que encontrar este sentimento tão genuíno fora das páginas é difícil. Não para a família do seu Francisco Fernandes de Alencar, 102 anos, e da dona Sebastiana Coelho de Matos, 101, que tiveram dentro de casa o exemplo real de que o amor é a base para tudo. Até mesmo num quarto de hospital, que é como o casal centenário tem passado a última semana.

Internados na enfermaria do Hospital Regional de Samambaia, eles chamam atenção. Não é para menos: com apenas 186 pessoas com mais de cem anos na capital, Francisco e Sebastiana estão ali vivos, e, mesmo debilitados por conta da idade – principalmente ela, que sofre de Alzheimer –, conseguem tirar um tempo para contar as histórias de vida.

Na semana passada, Sebastiana apresentou hiperglicemia. Precisou ser internada. Em casa, Francisco se recuperava de uma forte gripe, mas sentiu falta da esposa e começou a ter problemas nos rins. Então, seguiu para o hospital. “Chamamos o Samu e a vaga que tinha era no Recanto das Emas. Mas quando o motorista soube que a vó estava no HRSam, ele seguiu para lá, para saber se aceitavam”, lembra a neta Jane Ester Alencar Alves, 42.

Francisco se preocupa com a esposa. “Pergunta ‘já comeu?’, ‘está dormindo?’. E não adianta enganar, porque ele sente”, garante a neta. “Esses dias ele estava contando a história dos dois, aí perguntei: ‘Vô, o senhor amava a vó?’, e ele respondeu ‘Amava? Ainda amo’”.

A neta não esconde o orgulho: “Eles são exemplos para toda a família. Meus primos, tios, tias, meus pais, todos cresceram baseados no exemplo dos meus avós. Crescemos ao redor deles, o ponto de encontro sempre foi a casa deles. Esse reconhecimento é a recompensa pela vida que levaram”, afirma.

A regra para viver tanto? “Eles sempre se alimentaram bem, dormiram bem. Não praticaram nenhum esporte. Mas meu avô sempre foi muito metódico. Tinha horário até para tomar água”, conta Jane.

Aos 19 anos, Francisco saiu do Maranhão para ganhar a vida. Trabalhador rural, encontrou na fazenda do pai de dona Sebastiana a oportunidade de um emprego e sustento. “Só que quando ele viu minha avó, se apaixonou à primeira vista. Ele não teve coragem de chegar nela, porque dizia que não tinha condições e que ela não o merecia. Mas uma tia da minha avó percebeu e se tornou a ‘cupida’. Incentivou o meu avô a falar com ela”, diz a neta.

O que conquistou Sebastiana foram os olhos azuis de Francisco. Mas seu pai não concordava com o namoro. “Meu bisavô não aceitou. Dizia que minha avó tinha posses e ele, nada. Só que, com a ajuda da tia, eles planejaram uma fuga e se casaram”.

Era 1936 quando saíram do interior de Goiás rumo a uma vida toda juntos. A primeira parada foi justamente em uma igreja onde selaram as juras de amor eterno. “Quando meu bisavô descobriu, deserdou minha avó”, afirma Jane. “Voltaram à fazenda em 1961, quando tiveram a última filha, mas meu bisavô já tinha morrido”, completa.
Aqui na capital, construíram uma grande família: são 12 filhos, aproximadamente 50 netos, 40 bisnetos e oito tataranetos.

Antes de terminar sua passagem na Terra, Francisco ainda tem um último pedido: “Deus, não me leva sem a Sebastiana”, diz o idoso em suas orações. “Não pensamos como vai ficar depois que eles se forem, porque são nosso ponto de referência. Mas, pelo visto, Deus vai realizar esse pedido dele, e eles vão embora juntos”, conclui a neta.


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