05/02/2020 às 06h01min - Atualizada em 05/02/2020 às 06h01min

Esposa relata desespero ao ver professor agonizar após beber suco

Polícia Civil apura suspeita de envenenamento e diz que caso é "prioridade máxima" da corporação. Odailton Charles morreu na terça-feira

METRÓPOLES
Em depoimento prestado na 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte), a esposa do professor Odailton Charles Albuquerque Silva, 50 anos, afirmou que o docente da rede pública de ensino agonizava e tremia em uma maca no corredor do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A suspeita é que o ex-diretor do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 Norte tenha sido envenenado dentro da unidade de ensino.
 

O episódio, revelado pelo Metrópoles, aconteceu na última quinta-feira (30/01/2020) e Charles, como era conhecido, não resistiu. Ele teve morte cerebral declarada nessa terça-feira (04/02/2020), após cinco dias internado. Em nota enviada à imprensa, a Polícia Civil (PCDF) assegurou que o episódio “está sendo investigado com a máxima prioridade”.

A companheira de Odailton relatou que, ao chegar ao Hran, encontrou seu marido deitado no corredor da emergência. Segundo a esposa, ele estava “inconsciente, tremia, babava sem parar e se contorcia a todo momento”.
 

A mulher, então, se desesperou ao observar o estado de saúde do professor e passou a pedir a presença de um médico. Naquele momento, um dos profissionais levantou a hipótese de envenenamento e o encaminhou para atendimento. Charles passou por exames médicos no hospital.

Apesar dos esforços, o educador não resistiu. Ainda na terça, pouco depois de receberem a notícia, estudantes e colegas de profissão do CEF 410 Norte estenderam faixas na frente da unidade educacional lamentando a morte do professor.

 
Suco de uva

Odailton tomou um suco de uva enquanto participava de uma reunião na escola onde foi diretor por seis anos. Poucos minutos depois, começou a passar mal.

Durante a crise, enviou áudios angustiantes a familiares e colegas, pedindo socorro e detalhando seu estado de saúde. O docente chegou a dizer nas gravações de WhatsApp que desconfiava de alguma substância estranha em sua bebida.

“Alguém me ajuda, alguém me ajuda. Eu cheguei aqui, tomei um suco e acho que colocaram laxante, estou com muita diarreia”, disse o educador.

À medida que os áudios eram enviados, a situação piorava, o que ficou perceptível devido ao tom de voz e à dificuldade de respiração do professor.

Uma servidora que estava com o docente em reunião e presenciou o episódio telefonou para a esposa de Odailton e informou que ele estava passando mal. A mulher do professor sugeriu que o marido fosse levado ao hospital. O Corpo de Bombeiros foi acionado e conduziu o ex-diretor ao Hran.

Laudo

O caso foi tipificado como tentativa de homicídio. Laudo preliminar com material biológico da vítima, ao qual o Metrópoles teve acesso, constatou que o educador teria sofrido intoxicação, provavelmente por algum organofosforado, substância presente em inseticidas e agrotóxicos.

Diante da situação, a família decidiu registrar a ocorrência com base no conteúdo dos áudios, que podem apontar o cometimento de um crime.

Segundo a PCDF, “nenhuma hipótese é descartada”. De acordo com a corporação, as pessoas envolvidas estão sendo ouvidas na 2ª DP e os exames periciais já foram solicitados. A Polícia Civil, agora, aguarda o resultado dos procedimentos.

Dificuldades com colega

Segundo a reportagem apurou com pessoas próximas ao professor, ele chegou a relatar dificuldade de relacionamento com uma colega da escola, justamente quem teria lhe oferecido o suco no dia da reunião.

Em uma das mensagens enviadas a um amigo que também trabalha na instituição, o docente pontuou que sua interlocutora “estava com a cara de poucos amigos”. Frisou ainda que não queria beber o suco, mas acabou aceitando a bebida para não fazer desfeita. Odailton desconfiava de que o líquido teria lhe feito mal.

Metrópoles não vai divulgar o nome da servidora porque o caso está sob apuração e a polícia aguarda o laudo definitivo para tirar conclusões.

“A investigação não descarta nenhuma possibilidade. As pessoas que prestaram depoimento apresentaram versões divergentes que estão em análise”, disse o delegado-chefe da 2ª DP, Laércio Rossetto. Agentes da PCDF estiveram na escola infantil em busca de provas, mas não localizaram a garrafa de suco.

A instituição de ensino possui câmeras que poderiam ter registrado a dinâmica do incidente, mas, servidores informaram à reportagem que os equipamentos estão desligados.

Tanto amigos como familiares disseram à polícia que Odailton vivia uma fase boa e fazia planos para o futuro. Casado e pai de uma menina de 7 anos, o morador de Águas Claras planejava abrir uma empresa de assessoria. Recentemente, ele havia sido promovido pela Secretaria de Educação.

Em nota à reportagem, a Secretaria de Educação disse que “lamenta o ocorrido e irá aguardar as conclusões do inquérito policial”. A direção da escola não quis comentar o assunto.


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