23/05/2020 às 07h24min - Atualizada em 23/05/2020 às 07h24min

Cerca e ataca: como o grupo que matou estudante atua na Rodoviária do Plano

Integrantes de associação criminosa são investigados pela Polícia Civil. Parte do bando foi preso pelo assassinato de Mateus Ribeiro

Estruturados, ágeis e violentos, integrantes de um grupo criminoso se escondem nos corredores e pontos escuros da Rodoviária do Plano Piloto para cercar, agredir e roubar trabalhadores que passam pelo terminal. O bando, alvo de investigações da Polícia Civil, aproveita o fluxo de pessoas para furtar, roubar e até matar quem se recusa a entregar celulares, bolsas e carteiras.
 

A última vítima fatal foi o universitário Márcio Ribeiro Rocha Júnior, 28 anos. Ele foi esfaqueado na madrugada de 7 de março, após ser cercado pelo bando.

Três suspeitos foram presos pelo assassinato de Márcio, mas parte da quadrilha permanece atacando, principalmente durante as madrugadas, quando trabalhadores, quase sempre sozinhos, aguardam o transporte coletivo nos terminais desertos da rodoviária. O Metrópoles teve acesso exclusivo a vídeos que mostram, em detalhes, como funciona a estratégia dos assaltantes no momento de atrair, cercar e atacar os alvos.

Na registradas imagens na madrugada da morte do universitário, um dos criminosos coloca uma faca na cintura que, momentos antes, havia sido entregue a ele por um morador de rua. Em seguida, o bando mergulha noite adentro buscando por uma vítima em potencial. Márcio e a namorada acabaram sendo os escolhidos por ambos estarem com celulares nas mãos e terem deixado uma festa no Conic, às 4h.

 

Olheiros

Pelo menos seis suspeitos que integram a associação criminosa atuam juntos em cada ataque contra as vítimas. Entre as funções estabelecidas pelo grupo, existem os olheiros, responsáveis tanto pela escolha dos alvos quanto pela vigilância do perímetro onde ocorre o crime. Um dos objetivos é perceber a aproximação da polícia durante a prática do crime e alertar os comparsas caso seja necessário uma fuga rápida.

Nos minutos que antecedem a morte dos universitário, as imagens mostram a organização deles. “Geralmente alguns dos suspeitos ficam responsáveis por atrair e tirar a atenção da vítima, enquanto outros pegam celulares e bolsas sem que a pessoa perceba. No entanto, existem casos em que a violência é empregada, como ocorreu no caso do Márcio. Ele teve o celular tomado e tentou recuperar. Com isso, acabou esfaqueado”, explicou o delegado-chefe da 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), Gleyson Mascarenhas.

 

Em 14 de maio, a PCDF deflagou uma operação simultânea no DF e em Tocantins para desarticular parte da associação criminosa responsável pelo assassinato do universitário. Os policiais cumpriram três mandados de prisão preventiva e três de busca e apreensão, na Vila Planalto, Sobradinho e em Tocantins. No entanto, pelo menos outros três suspeitos estão foragidos praticando crimes na região.

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Seis mil facas

Dados da Secretaria de Segurança (SSP-DF) apontam que ocorreram 290 casos de roubos a transeuntes nos primeiros quatro meses deste ano, média de duas ocorrências por dia. No mesmo período do ano passado, 277 pessoas foram alvo de assaltantes. Já em todo o ano passado foram 824 roubos a transeunte e 686 furtos na Zona Central, que engloba a Rodoviária do Plano Piloto, o espaço correspondente ao antigo Terminal Touring, os Setores Hoteleiros e de Diversão Sul e Norte e a Torre de TV.

De acordo com a Polícia Militar, de janeiro a abril deste ano, foram realizadas 197 prisões em flagrante na mesma região. A corporação registrou 131 ocorrências nos primeiros quatro meses deste ano, contra 157, em 2019, na Zona Central. No que se refere à posse e porte de arma, no primeiro quadrimestre de 2020, não houve registro. Em igual período de 2019, foram três casos da natureza criminal na mesma região. Além disso, entre os anos 2018 e 2019, a PMDF apreendeu cerca de 6,5 mil facas na Rodoviária do Plano Piloto.

Segundo a corporação, o policiamento é feito de forma ininterrupta na região por meio do 6º Batalhão. “Diariamente, são realizadas operações na área central, que vão desde pontos de demonstração, quando viaturas ficam paradas em um determinado local nos horários e maior fluxo de pessoas, até operações com abordagens nos perímetros da antiga Rodoviária do Entorno e de Brasília”, ressaltou a PM.

 


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