Uma dessas milhares de pessoas é a fotógrafa Bárbara Cabral, 28 anos. Acostumada a cobrir eventos na capital, ela acabou perdendo o emprego nas primeiras semanas de pandemia, uma vez que a agência onde ela trabalhava acabou diminuindo o quadro de funcionários pelo fim da demanda. “Foi bem no começo de abril. Sem ter o que cobrir, acabaram dispensando muita gente”, lembra.
Desde então, Bárbara tem mandado currículos para outros lugares, mas não teve sorte. Sem opções, precisou deixar o imóvel onde residia e voltou a morar com os pais. “Consegui o auxílio emergencial e continuo procurando algo que eu possa fazer por trabalho remoto, uma vez que não quero colocar em risco a minha família”, explica.
Apesar de a taxa de desemprego ter aumentado de um mês para o outro, o número total se manteve em 333 mil. Isso se explica por causa das terminologias usadas pelo estudo. É considerada desempregada aquela pessoa que está sem trabalho, mas continua procurando uma oportunidade.
Há também os inativos, pessoas que estão sem emprego e, por qualquer razão, não procuram uma nova ocupação. Dentro dessa classificação, o aumento foi expressivo. Enquanto que em abril eram 876 mil moradores do DF em condições de trabalhar, mas que não buscaram recolocação, em maio esse número chegou a 919 mil.
“A pandemia fez com que houvesse uma mudança conjuntural no perfil da inatividade. São pessoas de todas as faixas etárias que perderam o emprego e não foram atrás de outro porque tudo estava fechado”, explica Adalgiza Amaral, coordenadora da pesquisa pelo Dieese
Um exemplo dessa mudança é que o número de inativos com experiência de trabalho nos últimos seis meses quase dobrou. Saiu de 8,8% do total em maio de 2019 para 16,6% em maio de 2020.
Segundo ela, a perspectiva para os próximos meses, a partir da reabertura de todas as atividades comerciais, não são melhores, uma vez mais pessoas se sentirão encorajadas a sair de casa e procurar uma ocupação. “Quando esses que estão inativos por causa da pandemia voltarem a buscam trabalho e o mercado não comportar a todos, o desemprego irá aumentar”, diz.
Análise parecida é feita pelo professor do curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário IESB, Luis Guilherme Alho. Ele dá o exemplo prático de um restaurante que vai abrir as portas a partir do dia 15 de julho. “Com o afastamento das mesas, haverá menos clientes e, por consequência, menor necessidade de funcionários, até por causa da menor arrecadação, que também será menor”, compara.
Na análise dele, será impossível voltar ao patamar de consumo de antes da pandemia tão cedo. Fatores como o medo e a falta de controle da pandemia são grandes influenciadores para esse fenômeno. “Com consumidores receosos de sair de casa, os próprios donos de estabelecimentos ficam receosos de investir demais. É algo ainda que pode ter reflexos até agosto ou setembro”, pontua.