Segundo pesquisa do (M)Dados, o núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, a aplicação de testes rápidos na Papuda revelou o surto da doença entre os internos e inflou a estatística da doença no Distrito Federal.
Os índices gerais de contágio no DF estão dentro das previsões do Executivo distrital. Por outro lado, o coronavírus conseguiu se alastrar agressivamente no sistema penitenciário.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Policiais Penais do DF (Sindpen-DF), Paulo Rogério, quatro policiais estão em unidades de tratamento intensivo (UTIs).
“Felizmente as coisas estão se estabilizando. Agora, para cada 10 de nós que tombam contaminados, 10 voltam curados”, comentou. Para Rogério ainda não é o momento para a retomada das visitas aos internos.
“Vejo a volta das visitas como uma decisão temerária. Abrir os portões coloca em risco a massa carcerária e as famílias dos internos. O detento não é bobo, está acompanhando tudo e não quer que os familiares morram. A saudade é possível suportar”, pontuou. Para ele, a volta das visitas deve ser gradual, quando o surto estiver controlado.
De acordo com o presidente do Sindpen, faltam equipamentos de proteção individual (EPIs) para os policiais penais, principalmente o máscara do modelo face shield.
“Secretaria adquiriu máscaras a partir de emenda parlamentar. Compraram máscaras de pano. Não quero ser ingrato, mas não é o que precisamos. Não ouviram a categoria e tomaram a decisão ao arrepio dos policiais”, criticou.
“E falta um infectologista para orientar os policiais na utilização dos EPIs, explicando como colocar e retirar um capote, por exemplo”, destacou. A categoria aguarda o começo das operações do hotel de trânsito para os policiais.
No entanto, na avaliação de Rogério a situação do sistema prisional melhorou. “Hoje vemos uma solução no fim do túnel. No começa faltava tudo, até álcool em gel. Não existe culpado no meio desse inferno de pandemia. Todo mundo está se esforçando”, concluiu.
O Metrópoles entrevistou um dos policiais penais infectados pelo novo coronavírus. Felizmente, o profissional está curado, mas terá seu nome preservado por questão de segurança.
“Fiquei quase quatro semanas longe da minha família, sem ver a luz do dia”, contou. O momento do diagnóstico foi marcado por preocupação. “Receio de ter transmitido a doença para familiares, colegas de profissão e os internos”, disse o policial penal.
O sistema penitenciário está superlotado. A doença corre como rastro de pólvora e muitos infectados são assintomáticos. Silenciosamente, a Covid-19 pode tirar vidas, como no caso do policial penal Francisco Pires de Souza, 45 anos.
Para o policial, a decisão do governo de empregar os novos prédios do Centro de Detenção Provisória (CDP) para isolar pacientes com Covid-19 foi acertada, mas demorou para sair do papel. Ele também considera positiva a ideia do hospital de campanha na Papuda, mas reclama por ainda não ter sido concretizada.
“Quanto mais demora, mais a doença se alastra”, assinalou. Antes da cura, o policial viveu momentos de temor. “Quando tive falta de ar em casa, quando vi a notícia do colega que faleceu”, desabafou.
Do ponto de vista do policial, a sociedade ainda não está unida na busca de soluções para pandemia. “Até isso acontecer, precisamos confiar em Deus”, afirmou. Para ele, uma medida pertinente seria a implantação do plano de saúde dos servidores do DF.
O Metrópoles entrou em contato com o GDF para repercutir os casos de coronavírus no sistema prisional. As secretarias de Segurança Pública, Saúde e Turismo responderam em nota conjunta. De acordo com o comunicado, ainda não há data para o eventual retorno das visitas presenciais aos detentos. Até terça-feira, que foram aplicados 4,5 mil testes de Covid-19 no sistema penitenciaram, informaram as pastas.
“A Sesipe ressalta que 1,8 mil máscaras tipo face shield estão disponíveis aos servidores. Além desse tipo de máscara, mais 2,5 mil N95 estão em fase final de aquisição para uso dos servidores”, afirmou a nota.
Segundo o GDF, estão a disposição do sistema, a partir de doações, 145 litros de álcool em gel, 76.000 máscaras descartáveis, 16.050 toucas descartáveis, 107 óculos transparentes e protetores.
A Secretaria de Saúde informou que o sistema conta com médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, dentista, técnico de saúde bucal, assistente social, psicólogo e fisioterapeuta. A penitenciária feminina ainda tem ginecologista.
Mas não houve resposta à questão da necessidade ou não de infectologista. “Sobre o hotel de trânsito para policiais penais, a Secretaria de Turismo informa que as informações serão divulgadas após publicação no Diário Oficial do DF”, concluiu o texto encaminhado à reportagem.