As empresas brasileiras vêm sofrendo durante a pandemia e, para cortar custos, muitos trabalhadores estão sendo mandados embora. Em todo o país, as demissões líquidas (as dispensas menos as contratações) chegaram a 1,3 milhão entre abril e junho – 24 mil aconteceram só no Distrito Federal.
Na contramão desse movimento, estão as empresas com mais de mil vínculos empregatícios. No segundo trimestre do ano, esses empreendimentos aumentaram o quadro de funcionários em 406 pessoas no DF. É o único segmento da capital do país em que houve alta no número.
As informações estão nos microdados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia.
Para calcular a quantidade de funcionários de uma empresa no começo de 2020, o Ministério da Economia usa a base da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2018 (a última disponível) e soma o saldo apurado pelo Caged de 2019. Esse número é usado para dividir as companhias em 10 grupos: no menor estão aquelas que iniciaram o ano sem empregados e no maior aparecem as com mil ou mais contratados.
A alta nas contratações líquidas das grandes empresas se deve exclusivamente ao mês de maio, quando o saldo foi positivo em 927. Em abril, entre as maiores empresas, as demissões líquidas foram 148. Já em junho, esse número continuou negativo, em 373 pessoas. As grandes empresas tendem a ser mais resistentes em momentos de crises como este.
O gráfico a seguir mostra o saldo líquido de contratações por porte da empresa em todo o Brasil. Apenas as menores têm um saldo positivo. Isso porque, como elas não tinham funcionários no início do ano, é muito difícil esse valor ficar negativo.
No Distrito Federal, a situação é semelhante, quase todos os tamanhos de empreendimento demitiram mais do que contrataram durante a pandemia. Além das empresas menores, apenas um outro grupo teve saldo positivo: as companhias com mais de mil vínculos empregatícios.
Tanto no DF como na média nacional, os estabelecimentos com mais quantidades de desligamentos líquidos têm entre 20 e 49 funcionários. Apesar disso, não é possível afirmar que eles são os mais impactados com a pandemia. Para isso, seria necessário fazer uma comparação com o número de empregados no início do ano, e essa variável não é fornecida nos microdados do Caged.
Para o assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), Eduardo Almeida, o saldo positivo nas contratações de grandes empresas mostra que em alguns setores da economia não houve crise. “O segmento de internet nunca tem problema, durante a pandemia, eles aumentaram, por exemplo, a venda de equipamentos para o home office, como notebooks. Supermercados e lojas de bicicletas também viram um grande crescimento na demanda”, explica.
Esse número, no entanto, não significa uma melhora na economia do DF. Segundo Eduardo, não dá para dizer que o aumento de contratações nos grandes empreendimentos puxará a economia. “Estamos prevendo um retorno muito lento, pois as pessoas ainda estão com medo de se expor”, diz.
De acordo com ele, a característica econômica da capital atrapalha uma retomada mais rápida. “Em Brasília, a economia sobrevive praticamente de prestação de serviços e comércio no varejo. São, justamente, os setores mais afetados e que mais vão demorar a voltar”, opina.