17/07/2020 às 08h32min - Atualizada em 17/07/2020 às 08h32min

Novo titular do MEC nega que apoie “violência física na educação escolar”

Pastor e professor Milton Ribeiro tomou posse nesta quinta-feira em cerimônia fechada à imprensa. Bolsonaro participou por vídeo

O novo ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse nesta quinta-feira (16/7) que “jamais” falou em violência física na educação escolar. No discurso, ele não fez qualquer menção à esfera familiar.

A declaração foi feita durante a cerimônia de posse na pasta. O ato ocorreu no Palácio do Planalto e foi fechado à imprensa. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou por videoconferência, do Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência.

“Jamais falei em violência física na educação escolar e nunca defenderei tal prática, que faz parte de um passado que não queremos de volta. Entretanto, vale lembrar que, devido à implementação de políticas e filosofias educacionais equivocadas, em meu entendimento, que desconstruíram a autoridade do professor em sala de aula, agora existem, por muitas vezes, episódios de violência física de alguns maus alunos contra professores”, disse o ministro, pastor da Igreja Presbiteriana.

Ribeiro não citou explicitamente, mas a referência é a um vídeo de uma de suas pregações, no qual ele incentiva que os pais apliquem castigos físicos como forma de obter a “correção necessária para a cura”. “Talvez algumas mães até fiquem com raiva de mim, mas (a criança) deve sentir dor”, diz o pastor.

Ele ainda tenta antecipar possíveis críticas de que seu método seja considerado antipedagógico: “Eu amo as crianças da minha igreja”.

Ribeiro argumenta que a correção necessária para as crianças “não ocorrerá por meios justos e métodos suaves”. Esse tipo de método, em sua argumentação, só seria entendido por crianças mais desenvolvidas, ou mesmo superdotadas.

Milton foi nomeado para assumir o MEC na semana passada. Ele é o quarto ministro da pasta desde o início do governo Bolsonaro (relembre quem já comandou o ministério mais abaixo).

O novo ministro também defendeu um “grande diálogo” com “acadêmicos e educadores”.

“Queremos abrir um grande diálogo para ouvir acadêmicos e educadores que, como eu, estão entristecidos com o que vem acontecendo com a educação em nosso país, haja visto nossos referenciais e colocações no ranking do Pisa”, declarou Milton Ribeiro.

Ainda durante a cerimônia de posse, Milton Ribeiro, que é pastor, disse ter “compromisso” com o Estado laico.

“Conquanto tenha a formação religiosa, meu compromisso que assumo hoje está bem firmado e bem localizado em valores constitucionais da laicidade do Estado e do ensino público. Assim Deus me ajude”, concluiu.

Discurso de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro participou por videoconferência, do Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência. Ele está isolado após um novo teste apontar que ainda está com Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

Em seu discurso, Bolsonaro disse que Milton Ribeiro é um “ministro voltado para o diálogo” e que a transição dentro do MEC “será tranquila”.

“Os professores são praticamente os nossos segundos pais. Devemos respeito e reconhecimento por aquilo que nos ensinam e ficará para sempre em nossas vidas. Não é fácil a vida do professor nos dias atuais. Tentaram consertar, mas na verdade se equivocaram. Existe hoje em dia uma gama enorme de excelentes e excepcionais professores em todos os níveis no Brasil. E, com toda a certeza, com a chegada de um ministro voltado para o diálogo, usando a sua experiência e querendo o melhor para as crianças, esse entendimento se fará presente”, declarou.

“Você terá como, pontualmente, colocar gente ao teu lado com o mesmo espírito seu. Se bem que pode ter certeza de que grande parte do ministério pensa como você. E eles agora, na tua pessoa, terão como fazer valer o seu potencial, para que venhamos então a dar o melhor do seu ministério para o Brasil, fato esse que nos libertará”, acrescentou o presidente.

Quem é Milton Ribeiro

Novo ministro da Educação, Milton Ribeiro tem 62 anos e nasceu em Santos, no litoral de São Paulo. Ele é teólogo e advogado, além de ter doutorado em educação. Ribeiro é pastor da Igreja Presbiteriana.

Em maio de 2019, ele foi nomeado por Bolsonaro para a Comissão de Ética Pública da Presidência da República (CEP). O órgão tem como função investigar ministros e servidores do governo, caso cometam alguma irregularidade.

Milton Ribeiro também é membro do Conselho Deliberativo do Instituto Presbiteriano Mackenzie, mantenedora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, além de relator da Comissão de Assuntos Educacionais do Mackenzie.

Ele ainda integra a Administração Geral da Santa Casa dos Santos e já foi reitor em exercício e vice-reitor da Universidade Mackenzie, em São Paulo.

Ministros da Educação de Bolsonaro

O cargo de ministro da Educação estava desocupado após a demissão de Abraham Weintraub, que teve problemas com a Justiça ao chamar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de “vagabundos”. Ao anunciar a saída do governo, Weintraub disse que assumiria um cargo na diretoria do Banco Mundial, nos Estados Unidos.

Weintraub ficou 14 meses à frente do MEC e, assim como seu antecessor, Ricardo Vélez, colecionou uma série de polêmicas.

A gestão de Vélez frente ao MEC durou pouco mais de três meses. No período em que comandou a pasta, houve ao menos 14 trocas em cargos importantes no ministério, editais publicados com incongruências, e que depois foram anulados, além de frases polêmicas de Vélez, que levaram a críticas.

Para o lugar de Weintraub, o professor Carlos Alberto Decotelli foi nomeado. Apesar da nomeação ter saído no Diário Oficial da União (DOU), ele não chegou a tomar posse no cargo.

Decotelli ficou cinco dias no MEC e foi demitido após irregularidades em seu currículo. Com a rápida passagem pelo governo, o professor foi o ministro mais breve da história da Educação.

Após a saúde do professor, o presidente Jair Bolsonaro convidou o atual secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, para assumir o cargo de ministro da pasta. No entanto, após pressão e resistência da ala ideológica, Bolsonaro declinou do convite.


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