O porteiro agredido pelo ex-deputado federal e delegado aposentado Laerte Bessa não consegue esquecer os momentos de aflição que viveu na noite de terça-feira (12/11/2019). Mesmo afastado das atividades, Daniel Cardoso, 36 anos, afirma que o medo persiste. “A gente fica vulnerável, ainda mais quando se trata de um trabalho noturno. Temo também pela minha família, que fica em casa desprotegida”, conta.
Daniel é casado e pai de três crianças, de 10, 5 e 2 anos. Mora de aluguel no Recanto das Emas e, atualmente, é o único provedor da família. “Minha mulher está desempregada e, se eu perder o meu posto, não teremos como garantir o sustento de casa.” A partir desta segunda-feira (18/11/2019), ele não irá mais trabalhar no mesmo prédio onde mora Bessa. “Eu mesmo não quero voltar”, revela. A empresa responsável pelo terceirizado, a Sollo Serviços, garante realocar o funcionário em outro posto e diz estar dando toda a assistência psicológica e jurídica necessária.
Ao Metrópoles, o porteiro deu detalhes dos momentos que antecederam a agressão. Ele conta ter interfonado para o apartamento do ex-político para informar que a comida teria chegado. “Uma moça atendeu e disse que poderia subir, mas eu informei que, pelas normas do condomínio, ela teria que descer para buscar.” No prédio onde mora o ex-deputado, em Águas Claras, não é permitida a entrega na porta das residências depois das 23h. “Depois disso, o morador retornou já esbravejando, me xingando de todos os nomes. Fiquei com medo e acionei o síndico”, relata.
Já imaginando que o ex-delegado iria descer nervoso, o porteiro colocou o celular para gravar. “Infelizmente, a gente acaba lidando com situações de desrespeito eventualmente. Só que, quando não temos provas, quem sai perdendo é o lado mais fraco. Então, quis me munir. Só não pensava que seria algo tão grave e que ele desceria armado.” No vídeo, revelado pela coluna Grande Angular, não é possível ver se Bessa estava armado. Em entrevista dada à reportagem na quarta-feira (13/11/2019), o político negou ter descido com o revólver.
Além dos sentimentos de humilhação e temor, Daniel conta que as dores físicas persistiram por dias. Isso porque o delegado aposentado agrediu o funcionário com socos e tapas. “O chute que ele deu na cadeira também pegou no meu braço e, como eu tenho uma aneurisma nele, acabou machucando bastante”, diz.
Daniel é paciente renal crônico há sete anos e, por causa da rotina de hemodiálise, acabou desenvolvendo uma espécie de hérnia no braço onde foi instalado o acesso. Ele aguarda na fila de transplante para um rim.
Apesar de considerar que a repercussão expõe as agressões sofridas, Daniel ainda duvida que Laerte Bessa sofrerá punições. “Tive dificuldade até mesmo na hora de registrar o depoimento. Fui questionado se queria mesmo fazer aquilo e se tinha convicção de com quem estava mexendo.” Ele relata, ainda, que o advogado não conseguiu recuperar a ocorrência e foi informado que o processo estava em segredo de Justiça. O caso foi registrado e é investigado pela 21ª Delegacia de Polícia, Taguatinga Sul.
A reportagem tentou contato com a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), mas não obteve resposta até a última atualização deste texto.