08/08/2020 às 06h10min - Atualizada em 08/08/2020 às 06h10min

Bolsonaro sobre caso racista: “Que a indignação brasileira sirva de lição”

"Atitudes como esta devem ser totalmente repudiadas", escreveu o presidente Jair Bolsonaro, em uma rede social

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) repudiou no início da noite desta sexta-feira (7/8) a atitude racista do contabilista Mateus Abreu Almeida Prado Couto, de 39 anos, que chamou o motoboy Matheus Pires, de 19 anos, de semianalfabeto e lixo.

“Independentemente das circunstâncias que levaram ao ocorrido, atitudes como esta devem ser totalmente repudiadas”, escreveu Bolsonaro, em uma rede social. O episódio aconteceu no último dia 31 de julho, em um condomínio em Valinhas (SP).

“A miscigenação é uma marca do Brasil. Ninguém é melhor do que ninguém por conta de sua cor, crença, classe social ou opção sexual. Que a indignação dos brasileiros sirva de lição para que atos como esse não se repitam”, prosseguiu.

Por fim, o presidente da República concedeu votos de solidariedade e sucesso, além de pedir a intervenção divina, ao entregador e a toda família do rapaz. “Todos somos iguais. Embora alguns trabalhem para nos dividir, somos um só povo”, completou. Leia:

Entenda

O contabilista Mateus Couto humilhou o motoboy Matheus Pires ao chamá-lo de semianalfabeto e lixo. Branco, o homem alega também que o jovem tem inveja das casas do condomínio e da cor de pele dele.

“Você nem tem onde morar. Você tem inveja disso daqui [diz apontando para a cor do braço]. Eu pedi para ele [Matheus Pires] sair fora daqui, e não saiu fora. Moleque, moleque, você tem inveja disso daqui, você tem inveja dessas famílias aqui”, diz o homem, ao apontar para as casas do condomínio e, em seguida, para o antebraço, indicando a cor da pele.

O entregador, que usava máscara facial — ao contrário do agressor —, responde: “Eu posso ter a mesma coisa que o senhor. Quem te deu isso daqui? Foi seu pai?”. Em seguida, o contabilista aumenta o tom de voz: “Você nunca vai ter” e chama Matheus de semianalfabeto e mentiroso.

Assista às agressões, que foram compartilhadas em uma rede social:

Metrópoles apurou que a ocorrência começou após Matheus comentar com o homem de camisa azul que alguns motoboys reclamam da maneira hostil como são tratados toda vez que vão até a residência para fazer qualquer tipo de entrega.

O caso foi registrado pela Guarda Municipal de Valinhos. O homem de camiseta azul foi conduzido para a Polícia Civil de São Paulo (PCSP). Ele foi indiciado criminalmente por injúria. Procurada, a Secretaria de Segurança Pública (SSPSP) ainda não se manifestou sobre o assunto.

Cusparada

O motoboy Matheus Pires contou que, além das ofensas raciais gravadas no vídeo que viralizou, ele foi vítima de outra modalidade de ataque. Em plena pandemia de coronavírus, Mateus Abreu Almeida Prado Couto disparou uma cusparada na sua cara. A saliva é das principais transmissoras do vírus.

“Quando começaram as atitudes [gravadas no vídeo], os vizinhos vieram para fora. Ele ficou puto. Tanto que ele cuspiu em mim, imitou macaco, falou que eu era macaco”, contou em entrevista ao Metrópoles. O ataque ocorreu há uma semana, no dia 31 de julho. Até o momento, Matheus disse não apresentar sintomas da doença.

Ao escutar o escândalo e os gritos de Prado Couto, os vizinhos apareceram do lado de fora das suas casas, em um condomínio de luxo, e um deles começou a gravar a situação. Ao ver que o agressor estava ficando mais violento, um vizinho cujo nome não foi revelado, mas que aparece no vídeo de bermudas, tomou o lado do motoboy e teria deixado claro que, caso o homem partisse para a agressão física, ele iria interferir.

“Quem gravou foi o pessoal que mora lá, um vizinho. O que estava do lado [de bermudas] estava junto do que estava gravando para o caso de ele tentar fazer alguma coisa, ele me defender. Porque você viu lá que o bicho era grande”, lembrou o motoboy.

Mateus Prado Couto, segundo o iFood, foi banido da plataforma.


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