Com o ‘governo de ocupação’ metido em sua maior crise, a mídia e os partidos insistem em respeitar uma institucionalidade inexistente. A mídia, monotemática, está se deliciando com a saída de Moro. Quem traiu quem? O ex-superministro que saiu diz que foi o capitão do governo e este diz que foi o seu ex-ministro. Quem? Não importa. Ambos são traidores: traidores de Pátria, deveriam estar presos.
Impressionante com que naturalidade ambos falam de suas próprias mazelas. Quem cometeu mais crimes? Essa deveria ser a pergunta a dominar a mídia. Mesmo sem considerar os crimes que vêm sendo cometidos desde muito antes, como veremos, só o que se depreende dos discursos dos dois protagonistas já é o suficiente pra botar esse governo abaixo.
Com a demissão do ex-superministro da Justiça, a mídia entrou no modo de badalação. O herói da vez. Páginas e páginas, entrevistas e louvações como se ele fosse “o cara”. Partidos desnorteados correm atrás para que seja candidato a presidente em 2022.
É uma repetição do que fizeram com o ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa, que usou a esdrúxula “teoria do domínio do fato” para condenar, sem apresentação de provas, réus inocentes.
Até no exterior os jornais já sabem que Moro é a carta dos Estados Unidos. Mas, como parece que aqui ninguém lê, tanto faz quem seja, desde que não seja Lula.
O que está em jogo é o País, a Nação. Como diz o jornalista e novelista Inácio de Loyola Brandão, “haverá país nenhum” para seus filhos e netos. Por amor à fortuna que seus antepassados escravagistas acumularam, se agarram na mentira histórica que construíram, sem perceber que o nazismo não perdoa nada.
Ratos abandonam barco
Não dá mais para esconder o desgoverno, melhor dizendo, o descalabro que se apossou do Planalto. Em quatorze meses de governo já foram defenestrados sete ministro, oito se contarmos que Paulo Guedes já está no banco de espera. Nove, se considerarmos que o novo ministro da Saúde está lá só pra decorar, esquentar a cadeira, já que quem manda é o general.
Como confiar num governo desse? E há ainda gente que acredita que se deve respeitar a institucionalidade, esperar as eleições de 2022. Doce ilusão de quem fecha os olhos para não ver a realidade.
O jornal O Estado de S. Paulo, em editorial com chamada na capa, diz que o governo Bolsonaro está sob o signo de Tânatos, o deus da morte da mitologia grega e prega que “é preciso interromper essa escalada antes que Bolsonaro destrua, por fim, o próprio País”.
O editorial também se refere à manutenção, pelo governo, de “nichos néscios que se dedicam a procurar comunistas debaixo da cama”.
É, estão com medo. Perceberam que eles poderão ser acusados de comunistas amanhã por não concordarem com atos do governo. Esquecem que o governo não é Bolsonaro, que quem de fato governa é uma junta militar, assim, o impeachment não vai resolver coisa alguma.
O ódio à esquerda, que é um ódio de classe, impede os patriarcas de uma oligarquia fracassada de admitir que pactuaram com o golpe. Um golpe jurídico-parlamentar que derrubou uma presidente eleita com apoio da judicialização da política, por meio de processos ilegais contra próceres políticos e empresariais e, por fim, com uma com a farsa que culminou levando uma junta militar ao governo.
É duro admitir isso. Mas é preciso entender que “se não interromper essa escalada” não será Bolsonaro que vai destruir, por fim, o próprio país. Quem o fará será a Junta Militar e, com a destruição do país, não haverá mais oligarquia nem jornalões para protestar.
Falta vida inteligente
A crise que era dupla — econômica e sanitária — agora é tripla com a crise política. Com a ingovernabilidade escancarada, Jair chama o pior do Congresso para entregar cargos. Futuro? Mais incompetência. São 32 partidos com a goela aberta, sedentos de prebendas.
O governo de ocupação perdeu completamente a credibilidade. Em 16 meses de gestão, tramitaram na Câmara Federal 31 pedidos de impeachment.
Enquanto se discute quem é que manda na economia, uma questão subjetiva, ninguém discute a questão objetiva: o que fazer na economia. A falta de vida inteligente no Planalto já é percebida mundialmente. O Brasil está sendo ridicularizado.
Qual é o plano de saída da crise: o de Paulo Guedes, discípulo do ditador Augusto Pinochet? ou o do general Braga Neto, a serviço do Comando Sul dos Estados Unidos?
Talvez pretendendo recuperar o prestígio, no dia 22 de abril o ministro da Casa Civil, general Walter Braga Neto, lançou um plano para recuperação da economia. (veja a pretensão, qualificando de Plano Marshal). Chamado de Pró Brasil e coordenado pelo militar prevê um incremento de R$ 300 bilhões – R$ 250 bilhões em concessões e parcerias público-privadas e outros R$ 50 bilhões de investimento públicos.
Interessante é que ninguém da área econômica participou da elaboração do plano e sequer foi consultado. A surpresa abalou a credibilidade do super ministro da Economia. Na voz do povo, está no banco de espera para ser defenestrado. Ou, ficará pra inglês ver, e enganar os investidores como se aqui nada tivesse ocorrido.
Guedes tem o descaro de continuar afirmando que a recuperação da economia tem que ser feita pela iniciativa privada. Nós perguntamos, onde está a iniciativa privada?
A arrecadação caiu 3,3% em março em relação com março de 2019. O dólar disparou, chegando a ser cotado a R$ 6 e finalmente fechou em R$ 5,66, ligeira baixa. Tentando conter a saída de divisas, o BC queima reservas. Na semana passada, quando o dólar tinha subido 41,12% no quadrimestre, o BC jogou no mercado US$ 7 bilhões. Quem lucra com isso?
Na área do Guedes, a Caixa pede R$ 25 bilhões para poder liberar os R$ 600 que pouca gente viu.
A tríplice crise -política-sanitária-econômica, realmente preocupa, dado a absoluta incompetência que reina no Palácio, agravada agora com capitães do mato tomando conta da Justiça e da Polícia Federal.
Será que será preciso que cheguem ao inferno para que as elites e os partidos se deem conta de que é preciso liquidar com o governo de ocupação, colocar o governo nas mãos de um Comitê de Salvação Nacional, integrado por gente inteligente, para gerir a tríplice crise e, superada, chamar eleições gerais, livres e sem presos políticos?