Domingo, 07/12/25

Brasil pode perder competitividade, diz especialista em comércio exterior

Welber Barral alerta que contencioso é um processo longo - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Welber Barral, ex-secretário do Mdic alerta para prejuízos no setor de carnes e destaca imprevisibilidade política nos EUA

A tarifação em 50% sobre produtos brasileiros comprados nos Estados Unidos, caso prospere, pode inviabilizar completamente as exportações para o mercado americano. A avaliação é do ex-secretário de Comércio Exterior e sócio-fundador da BMJ Consultoria, Welber Barral.

Segundo o consultor, um dos setores mais afetados será o de carnes, que enfrenta forte concorrência de países com tarifas mais baixas, como Austrália, Canadá e União Europeia.

“O impacto é muito grande. Se os Estados Unidos conseguem importar de outras origens com tarifas menores, o Brasil perde competitividade e, potencialmente, o próprio mercado”, afirma Barral em entrevista ao Correio. O especialista lembra que o setor de carnes é um dos mais sensíveis a esse tipo de barreira, por ser altamente dependente de margens e exposto à concorrência internacional.

Barral também destaca a motivação política por trás da medida de Trump, citando declarações que relacionam a decisão ao processo judicial que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Há um alinhamento entre os dois, tanto no discurso sobre tentativas de golpe quanto na perseguição judicial. Além disso, há pressão das big techs contra o governo brasileiro, que também pode ter influenciado essa postura protecionista”, avalia.

Por outro lado, especialista recorda que as tarifas, se efetivadas, devem ter efeitos inflacionários nos Estados Unidos, o que pode interferir nas eleições legislativas do próximo ano. “Trump está apostando que esse impacto será absorvido, mas um aumento no custo de produtos importados pode favorecer os democratas, que tentam retomar o controle da Câmara”, explica.

Segundo ele, o Brasil deve seguir o caminho tradicional da diplomacia: primeiro, apresentar uma reclamação formal à Organização Mundial do Comércio (OMC), e, se necessário, abrir um contencioso. Mas o processo é demorado. “Um contencioso leva de três a quatro anos. Não é uma solução imediata”, pondera. Barral lembra que, em 2009, o Brasil conseguiu negociar com os EUA após ameaçar aplicar sanções cruzadas, inclusive, sobre patentes e direitos autorais. Contudo, ressalta que o atual cenário é mais instável e exige cautela. “Uma ameaça precipitada pode piorar ainda mais a relação bilateral. É preciso saber o momento certo para pressionar”.

Mesmo diante da tensão, Barral acredita que o Brasil tem capacidade técnica para enfrentar o desafio. “O problema é que o cenário nos Estados Unidos mudou. A política comercial americana se tornou imprevisível e muito dependente do humor do presidente”.

Além do Brasil, países como Canadá, México, China e os membros da União Europeia também estão sob ameaça de tarifas elevadas. Todos, segundo Barral, estão tentando negociar para evitar uma nova guerra comercial.

Correio de Santa Maria, com informações da BMJ Consultoria

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