Os episódios tiveram início ainda em abril, quando a instituição de ensino anunciou que um grupo da UnB iria se dedicar ao trabalho de pesquisa sobre a eficácia da droga. Os ataques foram realizados nas redes sociais e atingiram vários pesquisadores, incluindo de fora da universidade.
Um dos docentes alvo das agressões foi aprovado pelo Conselho Diretor da Fundação de Amparo a Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) para tocar o estudo sobre o medicamento, que tem provocado polêmica e contribuiu para a queda dois ministros do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Após os ataques virem à tona, a reitora da UnB, Márcia Abrahão Moura, se pronunciou sobre as agressões, que classificou como “lamentável” e “inaceitável”. “O professor [alvo de protestos] tem sólida carreira na UnB, tem quase uma centena de artigos científicos publicados e é membro titular do Conselho Consultivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa]”, reforçou.
A docente ressaltou a contribuição dos profissionais que gerem os estudos no combate à Covid-19. “A pandemia representa um dos maiores desafios de nosso tempo e só poderá ser superada com a ciência e a colaboração de todos”.
“É lamentável que cientistas brasileiros comprometidos com a busca de soluções para o grave problema que atravessamos estejam sendo alvo de tão deplorável prática, que, afinal, desacredita a ciência como um todo”, pontuou.
Em nota, Márcia afirmou que a UnB tem “compromisso com a ciência”. “É inaceitável que os pesquisadores estejam sofrendo ataques motivados por razões ideológicas e sem qualquer respaldo na realidade e em pesquisa científica. A UnB reitera seu compromisso com a defesa da ciência, da ética e do respeito ao próximo”.
Procurada, a Universidade de Brasília afirmou que os docentes não desejam se manifestar sobre os ataques sofridos, mas assegurou que mantém contato com o professor e tem prestado apoio ao educador.
Nessa quinta-feira (21/05), o Metrópoles mostrou que docentes da UnB tiveram projetos aprovados pelo Conselho Diretor da FAP-DF. As pesquisas custarão R$ 3,6 milhões e objetivam testar a eficácia do medicamento no combate à Covid-19.
A confirmação do patrocínio fará com que pesquisadores ligados à UnB passem a investigar cientificamente se a substância tem, de fato, alguma ação farmacológica segura na melhoria do quadro clínico de pacientes infetados pelo novo coronavírus.
Uma das pesquisas se propõe a realizar um “ensaio clínico multicêntrico, prospectivo, randomizado para avaliação do uso de hidroxicloroquina e azitromicina ou imunoglobulina em pacientes com insuficiência respiratória por Covid-19” em hospitais públicos credenciados.
Após a aprovação do patrocínio, os pesquisadores, agora, aguardam análises de consultores para verificação de relevância, pertinência e viabilidade de seus projetos.
“Apenas após essas etapas é que poderão ser contratados pelo poder público. Por essa razão, ainda não podemos informar datas específicas de início, tendo apenas prazos e valores estimados”, ponderou a UnB.
“O processo científico não pode ser refém de modismos e de opiniões que não sejam realmente calcadas em fatos comprovados por metodologias criteriosas”, frisou o presidente da FAP-DF, Alessandro Dantas.
“O que estamos fazendo é dar oportunidades a pesquisadores sérios para que cheguemos a um resultado, seja ele qual for”, assinalou o titular da fundação de apoio. “Os resultados sobre uma pesquisa também não podem ficar restritos a um pesquisador ou a um único enfoque, por isso temos direcionado o interesse em várias propostas que, juntas, nos trarão mais clareza sobre o tema.”