21/07/2020 às 07h45min - Atualizada em 21/07/2020 às 07h45min

PCDF investiga se houve manipulação do veneno de Naja para produzir drogas

A suspeita é que o veneno possa ter sido usado na mistura de alucinógenos e outros entorpecentes sintéticos

Mais do que o tráfico internacional de animais exóticos, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) apura a manipulação das cobras e a suposta extração do veneno para a produção de alucinógenos e drogas sintéticas. A investigação teve início após o o estudante Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkul, 22 anos, ser picado por uma serpente da espécie Naja kaouthia na capital do país.

O episódio desencadeou uma série de operações policiais e a apreensão de 16 cobras de variadas espécies. Algumas estão no topo do ranking das mais venenosas do mundo.

Existe a suspeita de que o veneno da Naja possa ter sido manipulado, de alguma forma, para produção e mistura de entorpecentes, sobretudo os sintéticos. A Delegacia de Combate à Ocupação Irregular do Solo e aos Crimes contra a Ordem Urbanística e o Meio Ambiente (Dema) tem, além dessa linha de investigação, outra que indicam tráfico internacional de animais exóticos.

A variedade de cobras e a forma como eram acondicionadas são indícios que facilitariam a manipulação dos animais.

De acordo com o delegado da Dema, Erison Abdala, a especializada tem como alvo principal identificar e mapear a rota de entrada das cobras no DF, principalmente em relação às espécies características dos países asiáticos. “Estamos apurando se essas cobras foram manipuladas e se o veneno delas foi extraído”, resumiu.

A reportagem tentou contato com a defesa do estudante, mas não obteve retorno do advogado. O espaço continua aberto para manifestações.

Outras frentes

A PCDF também conduz outra investigação, por meio da 14ª Delegacia de Polícia (Gama). A unidade apura crimes de maus-tratos e tráfico de animais. A mãe e o padrasto do estudante picado pela Naja prestaram depoimento na última quinta-feira (16/7). Eles chegaram à unidade policial às 12h14 e deixaram o prédio por volta das 16h20, sem falar com a imprensa.

Ambos foram ouvidos pelo delegado responsável pela investigação.

O padrasto do rapaz é integrante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), alvo da segunda fase da Operação SnakeO coronel Eduardo Condi é apontado pelos investigadores como um dos responsáveis por ajudar Pedro a ocultar provas em investigação sobre tráfico de animais, após o estudante ser picado pela Naja que criava em casa, no Guará.

A suspeita é de que Pedro faça parte de uma organização de tráfico de animais exóticos no Distrito Federal.

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Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) multou em R$ 61 mil o estudante. A mãe e o padrasto dele também foram penalizados, em R$ 8,5 mil cada.

Kambreck é suspeito de dificultar a ação dos fiscais, maus-tratos e manter animais nativos e exóticos sem autorização. A mãe, Rose Meire dos Santos Lehmkuhl, e o padrasto, Eduardo Condi, por sua vez, foram penalizados por terem dificultado a ação de resgate.

O oficial da PMDF foi visto saindo do prédio em que a família mora, no Guará, carregando as caixas com os animais. A movimentação foi flagrada logo após Pedro ter sido atacado pela cobra. Câmeras de segurança teriam filmado a ação.

Questionada sobre as imagens capturadas pelo condomínio no qual a família mora, a 14ª DP afirmou que só vai se manifestar após a conclusão das diligências.

Segundo o Ibama, também foram multados o proprietário da chácara onde 17 serpentes foram encontradas (no valor de R$ 68 mil) e Gabriel Ribeiro, amigo de Pedro, que teria ajudado a esconder as serpentes (em R$ 61 mil). Na segunda-feira da semana passada (13/7), peritos criminais da Seção de Engenharia Legal e Meio Ambiente da PCDF estiveram no Jardim Zoológico de Brasília para fazer uma análise nas cobras e serpentes que pertenciam a Pedro Henrique.

Alta

Pedro Henrique Krambeck foi picado pela Naja no dia 7 de julho. Chegou a ficar em coma, mas recebeu alta do Hospital Maria Auxiliadora, no Gama, na manhã do dia 13.

A família de Pedro importou dos Estados Unidos doses de soro antiofídico. A busca pelo antídoto — tão raro no Brasil quanto a presença desse tipo de serpente — mobilizou especialistas. As únicas doses disponíveis no país estavam no Instituto Butantan, em São Paulo, que enviou ao DF todo o estoque disponível para que fosse usado no tratamento do estudante.


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