O episódio, revelado pelo Metrópoles, aconteceu na última quinta-feira (30/01/2020) e Charles, como era conhecido, não resistiu. Ele teve morte cerebral declarada nessa terça-feira (04/02/2020), após cinco dias internado. Em nota enviada à imprensa, a Polícia Civil (PCDF) assegurou que o episódio “está sendo investigado com a máxima prioridade”.
A companheira de Odailton relatou que, ao chegar ao Hran, encontrou seu marido deitado no corredor da emergência. Segundo a esposa, ele estava “inconsciente, tremia, babava sem parar e se contorcia a todo momento”.
A mulher, então, se desesperou ao observar o estado de saúde do professor e passou a pedir a presença de um médico. Naquele momento, um dos profissionais levantou a hipótese de envenenamento e o encaminhou para atendimento. Charles passou por exames médicos no hospital.
Apesar dos esforços, o educador não resistiu. Ainda na terça, pouco depois de receberem a notícia, estudantes e colegas de profissão do CEF 410 Norte estenderam faixas na frente da unidade educacional lamentando a morte do professor.
Odailton tomou um suco de uva enquanto participava de uma reunião na escola onde foi diretor por seis anos. Poucos minutos depois, começou a passar mal.
Durante a crise, enviou áudios angustiantes a familiares e colegas, pedindo socorro e detalhando seu estado de saúde. O docente chegou a dizer nas gravações de WhatsApp que desconfiava de alguma substância estranha em sua bebida.
“Alguém me ajuda, alguém me ajuda. Eu cheguei aqui, tomei um suco e acho que colocaram laxante, estou com muita diarreia”, disse o educador.
À medida que os áudios eram enviados, a situação piorava, o que ficou perceptível devido ao tom de voz e à dificuldade de respiração do professor.
Uma servidora que estava com o docente em reunião e presenciou o episódio telefonou para a esposa de Odailton e informou que ele estava passando mal. A mulher do professor sugeriu que o marido fosse levado ao hospital. O Corpo de Bombeiros foi acionado e conduziu o ex-diretor ao Hran.
O caso foi tipificado como tentativa de homicídio. Laudo preliminar com material biológico da vítima, ao qual o Metrópoles teve acesso, constatou que o educador teria sofrido intoxicação, provavelmente por algum organofosforado, substância presente em inseticidas e agrotóxicos.
Diante da situação, a família decidiu registrar a ocorrência com base no conteúdo dos áudios, que podem apontar o cometimento de um crime.
Segundo a PCDF, “nenhuma hipótese é descartada”. De acordo com a corporação, as pessoas envolvidas estão sendo ouvidas na 2ª DP e os exames periciais já foram solicitados. A Polícia Civil, agora, aguarda o resultado dos procedimentos.
Segundo a reportagem apurou com pessoas próximas ao professor, ele chegou a relatar dificuldade de relacionamento com uma colega da escola, justamente quem teria lhe oferecido o suco no dia da reunião.
Em uma das mensagens enviadas a um amigo que também trabalha na instituição, o docente pontuou que sua interlocutora “estava com a cara de poucos amigos”. Frisou ainda que não queria beber o suco, mas acabou aceitando a bebida para não fazer desfeita. Odailton desconfiava de que o líquido teria lhe feito mal.
O Metrópoles não vai divulgar o nome da servidora porque o caso está sob apuração e a polícia aguarda o laudo definitivo para tirar conclusões.
“A investigação não descarta nenhuma possibilidade. As pessoas que prestaram depoimento apresentaram versões divergentes que estão em análise”, disse o delegado-chefe da 2ª DP, Laércio Rossetto. Agentes da PCDF estiveram na escola infantil em busca de provas, mas não localizaram a garrafa de suco.
A instituição de ensino possui câmeras que poderiam ter registrado a dinâmica do incidente, mas, servidores informaram à reportagem que os equipamentos estão desligados.
Tanto amigos como familiares disseram à polícia que Odailton vivia uma fase boa e fazia planos para o futuro. Casado e pai de uma menina de 7 anos, o morador de Águas Claras planejava abrir uma empresa de assessoria. Recentemente, ele havia sido promovido pela Secretaria de Educação.
Em nota à reportagem, a Secretaria de Educação disse que “lamenta o ocorrido e irá aguardar as conclusões do inquérito policial”. A direção da escola não quis comentar o assunto.