No decorrer de quase uma década, um estuprador em série do Distrito Federal levou pânico a mulheres que simplesmente caminhavam pelas ruas do Gama, Santa Maria e Entorno entre 2002 e 2011.
Em sua ficha criminal, Cléber de Jesus Rodrigues, 37 anos, é acusado de violentar 60 vítimas na capital do país e 15 em municípios goianos situados no Entorno do DF.
Os últimos casos foram confirmados, recentemente, por meio do banco nacional de DNA, depois que o maníaco já cumpria pena no Complexo Penitenciário da Papuda.
Cléber foi preso preventivamente em agosto de 2011, à época com 28 anos, e condenado no ano seguinte. Somadas, as penas ultrapassam 100 anos.
Armado, o criminoso chegou a estuprar, na mesma ocasião, três mulheres.
As investigações tiveram início em 2006, quando policiais civis lotados na 14ª Delegacia de Polícia (Gama) notaram um salto no índice de ocorrências envolvendo crimes sexuais na cidade.
As características do autor, a forma de abordagem e a lascívia brutal remetiam a um mesmo criminoso, com 1,75 de altura, pele negra, portando arma de fogo e vestindo um casaco com capuz, que encobria quase todo o rosto.
As mulheres eram escolhidas previamente, principalmente, pela juventude. Todas tinham entre 18 e 25 anos. Quatro delas eram virgens quando foram estupradas pelo maníaco em série.
Atualmente ocupando o cargo de diretora de Enfrentamento à Violência da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a delegada Grace Justa conduziu parte das investigações sobre o estuprador.
Segundo ela, o maníaco tinha o poder de controlar a cena do crime, mantendo as vítimas subjugadas, sem espancar ou provocar lesões graves nas mulheres, tão comum em casos de estupros.
Havia um padrão nos ataques e o criminoso sexual tinha predileção por agir após as 23h, selecionando suas vítimas em saídas de festas, bares ou boates, muitas vezes com o dia quase amanhecendo, por volta de 5h. Cléber ficava ao redor dos eventos, na espreita. Não importava se as mulheres estavam acompanhadas ou sozinhas. Inúmeras vezes, o maníaco usou uma bicicleta para se movimentar com mais velocidade.
Geralmente, suas presas eram abordadas no Setor Leste do Gama e, depois, levadas para o Setor Sul, já na saída da cidade, próximo à DF-290. A característica fez os investigadores o chamá-lo de “Jack da bike”. No mundo do crime, “Jack” é o apelido dado a estupradores.
Diferentemente de qualquer criminoso sexual que já atacou no DF, Cléber chegou a render dois casais que caminhavam juntos, em Santa Maria, após deixarem uma festa.
Na ocasião, as duas mulheres e seus companheiros foram ameaçados com uma arma de fogo e levados para um local ermo. O maníaco afirmava que se alguém tentasse fugir seria morto a tiros. Depois de obrigar as jovens a tirar a roupa, ele ordenava que se deitassem de bruços sobre os companheiros, de forma a atrapalhar a visão dos homens. Em seguida, consumava os estupros.
Para permanecer quase 10 anos estuprando mulheres nas ruas do DF, Cléber de Jesus desenvolveu mecanismos para dificultar sua identificação, além do capuz e da ordem para que as vítimas não olhassem para seu rosto. Durante os atos, ele mandava que as mulheres permanecessem de costas, com os joelhos no chão.
Todas as vítimas relataram aos investigadores que também foram obrigadas a fazer sexo anal com o maníaco. Quando abordava mais de duas, ele sempre obrigava uma a ficar observando o ato sexual, e usava uma arma para fazer com que ninguém esboçasse qualquer reação.
Em 2007, o delegado Sérgio Bautzer, então no plantão da 14ª DP, definiu as características do criminoso sexual em série e acionou a profiler, criminóloga e escritora Ilana Casoy. A profissional publicou livros campeões de vendas que narram a atuação de serial killers no Brasil e no mundo. Com o material que a polícia havia acumulado, a escritora produziu um perfil psicológico (veja arte abaixo) e de atuação sobre o maníaco quatro anos antes dele ser identificado e detido.
“Nesses casos, o autor é depravado e teve problemas sexuais na adolescência ou na vida adulta. Sofre de autoestima extremamente baixa e teve pequenos problemas escolares, mas é profissionalmente estável e de alta confiabilidade”, disse.
As observações da profiler bateram com a realidade e, de fato, policiais civis tiveram dificuldade de obter informações sobre o suspeito com seus colegas de trabalho. Companheiros de profissão em uma fábrica, no Gama, tinham admiração por ele. O chefe do estuprador, à época, chegou a afirmar que ele era funcionário modelo e muito querido por todos.
O estuprador acabou preso em 2008 em razão de um roubo de celular. Na época, não havia qualquer materialidade que servisse de embasamento para acusá-lo pela onda de estupros. Coincidentemente, durante o período de 12 meses em que permaneceu encarcerado, os casos de crimes sexuais no Gama e Santa Maria com o padrão apurado pela PCDF desapareceram.
Em agosto de 2011, graças ao material genético colhido de uma vítima estuprada pelo criminoso, em Santa Maria, a PCDF conseguiu provar que o crime sexual havia sido cometido por Cléber de Jesus Rodrigues.
Após fazer dezenas de vítimas, o criminoso acabou preso preventivamente, julgado e condenado.