Após série de reportagens do Metrópoles sobre o retorno das aulas presenciais e descumprimento de protocolos para evitar a contaminação do novo coronavírus no curso de Formação de Oficiais (CFO) da Polícia Militar do DF (PMDF), a modalidade presencial das aulas foi suspensa. Portaria assinada pelo comandante-geral da corporação, coronel Julian Rocha Pontes, determinou o retorno ao modelo de educação a distância, a contar desta quinta-feira (20/8).
A paralisação das atividades em sala de aula vale por pelo menos 30 dias. Encerrado o prazo, o retorno ao modelo presencial fica condicionado à evolução do cenário epidemiológico da Covid-19 no Distrito Federal, conforme manifestação das autoridades sanitárias.
Caberá ao Departamento de Educação e Cultura da PMDF adotar os procedimentos de ajuste do regime acadêmico dos cursos da corporação, contendo os componentes curriculares necessários.
Em 17 de agosto, o Metrópoles revelou que 42 cadetes do CFO apresentaram oficialmente à instituição o teste com resultado positivo para a Covid-19. Na conta da própria PMDF, o total de alunos diagnosticados com a doença é ainda maior: 44 cadetes tiveram a Covid-19, informou a corporação à reportagem.
Em portaria publicada no dia 30 de julho, o comandante-geral da PMDF determinou o retorno das atividades presenciais do CFO neste mês de agosto, desde que observados os protocolos de segurança para a prevenção de contaminação pela Covid-19.
Seguindo o cronograma previsto no documento, a turma de 3º ano do CFO retornou no dia 3 de agosto. O 2º ano voltou às atividades presenciais nessa segunda-feira (17/8) e o 1º ano, retornaria no próximo dia 31. Nesta última data, haveria ainda a retomada dos cursos sequenciais de carreira e de especialização.
De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, quando a turma CFO III voltou às atividades presenciais, um dos cadetes estava contaminado. Foi, então, aberto um processo no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) para apurar quais alunos tiveram contato com ele. A plataforma de arquivos eletrônicos permite verificar a movimentação de processos e documentos internos.
Segundo o documento do processo, ao qual o Metrópoles teve acesso, 44 cadetes tiveram contato com o aluno infectado. Desses, 20 testaram positivo, conforme fontes relataram à reportagem. Desde então, a turma do 3º ano seguia em modo de aula a distância. No dia 17, no entanto, as atividades voltaram a ser presenciais, e, agora, foram suspensas mais uma vez.
No dia seguinte, alunos denunciaram que tiveram aulas remotas dentro da academia. “Estamos assistindo aula pelo computador. O professor fora e o alunos em sala de aula”, disse um dos participantes, que pediu para não ser identificado.
Além disso, na manhã do dia 18, os alunos que teriam aula por videoconferência presencial ficaram mais de duas horas em sala aguardando pelas atividades.
O curso na PMDF prevê alunos em sala, mas os cadetes só têm contato com os professores de forma remota, on-line. Os futuros policiais temiam que a aglomeração de estudantes em sala resultasse em mais gente com Covid-19.
De acordo com um dos participantes, que pediu para não ser identificado, os cadetes chegaram na Academia de Polícia Militar de Brasília (APMB) por volta das 6h20 de terça-feira e até perto das 8h20 a aula não tinha iniciado.
“Fila imensa de medição de temperatura por um único aparelho. Todos amontoados no alojamento. Escutamos várias ‘ameaças’ de represálias e, ao chegar na sala de aula, a internet não estava funcionando. Total falta de estrutura. Se estivéssemos em nossas casas, tudo estaria funcionando, as instruções sendo absorvidas e ninguém se contaminando”, resumiu o cadete.
Ainda segundo o relato do participante, mais dois colegas do curso foram infectados pela Covid-19, além dos 44 cadetes que já tinham testado positivo para a doença.
Em um grupo de oficiais da corporação, os alunos que relataram os problemas ao Metrópoles chegaram a ser citados como “chorões”.
Em várias respostas encaminhadas à reportagem, a PMDF informou que os estudantes confirmados com Covid-19 não se contaminaram durante as instruções e três que não estavam ainda totalmente recuperados foram afastados das atividades.
A corporação explicou que o atraso na aula de terça-feira foi resultado de falha na rede tecnológica, mas que o problema “não interferiu no desenvolvimento da instrução, pois o instrutor determinou uma atividade alternativa para o horário em razão da pane” e reparos eram providenciados.
Quanto às videoaulas, PMDF informou que as lições eram realizadas através de vídeo, “porém, tanto alunos quanto instrutores encontram-se na APMB”. “A formação do policial militar não se resume apenas a assistir aulas teóricas. Para o transcorrer e conclusão do curso são necessárias avaliações e vivências que só podem ocorrer de maneira presencial. Dessa forma, todas as atividades presenciais têm seguido estritamente os protocolos de segurança sanitária estabelecidos pelas autoridades competentes”, disse a corporação.