No Distrito Federal, enquanto os crimes de patrimônio como furtos e roubos tiveram uma redução de 35,59%, houve um aumento de 13,8% em pedidos para medidas protetivas contra agressores por parte de vítimas mulheres. Pesquisadores alertam, entretanto, que as taxas de criminalidade que caíram devem se agravar por conta dos efeitos econômicos provocados pela pandemia do coronavírus.
Segundo Caroline Vilar, pesquisadora e coordenadora-nacional do coletivo feminista Juntas, a pandemia pode resultar no aumento da violência externa e da violência doméstica. A pesquisadora explica que a vulnerabilidade da população em meio à crise traz à tona atitudes desesperadas “um contingente de pessoas está em situação de desespero e calamidade, inevitavelmente a situação atual condiciona o estado de debilidade emocional e os métodos que as pessoas buscam para sobreviver podem ser violentos”.
Estudos acerca das consequências que virão com a crise do Covid-19 confirmam que o período de recessão econômica pode acarretar o aumento na ocorrência dos crimes contra patrimônio como furtos e roubos. A Oxfam publicou um estudo que aponta que a crise econômica provocada pela pandemia poderá levar mais de 500 milhões para a pobreza, no Brasil, os desempregados podem chegar até 2,5 milhões brasileiros desempregados.
Para Caroline Vilar, os crimes contra patrimônio não estão ligados somente à alteração na rotina das pessoas, que agora se encontram em isolamento, mas a eliminação de grande parte dos subempregos. “Os saques acabam se tornando uma possibilidade até para quem não tinha isso em mente, mediante ao desespero”, explica. O sociólogo Antônio Flavio Testa ressalta que esses fatores também causam o aumento na violência doméstica. “A convivência forçada, a mudança de rotina e o desabastecimento do lar são fatores para que as taxas venham a aumentar”.
“Tivemos aumento na taxa da violência doméstica em outros países como China e França, e agora no Brasil, que vai se intensificar ainda mais já que muitas mulheres estão voltando para o lar, que muitas vezes já é um espaço opressivo, onde se tem que realizar dupla ou até tripla jornada de trabalho”, explica Caroline Vilar. No novo relatório da ONU, a organização ressalta o aumento da violência contra mulheres e meninas durante o período da pandemia e pede que nações tratem a crise como prioridade.
Para a vice-procuradora-geral de Justiça, Selma Sauerbronn, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), há uma uma tendência de aumento desse tipo de violência seja uma realidade levando-se em conta as desigualdades sociais na capital do país. Leia a entrevista na íntegra.
Em sua última declaração, Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora executiva da ONU Mulheres e vice-secretária geral das Nações Unidas acredita que existe um paradoxo entre cuidar da saúde da população através da quarentena e as dificuldades em manter proteger as vítimas da violência doméstica. “O confinamento está promovendo tensão e tem criado pressão pelas preocupações com segurança, saúde e dinheiro, e está aumentando o isolamento das mulheres com parceiros violentos, separando-as das pessoas e dos recursos que podem melhor ajudá-las.”
Caroline Vilar destaca que este é o momento em que é necessário destacar a necessidade de uma maior atuação parlamentar feminina, para que as medidas de proteção para mulheres estejam em pauta. “A deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), protocolou uma PL que solicita que o Estado providencie, em caso de falta de vaga em abrigos, hospedagem em pousadas e hotéis, mas infelizmente ainda não foi a votação o que mostra que nossos parlamentares homens têm outras prioridades”.
Em abril, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus falou durante coletiva que os países devem considerar o combate a violência doméstica como serviço essencial “os serviços devem continuar funcionando durante a resposta à Covid-19”.
A pesquisadora Caroline Vilar ainda alerta que esse é um período duro e com resultados imprevisíveis. “Logo quando o país tentava se estruturar após a crise de 2008, chega 2020, com uma epidemia que quebra a economia e enfraquece mais ainda a classe trabalhadora. A população definitivamente terá de mudar seu modo de vida e talvez as consequências disso sejam um aumento na criminalidade nunca visto antes”.