A divulgação do 35º óbito em decorrência do novo coronavírus no Distrito Federal, na tarde da última quarta-feira (07/05), surpreendeu os familiares do aposentado João Lima da Silva, 68 anos. “Meu pai fez o teste e deu negativo. Estive ao lado dele até o último minuto e em nenhum momento ele foi tratado como paciente de Covid-19”, afirma a filha, Thais Vieira da Silva, 42 anos.
A família cobra exames que comprovem o diagnóstico do novo coronavírus. “Ele não foi isolado, não teve febre e o único teste que fez deu negativo. No primeiro atestado de óbito que nos entregaram não havia nada relacionado ao coronavírus. Mas, quando fomos buscar o corpo, nos entregaram outro documento, no qual a Covid-19 aparecia como causa da morte”, explica Thais.
“Meu pai se transformou em um número para estatísticas. Mas ninguém nos informou o que realmente aconteceu com ele. É muito doloroso. Ele era uma pessoa muito querida, muito amada. Não foi possível nem mesmo nos despedirmos dele”, protestou Thais.
“Queremos que tratem com respeito nosso tio. Nós perdemos uma pessoa muito especial. Se foi Covid-19, que mostrem os exames e esclareçam tudo à família”, pediu o sobrinho Arthur Maykon, 30 anos.
Confira os dois atestados de óbito entregues à família
No último dia 22 de abril, João deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante com sintomas de pneumonia, de acordo com os familiares. “Ele passou mal em casa e chamamos o Corpo de Bombeiros. Ele não tinha nenhum sintoma de coronavírus”, relatou a filha.
Thais conta que o pai foi transferido para a UPA de Samambaia um dia depois. “Nos falaram que só os pacientes de coronavírus ficariam no Núcleo Bandeirante e, justamente por isso, ele foi levado para a UPA de Samambaia. O diagnóstico dele, de acordo com os médicos que o atenderam, era de pneumonia e anemia.”
Os familiares contam ainda que João não foi isolado, permaneceu internado ao lado de pacientes com outras doenças e continuou recebendo visitas até o dia do falecimento.
Os parentes questionam também a informação de que João estava sendo tratado de um câncer na língua. “Meu pai realmente teve câncer, mas estava curado desde 2018”, afirma Thais.
João foi sepultado na última quarta-feira (06/05) no Cemitério Campo da Esperança na Asa Sul.
O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), que administra as UPAs, informou que o paciente deu entrada na unidade de Samambaia e fez diversos exames, entre eles o rápido para a Covid-19, que deu negativo, e uma tomografia, que não sugeriu a doença. No dia 4 de maio, a equipe resolveu fazer o teste laboratorial para o coronavírus, que leva mais tempo. Nesse meio tempo, João Lima morreu à 0h15 do dia 6. Duas horas depois, o resultado chegou e era positivo.
“Devido ao óbito ter sido declarado antes de o resultado ficar pronto, a causa morte englobou as doenças já citadas e insuficiência respiratória. Porém, após a chegada do exame com a confirmação de Covid-19, a declaração foi devidamente alterada e foi disponibilizada a cópia do exame para a família, que foi informada e acolhida, inclusive filhos e netos foram submetidos a teste rápido, que deu resultado negativo, e também foi realizado a celta para exame laboratorial (PCR), que aguarda resultado”, diz nota enviada à reportagem.