23/07/2020 às 04h28min - Atualizada em 23/07/2020 às 04h28min

Elon Gomes de Almeida, o delator de Serra

A Qualicorp adquiriu a Aliança Administradora, de Elon Gomes, em 2017, dois anos após a Acrônimo. A aquisição também levou o empresário a deixar o cargo de diretor-presidente da companhia.

Elon Gomes de Almeida, empresário ligado à Qualicorp, revelou aos investigadores da Lava Jato detalhes do esquema que teria abastecido a campanha do tucano ao Senado em 2014, via caixa dois de pelo menos R$ 5 milhões; o mesmo delator já foi alvo da Operação Acrônico e confessou repasses para Fernando Pimentel, ex-governador petista de Minas

 

O ex-diretor-presidente de um dos braços do grupo Qualicorp, Elon Gomes de Almeida, delatou o suposto esquema de caixa dois que turbinou a campanha do senador José Serra (PSDB-SP) com repasses de R$ 5 milhões em notas de serviços dissimulados. As declarações do empresário serviram de base para a Operação Paralelo 23 , deflagrada na terça, 21, contra o tucano na Lava Jato Eleitoral.

 

O nome de Elon, contudo, não é estranho à Promotoria Eleitoral. Em 2018, o então presidente da Aliança Administradora, empresa majoritariamente controlada pela Qualicorp, foi denunciado pelo Ministério Público Federal por participar de esquema semelhante, mas com um ator diferente: falsidade ideológica eleitoral por repasses de R$ 2,6 milhões à campanha de Fernando Pimentel (PT) ao governo de Minas, também em 2014.

 

À época, Elon Gomes foi delatado por Benedito Rodrigues, o ‘Bené’, suposto operador do petista e colaborador da Acrônimo. Segundo Bené, o empresário teria feito os repasses por meio de notas fiscais fraudulentas, cobradas de empresas controladas por Elon: a Support Consultoria e a Gabe Administradora e Corretora de Seguros.

 

Encurralado, Elon confessou o crime em depoimento à Polícia Federal e teve a pena atenuada pela Procuradoria. Meses depois, o empresário procuraria o Ministério Público Eleitoral de São Paulo para delatar o esquema envolvendo os pagamentos ‘por fora’ a Serra.

 

O empresário apontou que o tucano recebeu R$ 5 milhões em 2014, ocultados por meio de simulação de diversos negócios jurídicos. Os repasses atendiam demanda de José Seripieri Filho, o Júnior da Qualicorp, que também foi citado na Acrônimo no caixa dois a Pimentel. Segundo Elon, o fundador da Qualicorp mascarou os pagamentos para Serra por meio de contrato de licença de software e serviços gráficos jamais prestados.

 

O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), denunciado na Operação Acrônimo. Foto: Dida Sampaio/Estadão

 

Além das acusações, Elon teria apresentado aos investigadores ‘contundente e robusto conjunto de elementos’, conforme anotou o juiz eleitoral Marco Antonio Martin Vargas, que autorizou buscas contra Serra. Os documentos incluiriam notas fiscais, contratos de serviço fictícios e extratos e comprovantes de transações financeiras envolvendo os investigados, incluindo Seripieri Filho, da Qualicorp – classificado pela Justiça como ‘mentor intelectual do esquema’ que beneficiou o tucano.

 

A Qualicorp adquiriu a Aliança Administradora, de Elon Gomes, em 2017, dois anos após a Acrônimo. A aquisição também levou o empresário a deixar o cargo de diretor-presidente da companhia.

 

 

Procurado pela reportagem, o senador José Serra lamentou o que chamou de ‘espetacularização’ da operação da PF e negou ter recebido caixa dois. “É ilegal, abusiva e acintosa a atuação dos órgãos de investigação no presente caso, ao tratar de fatos antigos, para gerar investigações sigilosas e desconhecidas do Senador e de sua Defesa e nas quais ele nunca teve a oportunidade de ser ouvido”, afirmaram os advogados Sepúlveda Pertence e Flávia Rahal, que defendem o tucano.

