Para conter os impactos imediatos da maior crise hídrica da história, o governo do Distrito Federal lançou mão de uma “operação de guerra”: além do racionamento e do combate aos vazamentos na rede, pretende instalar em tempo recorde uma tecnologia de última geração para tirar água do Lago Paranoá.
O modelo, no entanto, tem custo alto e depende quase exclusivamente de energia elétrica para captar e distribuir o recurso – o que deixa o litro de água pelo menos três vezes mais caro. Apesar de provisório, o projeto tem custo inicial de R$ 55,5 milhões (vindos da União) para sair do papel, e o governo já se prepara para completar o valor com recursos próprios.
O valor cobrado pela Caesb – a companhia de água e esgoto da cidade – varia de acordo com o gasto e o tipo de imóvel. Mil litros de água podem custar, por exemplo, de R$ 2,14 a R$ 13,25, dependendo da quantidade que cada residência gasta. Os preços operados para prédios públicos, indústria e irrigação são diferentes.
A Caesb informou que, mesmo com os custos mais altos da captação emergencial, o preço para o consumidor não deve mudar. O presidente da empresa, Maurício Luduvice, reconheceu, no entanto, que o módulo não é viável a longo prazo e precisará ser desmontado com o fim da crise hídrica.
"O sistema vai precisar ser desativado no futuro. Mas a gente reaproveita tudo. As bombas de captação devem ficar num depósito de contingência para usá-las quando necessário. A tubulação a gente também aproveita. A parte mais cara, que filtra a água, a gente pode levar para melhorar o tratamento em outro lugar."
Tarifas de água adotadas pela Caesb até 31 de maio de 2017 em residências comuns; um metro cúbico equivale a 1 mil litros de água. (Foto: Reprodução)
A verba inicial, de R$ 55 milhões, virá dos cofres do governo federal – a liberação foi confirmada pelo presidente Michel Temer na última quarta (15). Segundo ele, qualquer custo acima do orçado deverá ser pago pelo próprio GDF.
O módulo deverá ser construído no Setor de Mansões do Lago Norte, no braço do Ribeirão do Torto. A mini-estação consiste em um sistema de motores-bomba que vão ficar em balsas no leito do lago. Serão quatro, no total, com capacidade para captar 700 litros por segundo – metade do que atualmente é consumido pelo Plano Piloto.
O circuito, que funciona com energia elétrica, vai puxar a água do Paranoá e transportá-la para uma estação móvel de tratamento, composta por membranas de moléculas grandes e com elevada capacidade de filtragem. Essas membranas, instaladas em cointêineres, vão ficar perto da margem do lago.
Depois de tratado, a água será bombeada para a rede que abastece o DF. O volume captado irá abastecer Lago Norte, Varjão, Paranoá, Itapoã, Taquari e Sobradinho 2 e desafogar o reservatório de Santa Maria. Um sistema de bombas também será instalado para interligar o tanque ao do Descoberto, o mais atingido pela crise hídrica.
O modelo foi o mesmo adotado por São Paulo durante a crise hídrica de 2014-15. A gerente do departamento de tratamento de água da Sabesp – a companhia paulista de distribuição de água –, Cláudia Mota, acompanhou a instalação dos dois módulos usados pela empresa na época. Para ela, o modelo tem prós e contras.
“O custo da implementação da membrana é mais caro do que o do sistema tradicional. Por ser nova, a manutenção dessa tecnologia ainda é muito cara, fora os gastos com eletricidade. Mas, a vantagem está no tempo de resposta."
Como foi autorizada em um esquema emergencial, a obra no Lago Paranoá tem prazo de seis meses para ficar pronta. Durante a crise hídrica em São Paulo, a Sabesp instalou dois módulos semelhantes. O primeiro levou quatro meses para começar a funcionar e o segundo, seis.
Já um reservatório permanente pode levar muito mais tempo para ficar pronto. O projeto que o GDF quer construir no próprio lago tem previsão de ficar pronto em quatro anos. Até agora, as obras sequer começaram: elas dependem de verbas do governo federal, que foram contingenciadas por causa da crise econômica no país.
Para o especialista em recursos hídricos Henrique Leite Chaves, da Universidade de Brasília (UnB), o custo alto compensa diante da gravidade do problema. “É a única alternativa. Mais caro seria ficar sem água. O sistema pode significar ter ou não ter água nos reservatórios no fim do ano”, disse.