19/08/2020 às 08h00min - Atualizada em 19/08/2020 às 08h00min

Oposição tenta se organizar

Presidente surfa em bom momento e adversários tentam se unir e parar de bater cabeça

(Com Agência Folha)

A pouco mais de dois anos do primeiro turno da próxima eleição presidencial, o presidente Jair Bolsonaro vestiu definitivamente o figurino de candidato à reeleição e trocou a bolha das redes sociais pelo contato com o público em seguidas inaugurações de obras pelo país. Enquanto isso, a oposição, envolvida com suas próprias contradições e debates internos, tenta deglutir a nova roupagem e encontrar um tom para enfrentar o presidente.

Em leitura para seus clientes, o analista político André César, da Hold Assessoria, fez uma ponderação sobre as recentes pesquisas do Instituto Datafolha e da XP Consultoria/Ipespe, que apontam para uma sensível melhora da popularidade de Bolsonaro.
 

Segundo André César, as pesquisas mostram que, por mais polêmicas que sejam as declarações do presidente minimizando a covid-19 e o próprio comportamento que ele demonstra (nos eventos de que participou recentemente no Nordeste, por exemplo, outra vez Bolsonaro não usou máscaras e provocou aglomerações), para a população não colou sobre ele de forma significativa a responsabilidade pelo aumento da pandemia.

Pelo contrário, observa André César, a popularidade cresceu em função do auxílio emergencial de R$ 600. E, outra vez, não colou contra ele o fato de o governo ter proposto um valor de R$ 200 que foi aumentado para R$ 600 pelo Congresso. Na verdade, a proatividade do Congresso não foi percebida pela população. O mesmo aconteceu com o Judiciário, especialmente com o Supremo Tribunal Federal.
Sem contraponto
 

E um dos principais fatores a beneficiar Bolsonaro no momento é que ele surfa na situação praticamente sem contraponto da oposição, que não consegue unificar seu discurso. Envolvida em debates internos sobre quem apoiar, a quem deve se unir, os partidos e atores contrários a Bolsonaro mais disputam entre si do que contra ele.

Diante da nova roupagem assumida por Bolsonaro e sua decisão de intensificar sua campanha à reeleição em um momento em que as pesquisas se mostram favoráveis a ele, o senador Humberto Costa (PT-PE) prega para a necessidade de a oposição construir um discurso comum. “Temos de trabalhar a unidade da oposição para enfrentar este momento, especialmente no Nordeste, onde ele está atacando”, considera o senador.

Contradições

Humberto admite que o presidente está conseguindo surfar em questões como o sucesso do auxílio emergencial, falou em desespero das pessoas diante das crises sanitária e econômica e que o momento reflete mudança de postura de Bolsonaro, que causava instabilidade política constante com ataques ao Legislativo e ao Judiciário. Para o senador, porém, a eleição ainda está distante e o quadro pode ser revertido. Mas, para isso, a oposição precisa esboçar uma reação e começar a explorar as contradições do discurso de Bolsonaro.

“As contradições são gigantescas e precisamos explorá-las: O auxílio continua? Até quando? Em que valor?”, afirmou o petista. 
 

Contradições e esforço de união

Para o senador Humberto Costa, o maior ponto de fragilidade a ser explorado está no fato de que o auxílio emergencial, que hoje sustenta o aumento da popularidade do presidente Jair Bolsonaro, não poderá ser eterno. Ou, pelo menos, não poderá ser eterno no valor de R$ 600. A não ser que o governo opte mesmo pela total irresponsabilidade nos gastos, o que terá profundos efeitos econômicos.

“Há o pós-pandemia, as disputas internas do governo, entre o bloco dos militares com o Centrão, querendo mais dinheiro, e boa parte do empresariado que ainda apoia Bolsonaro e é contra furar o teto de gastos”, afirma ele.

O problema é como construir um discurso em torno disso enquanto os efeitos negativos não acontecem e os recursos estão indo parar no bolso dos cidadãos.

Obras de outros

Um dos principais defensores da necessidade de uma união da oposição sem restrições e dedos apontados, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), concorda que há contradições a serem exploradas. “Nitidamente, ele está querendo compensar no Nordeste o que perdeu no Sudeste”, considera. Para Dino, é preciso explorar o fato de que Bolsonaro está tirando dividendos de ações que não são dele. Inaugura, por exemplo, obras dos governos anteriores.
 

“Não há obras iniciadas por ele, critica Flávio Dino. “Nenhum programa novo. Ele só está visitando obras alheias e mudando nome de programas já existentes”, afirma o governador. Sejam de quem forem as obras, o fato é que Bolsonaro vem se beneficiando delas.

Saiba Mais

Bolsonaro chegou esta semana a à sua 16ª viagem oficial do ano. Dez delas foram realizadas em julho e agosto. O número de pousos e decolagens só não foi maior porque o presidente teve de ficar trancado por cerca de 20 dias no Palácio da Alvorada após ser infectado pelo coronavírus.

Depois de ter visitado Sergipe na segunda-feira (17), o presidente pretende ir ainda esta semana ao Rio Grande do Norte e à cidade de Corumbá (MS).

Seus focos são o Nordeste e o Sudeste. Dos sete estados visitados desde que se recuperou da covid-19, só um era no Sul (Rio Grande do Sul) e outro no Norte (Pará). O Nordeste teve três estados visitados (Piauí, Bahia e Sergipe), enquanto o Sudeste, dois (São Paulo e Rio de Janeiro).
Até o fim do ano, Bolsonaro lançará outras medidas de impacto social. Deve enviar ao Congresso um projeto de lei que cria o Renda Brasil, uma reformulação do Bolsa Família.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »