Pelo menos três nomes do campo governista na Câmara já estão colocados para disputar a sucessão do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) na eleição que ocorrerá em fevereiro de 2021. Cada nome representa um dos três principais setores mais fiéis ao ao presidente Jair Bolsonaro na Câmara: o líder do chamado Centrão, deputado Arthur Lira (PP-AL); o bispo da Igreja Universal e vice-presidente da Casa, deputado Marcos Pereira (presidente nacional do Republicanos), além do deputado Capitão Augusto (PL-SP), expoente da chamada bancada da bala, que defende mais amplitude das regras de legalização das armas no país e se opõe aos limites do Estatuto do Desarmamento.
Confira quem são os candidatos governistas à presidência da Câmara:
Arthur Lira (PP-AL)
O alagoano Arthur Lira está entre os mais experimentados parlamentares no Congresso. Filho do ex-senador Benedito Lira, ele está em seu terceiro mandato e hoje tem em mãos o protagonismo da articulação política do governo com os deputados, apesar de não ser o líder de fato do governo. Ele é o principal nome do chamado Centrão, uma amontoado de partidos que não possuem uma orientação ideológica específica, mas normalmente transitam entre a direita e a centro-direita e cujo posicionamento em votações costuma depender do grau de participação em cargos e vantagens combinadas com o Poder Executivo.
Sua primeira vitória política se deu aos 23 anos, quando foi eleito vereador em Maceió, pelo PFL, partido que mais tarde se transformou no atual DEM. Na Câmara Municipal de Maceió, ele ficou por dois mandatos. Depois, Lira se elegeu deputado estadual, cumprindo três mandatos consecutivos na Assembleia Legislativa de Alagoas. A estreia na política nacional se deu em 2011, já pelo PP, partido comandado pelo senador Ciro Nogueira (CE).
No governo, em conjunto com Nogueira, ele conseguiu emplacar o comando do polpudo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), hoje nas mãos do ex-chefe de gabinete de Nogueira Marcelo Lopes, até o momento um dos principais resultados da aproximação do grupo com Bolsonaro.
Lira também foi alvo da operação Lava Jato. Além de relações com o doleiro Alberto Youssef identificadas pela força-tarefa no início das investigações, ele é réu em dois processos no Supremo Tribunal Federal (STF). Recentemente ele foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República pelo crime de corrupção passiva.
A acusação se deu no âmbito de um inquérito aberto em setembro de 2017 para apurar propina de R$ 1,6 milhão paga pela Queiroz Galvão, empresa declarada inidônea por fraudes em contratos com a Petrobras. De acordo com a acusação, os pagamentos foram feitos em troca de apoio político para a manutenção de Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento da estatal.
Na votação do pedido de abertura do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, Lira votou a favor da continuidade do processo. Na época, ele seguiu a orientação definida pelo então líder do seu partido, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Após perder apoio do MDB, Dilma chegou a buscar apoio do PP e de outros partidos menores, mas a busca não surtiu efeito e o processo foi apoiado pelo Centrão, apesar de todos os cargos que o partido teve nos governo petistas.
Durante o governo de Michel Temer, Lira chegou a pressionar publicamente o presidente por uma reforma ministerial que dividisse principalmente os cargos ocupados pelos tucanos no governo. “Ou muda ou não vota mais nada aqui”, disse na época o parlamentar, referindo-se às pastas de Cidades, Relações Exteriores, Direitos Humanos e Secretaria de Governo, todas nas mãos do PSDB.
Marcos Pereira (Republicanos – SP)
Nascido em Linhares, no norte do Espírito Santo, o deputado Marcos Pereira foi eleito deputado federal por São Paulo em 2018. Em seu primeiro mandato, ele é hoje 1º vice-presidente da Câmara. Ele já foi ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, no governo do ex-presidente Michel Temer, e atualmente é o presidente nacional do Republicanos.
Protestante, Marcos Pereira é também um dos expoentes da bancada evangélica na Câmara. Ele é bispo da Igreja Universal e sua candidatura à sucessão de Rodrigo Maia já recebeu apoio explícito do bispo Edir Macedo, fundador da congregação e dono da TV Record. E foi na igreja e com Edir Macedo que o deputado conseguiu ascensão profissional.
A biografia de Marcos Pereira contém fatos incomuns. Ele não conheceu sua mãe biológica, que era empregada doméstica e engravidou do patrão em São Paulo. Grávida, ela retornou ao Espírito Santo e acabou o abandonando em uma pensão às margens da BR-101, assim que ele nasceu. Aos 5 anos, chegou a ser adotado por um casal, que se separou. Depois disso, cresceu com avó paterna até se casar, com 19 anos.
Ele trabalhou como contador em um escritório, mas já em 1995 chegou ao cargo de diretor administrativo e financeiro da TV Record do Rio de Janeiro, onde permaneceu até o fim de 1999, quando assumiu a Rede Mulher de Televisão.
Pereira também é advogado e professor e já chegou a lecionar direito penal no instituto pertencente ao ministro do STF Gilmar Mendes, o IDP, em Brasília.
Recentemente, ganhou pontos com Bolsonaro ao oferecer aos filhos do presidente, Flávio e Carlos, abrigo no Republicanos no Rio de Janeiro. Os dois deixaram suas legendas, respectivamente o PSL e o PSC, e se filiaram ao partido, que tem a Prefeitura do Rio de Janeiro, com Marcelo Crivella.
O deputado também foi investigado pela operação Lava Jato. Em janeiro de 2018, ele entregou o cargo de ministro ao então presidente Michel Temer, em meio a suspeitas de ter recebido propina dos grupos Odebrecht e JBS. Na época, ele alegou ter deixado a pasta para poder disputar a eleição para deputado federal, mas ainda faltavam dois meses para vencer o prazo de desincompatibilização exigido pela Lei Eleitoral.
Na Lava Jato, executivos da Odebrecht alegaram ter repassado R$ 7 milhões a Marcos Pereira a pedido da campanha da ex-presidente Dilma Rousseff em 2014. O objetivo era fechar o apoio da legenda à reeleição da petista e de Michel Temer. Ele também é citado pelo dono da JBS, Joesley Batista, que, em delação premiada, contou ter repassado a ele R$ 6 milhões.
Capitão Augusto (PL-SP)
O deputado federal Capitão Augusto é natural da cidade de Ourinhos, no interior de São Paulo e está em seu segundo mandato na Câmara dos Deputados. Conhecido por sua visão conservadora, ele integra a chamada bancada da bala, formada por defensores da legalização do porte de armas no Brasil, em contraponto ao Estatuto do Desarmamento.
Na Câmara, ele é participante ativo de frentes parlamentares que tratam de temas como segurança pública, rodeios, vaquejadas e em defesa dos chamados Cacs (colecionadores, atiradores e caçadores), que defendem menor rigor no controle de armas no país. Ele é coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública.
O deputado tem suas origens na Polícia Militar de São Paulo, onde atuava como bombeiro, em Santo André, na Região do ABC Paulista, e como policial rodoviário, em Bauru, no interior do estado.
Ele foi o primeiro a dizer que era candidato a sucessão de Maia, ainda em janeiro, quando já deu início à distribuição de folders aos colegas deputados com suas bandeiras sempre alinhadas ao pensamento do governo e do presidente Jair Bolsonaro.
“Minha bandeira é mais da segurança mesmo. Sou também liberal na economia”, apresenta-se. “Gostaria de trabalhar alinhado com o governo, porque acredito que a gente consiga votar muito mais em menos tempo pautas que são importantes para o país”, disse o deputado, que defende uma revisão imediata no Regimento Interno da Câmara, com o objetivo, segundo ele, de agilizar ao máximo a tramitação de matérias, abreviando as discussões.
“Primeira coisa que tem que ser revista é o Regimento Interno da Câmara, porque ele é totalmente arcaico. Ele tem 50 anos e poucas atualizações. Ele funcionava quando havia poucos partidos, 5 ou seis, no máximo. Agora, nós temos quase 30 partidos. Então é impossível você aprovar projetos na velocidade que o Brasil precisa”, argumenta.
Capitão Augusto chegou à Câmara puxado pela estupenda votação do deputado federal Tiririca. O ex-policial recebeu 46,9 mil votos, representando 0,22% do total de votos válidos da eleição de 2014. Já em 2018, ele se reelegeu com 242.327 votos (1,15% dos votos válidos), ficando entre os 10 mais votados no estado.
O deputado também tenta formar o Partido Militar Brasileiro, que até agora não conseguiu o número necessários de assinaturas para ser criado. No ano passado, após a crise de Bolsonaro com o PSL, a sigla pretendida pelo deputado cedeu a outra pretensa legenda o direito de usar o número 38, caso consiga o registro no Tribunal Superior Eleitoral. Trata-se do Aliança pelo Brasil, partido que o presidente tenta também criar.
Capitão Augusto já havia reivindicado o número na Justiça Eleitoral, antes de Bolsonaro. Contudo, ele garantiu ao presidente que não iria brigar pelo numeral, que faz referência ao calibre de uma das armas mais conhecidas do Brasil, o revólver .38. Na época, ele alegou ter uma segunda opção para a sua sigla: o 64, referente à ditadura de 1964. As duas legendas ainda não conseguiram assinaturas suficientes para o registro na Justiça Eleitoral.