O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que desconhece qualquer hospital no Brasil que esteja lotado por conta do coronavírus, e que a epidemia “não é tudo isso que estão pintando”, mais uma vez minimizando o avanço da doença que já deixou quase 300 mortos no país.
"O vírus é uma coisa que 60% ou 70% vai ter. Não vai fugir disso. A tentativa é de atrasar a infecção para os hospitais poderem atender. Eu desconheço qualquer hospital que esteja lotado. Desconheço. Muito pelo contrário", disse Bolsonaro a pastores que o esperavam em frente ao Palácio da Alvorada.
O presidente citou um hospital do Rio de Janeiro, o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, que afirmou ter 200 leitos e apenas 12 ocupados até agora.
"Então, não é isso tudo que estão pintando, até porque, no Brasil, a temperatura é diferente, tem muita coisa diferente aqui", afirmou.
Defensor do isolamento social ao contrário do presidente, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que a declaração de Bolsonaro sobre os hospitais é um reconhecimento de que "as medidas estão conseguindo evitar uma espiral de casos" e a superlotação dos leitos.
"O presidente está constatando uma coisa muito boa, que nós estamos conseguindo evitar que eles (hospitais) estejam superlotados", afirmou. "A gente espera que eles fiquem assim durante todo o período".
"MEDINHO?"
Apesar de ter mostrado um tom mais moderado e proposto um pacto entre Poderes e com os governadores em pronunciamento na terça-feira, Bolsonaro voltou a atacar não apenas os governadores, mas também outras autoridades que teriam criticado sua postura.
O presidente tem se manifestado contrário às medidas de isolamento social recomendadas pelas autoridades de saúde e decretadas em diversos Estados para combater o coronavírus, afirmando que os impactos econômicos são piores do que a própria doença.
"Duvido que um cara desses, um governador desses, um Doria da vida (João Doria, governador de São Paulo), um Moisés (Carlos Moisés, governador de Santa Catarina), vai no meio do povo. Não vai. Algumas outras autoridades que me criticam, vai lá conversar com o povo. A justificativa é 'não vou porque posso pegar...'. Tá com medinho de pegar vírus? Tá de brincadeira", ironizou.
Bolsonaro reclamou que o governador de Santa Catarina, que é do PSL, partido pelo qual Bolsonaro foi eleito mas com o qual rompeu posteriormente, ganhou a eleição por sua causa, e que agora é um dos governadores que insistem em medidas de isolamento social.
"Tem uma ponte que foi destruída, que é a roda da economia, que é o desemprego proporcionado por alguns governadores. Deixar bem claro: alguns governadores. Porque daqui a pouco vai a imprensa falar que eu estou atacando governador. Em especial de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina. Se eu não me engano, Rio Grande do Sul também prorrogou por mais 30 dias", reclamou.
Bolsonaro repetiu ainda que sua posição é de que não se pode parar de trabalhar, contrariando mais uma vez as orientações que o Ministério da Saúde tem dado, de que se mantenha o isolamento social. Segundo ele, depois da epidemia virá uma "segunda onda terrível", que é o desemprego.
"Temos que convencer governadores a não ser tão radicais", disse.
Segundo Bolsonaro, os governadores estão cobrando ajuda financeira do governo federal para compensar a queda da arrecadação do ICMS, ocorrida porque comércio e empresas estão fechadas devido à epidemia.
"É aquela história: o corpo está doente, vamos dar o remédio. Se der três ou quatro doses a mais, é veneno. É o que o governador fez em São Paulo: um veneno", disse, afirmando que com a falta de ICMS São Paulo teria dificuldades para pagar a folha de servidores.
"Ele quer agora vir para cima de mim. Ele tem que ter uma fórmula agora de começar a desfazer o que ele fez de excesso há pouco tempo. Não vai cair no meu colo essa responsabilidade. Desde o começo eu estou apanhando dele e mais alguns exatamente por falar isso", afirmou.