O jornalismo candango perdeu um de seus patrimônios na noite desta quinta-feira (20). Internado desde a quarta-feira (19), o radialista Marcelo Ramos faleceu em decorrência de complicações causadas pela covid-19. A morte foi confirmada por volta das 19h30 por um irmão do jornalista. Aos 67 anos, o “Repórter do Povão” deixa esposa, cinco filhos e cinco netos, além de diversos colegas, aprendizes e amigos nos mais variados meios de comunicação da capital.
O amor pelo rádio começou ainda na década de 1970, em Divinópolis (MG). Foi em Brasília, porém, que o radialista marcou época. Setorista do Palácio do Buriti, cobriu todas as posses de prefeitos e governadores de Brasília até o momento. Transmitia direto da sede do Executivo distrital, onde ganhou até uma sala exclusiva para suas transmissões. É tido por muitos repórteres como uma espécie de pai na profissão, graças aos braços e sorriso abertos, sempre disposto a aconselhar os mais jovens.
“Acho impossível que exista no planeta alguém que tenha conhecido Marcelo Ramos e não gostasse dele”, diz o editor chefe do Jornal de Brasília, Rudolfo Lago. Em dois distintos governos do DF, Rudolfo foi secretário adjunto de Comunicação e assessor de comunicação da Secretaria de Saúde. “Marcelo estava sempre ali, sorridente, diariamente no Palácio do Buriti. Cobriu praticamente todos os governos de Brasília, com seu bom humor e sua paixão por Roberto Carlos e pelo Botafogo. Marcelo nos fará muita falta”, completa Lago. Marcelo cobriu um período na história no qual Brasília era gerida por governadores biônicos – isto é, indicados pelos generais-presidentes da Ditadura Militar.
Seu programa, O povo e o poder, era conhecido por noticiar as decisões políticas na capital da República de modo a facilitar a compreensão por parte da sociedade. No esporte, foi um dos maiores entusiastas do futebol candango. Em 1998, quando o Gama faturou a Série B e garantiu vaga na elite do esporte nacional, Ramos narrou todos os jogos do Periquito no Walmir Campelo Bezerra, o Bezerrão, na Região Administrativa do clube.
Também teve influência na própria identidade de alguns times locais, sobretudo o Esporte Clube Ceilândia, que deve ao jornalista a mascote do Gato Preto. Histórica, a vinheta do narrador foi compartilhada à exaustão em grupos de jornalista em aplicativos de mensagens. “Narra um gol para mim, Marcelo Ramos” era a frase que anunciava a entrada do irradiador no ar.
Por meio de uma rede social, Vicente Ramos, filho do radialista, divulgou um texto de despedida endereçado ao pai. “Muitos conhecem o narrador do povão, o radialista. E apaixonaram-se pela pessoa incrível que ele é. Poucos conhecem o Marcelo Ramos pai, amigo e esposo. Mais incrível e apaixonante ainda”, despede-se. Contatados pela reportagem, outros familiares preferiram não se pronunciar neste momento.