Existem sinalizações de que a saída de Mourão poderia ocorrer para ele concorrer ao governo do Rio Grande do Sul, seu estado natal. Dessa forma, o general seria um importante canalizador de votos para Bolsonaro no estado, sobretudo porque rivalizaria com o candidato da esquerda na disputa pelo Palácio Piratini. Uma eventual polarização, possivelmente contra o PT, tende a ser positiva para o presidente: apesar do arrependimento de alguns dos eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018, há quem não vote no partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de forma alguma.
“Hoje, preferimos não levantar essa hipótese para não provocar qualquer tipo de desentendimento no governo federal. Mas, no momento aprazado, eu vou fazer essa solicitação ao general Mourão. Gostaria de contar com ele concorrendo ao governo estadual, ou mesmo sendo candidato ao Senado. Além de ele contribuir com força política para o Rio Grande do Sul, não tenho dúvidas de que teria uma força eleitoral muito grande. O general Mourão é muito respeitado entre os gaúchos”, diz Marco Elias Pinheiro, presidente no Rio Grande do Sul do PRTB, partido de Mourão.
A preocupação em não rivalizar com outros partidos que não os de esquerda justifica a opção por Tereza. Além de ser o símbolo do setor econômico que segurou firme o país em meio à pandemia da covid-19, por ser filiada ao DEM, a ministra poderia “unir” a legenda em torno do plano de reeleição de Bolsonaro e evitar uma candidatura do partido que pudesse competir com o eleitorado do presidente.
Atualmente, os democratas estão divididos entre os que são da base do governo e os que fazem oposição. Ao colocar Tereza em um posto tão importante para o país, como o de vice-presidente, a equipe de Bolsonaro entende que agradaria o DEM e ganharia um importante aliado. Para o entorno do presidente, é mais importante ter o partido ao seu lado do que em uma esporádica aliança com o PSDB, por exemplo, legenda de um dos principais rivais de Bolsonaro no momento, o governador de São Paulo, João Doria.
O termômetro de 2022, no entanto, é que vai definir os passos de Bolsonaro. O eleitorado fiel do presidente é, majoritariamente, conservador. Ciente disso, o presidente pode recorrer à base ideológica para escolher alguém que seja um contraponto ao seu comportamento mais suave, sobretudo para manter mobilizados os seus apoiadores mais radicais. Nesse cenário, ganha força o nome da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que é contra o aborto e a ideologia de gênero. Há a chance também de que o vice seja ligado ao segmento evangélico.
Cientista político e especialista em relações governamentais pelo Ibmec, André Rosa acredita que Bolsonaro queira trocar Mourão porque o vice tem galgado uma posição política forte no governo. “Mourão não vem de cargo e o posto de vice é uma oportunidade de emplacar outros tipos de candidatura, é uma janela de oportunidades. O papel do vice é mais discreto, mas Mourão tem ambições políticas. As próprias declarações que ele dá acenam para a opinião pública, diferente de outros vices. Como a opinião pública gostou, provavelmente Bolsonaro deve cortar as asas dele para tirar os holofotes de cima”, opina.
O cientista político Cristiano Noronha, vice-presidente e sócio da Arko Advice, diz que, apesar de o cenário eleitoral ainda não estar posto, a escolha de Bolsonaro pelo vice será uma tentativa de reforçar a relação com algum segmento político em evidência. No caso da ministra Tereza, influencia não apenas o DEM, mas também a questão da agropecuária — por sinalizar um gesto importante ao setor —, além de o nome dela ser uma forma de atrair o eleitorado feminino.
De todo modo, ele ressalta que a decisão dependerá mais do jogo dos adversários de Bolsonaro, que vai querer um vice de peso, principalmente para evitar candidaturas competitivas da oposição. “O presidente escolherá o vice tentando anular os movimentos de outros setores. Rodrigo Maia, por exemplo, já defendeu que o DEM tenha candidato próprio ou apoie um outro nome, como Luiz Henrique Mandetta. Falou, ainda, na possibilidade de apoiar Ciro. Pode ser que a escolha passe pela movimentação dos partidos de centro”, analisa.
Segundo a advogada Vera Chemim, mestre em direito público administrativo pela Fundação Getulio Vargas (FGV), também é provável que Bolsonaro escolha para a vaga um nome que tenha uma boa relação com partidos de centro-esquerda. “Do mesmo modo, o presidente continuará agradando os partidos políticos que compõem o Centrão e, como Mourão deverá mirar outras ambições políticas, provavelmente escolherá como vice alguém que pertença ao DEM e ao mesmo tempo tenha livre trânsito entre os partidos de centro-esquerda como o PSDB e do próprio Centrão.”