porta da cadeia foi aberta, como todo o Brasil teve a oportunidade de ver na noite de sexta-feira, depois da decisão do STF a favor do crime – e o primeiro autorizado a cair fora dela, naturalmente, foi o condenado em favor de quem se armou toda a fraude jurídica encenada nos últimos meses. A bandidagem provida de recursos ilimitados para ir comprando a própria impunidade na justiça até o fim da vida está em festa, é claro. Com a utilização da incomparável coleção de privilégios oferecidos pela lei brasileira ao réu da elite, aquele que rouba e paga sua defesa com o dinheiro que roubou, os corruptos voltam a sentir a segurança, perdida por um curto período de tempo, da qual desfrutam há 500 anos.
A batalha, agora, é outra. Desde que a facção pró-crime do STF lhes devolveu a impunidade, por um único e miserável voto de vantagem – dado, justamente, por um ex-funcionário do partido que mais roubou na história brasileira – os grandes barões da corrupção, mais os seus patronos, voltam ao jogo. Só que não voltam a dar as cartas. Podem estar livres e soltos, rindo da cara dos 200 milhões de otários que precisam trabalhar para ganhar a vida – mas para roubar de novo precisam estar no governo, e no momento eles não estão no governo.
O essencial, neste país onde seis ministros da nossa mais alta corte de justiça trabalham oficialmente em favor dos criminosos cinco estrelas, deixou de ser a luta contra a sua impunidade perpétua. O que realmente importa, pelo menos agora e no futuro imediato, é impedir que seja retomado o processo de privatização do Estado em benefício de um partido político, do mundo que gira em torno dele e dos magnatas que compram os seus favores. Esta distribuição geral do bem público para indivíduos, interesses e grupos privados vigora no Brasil desde sempre – mas nunca foi praticada de maneira tão aberta e tão agressiva como nos governos do presidente Lula e de sua sucessora.
É a turma que agora está recuperando a liberdade, ou ficando mais aliviada quanto à segurança penal do seu futuro próximo. Essa gente encobria a entrega do país à sua elite mais destrutiva dizendo que estava fazendo uma “política social” e distribuindo renda “para os mais pobres”. O que fizeram, na vida real, foi distribuir renda para si mesmos, deixar uns trocados para o povão e comandar o maior movimento de concentração de renda já vivido pelo Brasil. Perguntem aos empreiteiros de obras públicas, aos banqueiros, aos empresários piratas, aos “campeões nacionais”. Eles sabem o que fizeram, e como foi bom enquanto durou.
Mas uma coisa é estar solto – e outra, muito diferente, é comandar um governo onde manadas inteiras de corruptos ativos e passivos podem roubar o quanto queiram na Petrobras, no Banco do Brasil, na Caixa, nas estatais, nos fundos de pensão, nos Correios, nos hospitais e daí ao infinito. Pense em alguma coisa que pode ser roubada – pode ter certeza que ela foi roubada durante os treze anos e tanto em que os clientes do STF, ou do “bando dos seis”, mandaram no Brasil. É uma humilhação para milhões de brasileiros, com certeza, ver a lei ser falsificada para que a criminalidade de primeiríssima linha possa sair do xadrez, ou permanecer longe dele. Mas pior que ser insultado é ser insultado e, ao mesmo tempo, ser roubado de novo.
O Brasil pode sobreviver com a ladroagem fora da prisão. O que não aguenta é ter a ladroagem dentro do governo.