 

Em nota, a Qualicorp afirmou que adotará ‘as medidas necessárias para apuração completa dos fatos’. A defesa de José Seripieri Filho disse que os colaboradores não acusaram o empresário de ter feito caixa dois e que a decisão de fazer a doação dessa forma foi ‘de um dos colaboradores’. “Portanto, não há qualquer razão ou fato, ainda que se considere a delação como prova (o que os Tribunais já rechaçaram inúmeras vezes), que justifique medidas tão graves”, apontou o advogado Celso Vilardi.

 

COM A PALAVRA, O EMPRESÁRIO ELON GOMES

A reportagem busca contato com a defesa de Elon Gomes. O espaço está aberto a manifestação ([email protected])

 

COM A PALAVRA, JOSÉ SERRA

 

O senador José Serra foi surpreendido esta manhã com nova e abusiva operação de busca e apreensão em seus endereços, dois dos quais já haviam sido vasculhados há menos de 20 dias pela Polícia Federal. A decisão da Justiça Eleitoral é baseada em fatos antigos e em investigação até então desconhecida do senador e de sua defesa, na qual, ressalte-se, José Serra jamais foi ouvido.

 

José Serra lamenta a espetacularização que tem permeado ações deste tipo no país, reforça que jamais recebeu vantagens indevidas ao longo dos seus 40 anos de vida pública e sempre pautou sua carreira política na lisura e austeridade em relação aos gastos públicos. Importante reforçar que todas as contas de sua campanha, sempre a cargo do partido, foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.

 

Serra mantém sua confiança no Poder Judiciário e espera que esse caso seja esclarecido da melhor forma possível, para evitar que prosperem acusações falsas que atinjam sua honra.

 

COM A PALAVRA, A QUALICORP

 

“A nova administração da Companhia informa que adotará as medidas necessárias para apuração completa dos fatos narrados nas notícias divulgadas nesta manhã na imprensa, bem como colaborará com as autoridades públicas competentes”.

 

COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA CELSO VILARDI, QUE DEFENDE O FUNDADOR DA QUALICORP

 

Nota de Celso Vilardi, advogado de José Seripieri Filho:

 

É injustificável a decretação de prisão temporária de José Seripieri Filho. Os fatos investigados ocorreram em 2014, há seis anos portanto, não havendo qualquer motivo que justificasse uma medida tão extremada. Os colaboradores mencionados no Inquérito não acusam Seripieri de ter feito doações não contabilizadas. Relatam que ele fez um mero pedido de doação em favor de José Serra e que a decisão de fazer a doação, assim como a forma eleita, foi decisão de um dos colaboradores. Portanto, não há qualquer razão ou fato, ainda que se considere a delação como prova (o que os Tribunais já rechaçaram inúmeras vezes), que justifique medidas tão graves.

 

COM A PALAVRA, OS ADVOGADOS SEPÚLVEDA PERTENCE E FLAVIA RAHAL, QUE DEFENDEM SERRA

 

A defesa do senador José Serra registra sua absoluta estupefação diante da operação deflagrada pela Justiça Eleitoral na manhã de hoje. Nada justifica a realização de buscas e apreensões em endereços já invadidos pela mesma Polícia Federal há poucos dias e em clara violação à separação dos poderes. É ilegal, abusiva e acintosa a atuação dos órgãos de investigação no presente caso, ao tratar de fatos antigos, para gerar investigações sigilosas e desconhecidas do Senador e de sua Defesa e nas quais ele nunca teve a oportunidade de ser ouvido.

 

É lamentável a utilização de medidas midiáticas, em clara indicação do objetivo que as impulsionou, e em evidente violação do Estado de Direito.

 

Sepúlveda Pertence e Flávia Rahal

 

COM A PALAVRA, O PSDB

 

O PSDB de São Paulo reitera sua confiança no senador José Serra, pautada nos mais de 40 anos de uma vida pública conduzida de forma proba e correta. Mantemos nossa confiança no poder judiciário e no esclarecimento dos fatos.


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