O cidadão de bem paga impostos e não se vê contemplado no momento de requerer direitos, como o atendimento à saúde e o acesso à educação de qualidade. Persegue o emprego, vencendo o desânimo crescente, aciona a Justiça, joga suas reclamações no Facebook e torce para que, em algum momento, tenha algum retorno positivo. A vida de um brasileiro — contribuinte, trabalhador, consumidor e eleitor — é, em alguma medida, uma provação. E não tenho sombra de dúvida de que só existe um motivo para que seja assim: a corrupção. Histórica, monumental e enraizada. Haverá saída?
Na semana que passou, foram tantas as notícias estarrecedoras que, confesso, até esta jornalista acostumada ao embate diário com a excrescência cansou. O mais otimista diria que esse é o caminho da depuração. Saindo tudo das entranhas, o país entra nos eixos, ganha a chance de se reinventar. Não sei. Mas torço para que seja assim. Difícil remar no lamaçal. De certa forma, estamos ilhados, circundados por políticos que roubam, saqueiam, fazem chantagens, fabricam dossiês e denigrem a imagem do Brasil. Fazem de palácios e prédios públicos um abrigo blindado contra qualquer punição célere. O tamanho da lista de Janot, decorrente das delações da Lava-Jato, dá mostras do quanto temos sido ludibriados e roubados.
Na esfera local, é uma acusação atrás da outra; um conchavo puxando outro. Temos nossas obras suspeitas e os políticos locais citados na Lava-Jato. Teremos, na terça-feira, a análise, pelo Conselho Especial do Tribunal de Justiça do DF e Territórios, da denúncia decorrente da Operação Drácon. Distritais envolvidos em possíveis pagamentos de propina podem virar réus. É mais um capítulo triste na história de Brasília, que sofre de forma desmedida desde a conquista de sua autonomia política.
Para completar, na última sexta-feira, fomos surpreendidos com a operação da Polícia Federal intitulada Carne Fraca, a maior da história, que desvendou um esquema absurdo de pagamento de propina a fiscais agropecuários federais para liberar carne adulterada, entre outros problemas, beneficiando empresários do agronegócio e partidos políticos. Simplesmente inacreditável ver as maiores indústrias do ramo envolvidas num esquema dessa magnitude. Em quem ou no quê podemos confiar? Precisamos, sim, valorizar as polícias, o Ministério Público, a Justiça brasileira e a imprensa. Juntas, essas instituições são as únicas que podem ajudar a vencer o descrédito do brasileiro. Só com punição, voltaremos a confiar num futuro mais promissor.