De acordo com o médico endocrinologista Flávio Cadegiani, doutor em Endocrinologia Clínica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o quadro apresentado pelo titular do Palácio do Buriti não pode ser classificado como comum, já que as perfurações ocorrem, com mais frequência, no esôfago e estômago. No caso do emedebista, o procedimento foi realizado no intestino delgado, em torno de 2,6 metros depois do estômago.
“Em geral, os casos de perfuração do intestino ocorrem por corpos estranhos, deficiência de vitaminas, má-nutrição, doenças inflamatórias intestinais, consumo de bebidas etílicas e após cirurgias bariátricas, por exemplo”, explicou o especialista ao Metrópoles.
A equipe médica que atendeu o emedebista descartou relações com a bariátrica a qual Ibaneis Rocha foi submetido há alguns anos, e, ao operá-lo, encontrou um fragmento de cartilagem que causou a perfuração – o mais provável é que seja parte de um osso de carne animal.
Veja como foi o procedimento:
Flávio Cadegiani também citou outros fatores que podem fragilizar as paredes do sistema digestivo, como doenças inflamatórias intestinais, uso de corticoides e quimioterápicos. Há ainda registros de ocorrências em pacientes com histórico de cirurgia bariátrica em geral. “Esse quadro pode vir com a combinação de todas as razões já apontadas”, completou o especialista.
Ainda segundo o médico, “todos os fatores que podem impactar na motilidade gastrointestinal e na espessura da luz intestinal e dos músculos que circundam o intestino podem, em tese, influenciar no grau de facilidade da perfuração”, continuou.
De acordo com Cadegiani, quando em pior estágio, a intensidade do quadro pode levar a dores que se assemelham às contrações de um parto ou pedra nos rins. “É realmente um desconforto muito grande e a decisão do governador foi acertada em procurar orientação médica naquele momento. A equipe agiu rápido, no momento certo, para evitar que o quadro se agravasse”, disse.
Quando ocorre a perfuração no sistema gastrointestinal, alimentos, sucos digestivos e até conteúdo intestinal podem vazar para o abdômen e, por conterem bactérias, causam inflamação e até infecção graves e que normalmente são fatais se não forem tratadas a tempo.
Esse quadro clínico leva a pessoa aparentar estar debilitada, pálida, com frequência cardíaca acelerada, sudorese e o abdômen sensível e completamente rígido ao toque. No quadro clínico que envolve perfuração no intestino delgado, os sintomas podem ser menos drásticos e se confundirem com outros. “Em todos os tipos de perfuração, a pessoa pode ter náusea, vômito e perda de apetite, a depender do caso”, destacou.
Em entrevista à imprensa, o diretor do DF Star, Pedro Loretti, disse que os primeiros exames laboratoriais e de imagem não revelaram o que causava a dor em Ibaneis Rocha. Seis horas após a admissão do governador no hospital, foram repetidos os testes e realizada a tomografia de abdômen, que apontaram alterações evolutivas do quadro.
O cirurgião do aparelho digestivo Ronaldo Cuenca afirmou que a equipe médica decidiu fazer a cirurgia de urgência para diagnóstico e intervenção. “Se retardássemos ainda mais esse tratamento, poderíamos encontrar situação bem pior do que nós encontramos. A operação foi indicada no momento adequado”, salientou.
“Foi exatamente em um pedacinho do intestino onde nós poderíamos mexer com tranquilidade e com facilidade”, destacou. Não há, portanto, ligação com a cirurgia bariátrica pela qual Ibaneis passou anos atrás.
Segundo Cuenca, a perfuração foi causada por algum alimento ingerido pelo governador, possivelmente um osso de galinha ou espinho de peixe. “Parte desse osso era cartilaginoso. Os exames de imagem, às vezes, têm dificuldade maior para nos mostrar essa informação. Mas o problema que levou a isso tudo não tem algo diretamente relacionado à cirurgia bariátrica”, frisou o médico.
Foram realizadas seis pequenas incisões no abdômen do governador para diagnóstico e resolução do problema. “Isso transfere a ele uma recuperação mais rápida, menos dolorosa e com possibilidade de retomar as atividades o mais precoce possível”, frisou.
Ibaneis Rocha deve permanecer internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pelas próximas 48 horas. O governador passa bem, está consciente e respira sem ajuda de aparelhos, conforme informação da equipe médica nesta terça-feira (26/05). Ainda assim, os especialistas decidiram deixá-lo em observação pelos próximos dois dias na internação intensiva. O cirurgião do aparelho digestivo Ronaldo Cuenca afirmou que o pós-operatório é importante para acompanhar como o corpo reagirá depois do procedimento.
“O organismo reage de maneira a compensar o trauma provocado. Então, essa resposta que ele vai nos apresentar nas próximas 48 horas é importante. É por isso que ele provavelmente fique na terapia intensiva neste período, para que a gente possa estar atento a qualquer situação adversa”, pontuou Cuenca.
Já o médico intensivista Marcelo Maia frisou que não há previsão de alta para Ibaneis. “Vamos mantê-lo na terapia intensiva. Conforme a recuperação dele, nós vamos passar para vocês a previsão de alta. No início, inspira cuidado e vai ficar conosco na recuperação”, ressaltou.