Foram vários os recados para o ex-juiz da Lava Jato – diretos e indiretos -, as pressões, as cobranças e, por que não dizer, os pitos dados pelo presidente. Bolsonaro fugiu totalmente do tema mais urgente do momento, a pandemia do coronavírus, para centrar fogo no ministro e na Polícia Federal.
No momento que foi talvez o mais tenso da reunião, Bolsonaro deixou claro que demitiria Moro se a Polícia Federal do Rio de Janeiro não fosse enquadrada:
“Mas é a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui. E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui pra brincadeira”.
Outro trecho do vídeo mostra o presidente enciumado com ministros elogiados pelos meios de comunicação, citando a Folha de S.Paulo, o Globo e o Antagonista, site alinhado com Moro desde os tempos de Lava Jato:
“Quem não aceitar a minha, as minhas bandeiras, Damares: família, Deus, Brasil, armamento, liberdade de expressão, livre mercado. Quem não aceitar isso, está no governo errado. Exerça o teu papel. Se exponha. Aqui eu já falei: perde o ministério quem for elogiado pela Folha ou pelo Globo. Pelo Antagonista, né? Então tem certos blogs aí que só têm notícia boa de ministro. Eu não sei como. O presidente leva porrada, mas o ministro é elogiado”.
O presidente demonstrou seu incômodo com a Superintendência da PF no Rio de Janeiro ao dizer que não recebia informações da corporação:
“Eu não vou esperar o barco começar a afundar pra tirar água. A pessoa tem que entender. Se não quer entender, paciência, pô. E eu tenho o poder e vou interferir em todos os ministérios, sem exceção. Nos bancos eu falo com o Paulo Guedes, se tiver que interferir. Nunca tive problema com ele, zero problema com Paulo Guedes. Agora os demais, vou. Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações”.
Em outra fala do presidente, ele reclamou de ministros que não se expõem, não vestem a camisa do governo, num claro recado a Sergio Moro, que não foi a público defender bandeiras como o fim do isolamento social e dos decretos estaduais e municipais com este fim:
“Tem que se preocupar com a questão política, e a quem de direito, tira a cabeça da toca, porra. Não é só ficar dentro da toca o tempo todo não. ‘Tô bem, eu tô cuidando da minha imagem, a imagem tá aqui, eu sou bonitinho, e o resto que se exploda’. Não. Tem que fazer a sua parte. Tem que a Justiça se posicionar sobre isso, porra. Não admitimos prisão por parte de prefeitos, e o decreto. Tem que falar, não é ficar quieto”.
“A verdade foi dita, exposta em vídeo, mensagens, depoimentos e comprovada com fatos posteriores”, tuitou o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro após a divulgação do vídeo da reunião ministerial.
Segundo Moro, não só as mensagens e o vídeo (leia aqui a íntegra) comprovam suas acusações, como também a demissão do diretor-geral da PF e a troca da superintendência do Rio de Janeiro. “Quanto a outros temas exibidos no vídeo, cada um pode fazer a sua avaliação”, escreveu.
As investigações prosseguirão com oitivas de novos personagens, entre eles Bolsonaro. Como presidente da República, tem a prerrogativa de enviar as respostas a questinamentos do inquérito por escrito.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, dará a palavra final se apresentará ou não uma denúncia contra o presidente.