16/03/2020 às 07h14min - Atualizada em 16/03/2020 às 07h14min

Paradas do medo: pontos de ônibus do DF têm mortes e até arrastão

Assaltos com faca, arma usada por bandidos que chegam de bicicleta, moto e até carro, são recorrentes nas primeiras horas do dia

Antes de o sol nascer, muitos usuários do transporte público já aguardam por ônibus no Distrito Federal. Acostumados a enfrentar o transporte cheio, os passageiros são atormentados por outro problema: assaltos nas primeiras horas do dia. A morte a facadas do professor Hebert Silva Miguel, 26 anos, no último dia 7, em uma parada de ônibus, causou ainda mais tensão em quem não tem alternativa para se deslocar.

Metrópoles percorreu vários pontos em regiões administrativas da capital do país e conversou com quem espera por condução nas primeiras horas da manhã, assim como o docente, assassinado por volta das 6h. Segundo os usuários, o problema da insegurança é crônico. Pontuam ainda sobre a falta de estrutura.

Quem necessita sair de casa cedo para não perder o coletivo precisa conviver com o medo. Na QR 203 de Santa Maria, o horário crítico é entre 5h e 7h. De acordo com a doméstica Conceição de Lima, 60, assaltantes armados passam de bicicleta e levam os pertences de quem aguarda o trasporte público. “Eles aproveitam que a claridade é pouca e o comércio está fechado”, relata.

 
 

A camareira Cristina Silva, 44 , é amiga de Conceição e ambas sempre vão juntas para o ponto de ônibus, por volta das 5h30. “A gente fica atenta. Eu mesma evito utilizar o celular e fico observando a movimentação”, diz.

Marido de Cristina, Domingos Martins, 43, faz questão de acompanhar as duas, mesmo não trabalhando cedo. “A gente sabe que não consegue empatar com os criminosos, mas é uma tentativa de inibir”, pondera. Mesmo assim, ele ressalta que há situações em que o melhor mesmo é correr. “Se vir um cara chegando de bicicleta, já pode ficar ligeiro”, avisa.

 
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Sol Nascente

No Sol Nascente, em frente à Unidade Básica de Saúde (UBS) 16, o modus operandi dos marginais é mais refinado. De acordo com o funcionário público Roberto Laroqui, 32, é comum, por volta das 5h, vários bandidos dentro de veículos descerem dois quilômetros pelo balão da Avenida Hélio Prates, saindo da Feira do Produtor e ultrapassando o posto de saúde, para assaltar trabalhadores. “Eles passam pegando todo mundo, fazendo arrastão. Sai um do carro e vai tomando bolsa, mochila, marmita. É a mesma coisa sempre”, lamenta.

 
 

Ele próprio já foi assaltado três vezes no mesmo local – a última, em janeiro. O servidor público afirma não ter opção: “Aqui é o único lugar onde posso pegar meu ônibus; não tenho para onde correr”, resigna-se.

Mesmo sendo alvo recorrente de criminosos, a rua raramente tem a visita de viatura policial, reclama Roberto. Conforme conta, só é vista alguma movimentação das forças de segurança depois que o arrastão acontece. “Só fazem uma figuração, para dizer que vieram. É aquela maquiagem”, salienta.

A insegurança faz com que Ana Teodoro de Morais, 48, dona de um carrinho de doces e salgados atrás do ponto de ônibus, chegue ao local apenas depois de amanhecer. “Prefiro ganhar um pouco a menos a correr o risco”, explica.

 

Segundo a trabalhadora, além das paradas, as lojas ao redor também estão na mira dos bandidos. “Tinha um restaurante bem aqui em frente. Foi assaltado duas vezes e fechou. A dona não aguentou”, relata.

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Os moradores de Samambaia passam pelo mesmo problema. Na QN 410, um beco localizado logo atrás de um ponto de ônibus serve para dar fuga aos bandidos – que já são até conhecidos dos usuários. “Eles param a moto ou o carro ali atrás, descem aqui e depois saem correndo”, diz a vendedora Maria do Socorro, 44.

O medo fez com que ela passasse a aguardar o transporte público na rua de cima, mais movimentada. “Aqui fica bem escuro e não tem policiamento. Tinha um posto policial perto, mas acabou fechando”, lamenta.

 
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Abrigo físico não existe na Quadra 1 do Setor Leste da Cidade Estrutural. A falta de estrutura torna ainda mais complicada a vida dos usuários. “Quando o comércio está fechado, aqui é muito perigoso”, alerta a operadora de loja Tamara Lopes, 20.