Indiciado 23 vezes pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o estudante de medicina veterinária Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, 22 anos, contou com a ajuda direta de outras seis pessoas num esquema de tráfico internacional de animais exóticos e silvestres na capital do país, segundo a investigação.
O modus operandi dos indiciados foi ilustrado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e juntado aos inquéritos encaminhados ao Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT). O Metrópoles teve acesso com exclusividade ao organograma preparado pelos fiscais.
Veja como operavam os investigados:
ARTE/METRÓPOLES
As autoridades policiais e ambientais colocam Pedro como peça-chave na suposta rede de tráfico. De acordo com o relatório, coube ao jovem “revelar uma rede de uso ilegal de animais silvestres, em especial serpentes”.
“Ficou evidente a conexão com o tráfico. Existem fortes evidências de que parte dos espécimes de espécies silvestres exóticas possa ser oriunda de reprodução no Brasil”, afirma o Ibama no texto.
Ligados ao jovem, o instituto coloca os também graduandos de medicina veterinária Gabriel Ribeiro de Moura e Luiz Gabriel Félix Menezes. Ambos teriam, segundo o relatório, participado ativamente na ocultação de provas e dos animais criados clandestinamente.
Ao primeiro, coube a função de transportar os bichos, enquanto Luiz Gabriel foi o responsável por encontrar o local onde as espécies seriam escondidas. O pai de Gabriel, Ricardo Pereira Henriques de Moura, também é citado.
Segundo as investigações, Ricardo é o dono da propriedade onde parte das serpentes foram escondidas. O pai do jovem chegou a ser conduzido à 14ª Delegacia de Polícia (Gama), após a PCDF encontrar, durante cumprimento de mandado de busca e apreensão, peles de jiboia e de surucucu, penas de arara e uma carcaça de tatu galinha na propriedade dele.
Gabriel, por sua vez, foi preso por atrapalhar as investigações.
Outra ligação reforçada pelas autoridades esmiúça a participação do padrasto e da mãe de Pedro Henrique na ocultação de provas que viessem a incriminar o universitário pelo crime.
Coronel da Polícia Militar do DF (PMDF), Clovis Eduardo Condi “ajudou a esconder os animais e dificultou a ação fiscalizatória do Ibama” nos primeiros dias de investigação do caso. O relatório coloca Rose Meire como cúmplice do companheiro na tentativa de burlar as apurações.
A sexta conexão de Pedro Henrique Kambreck é com a clínica Exotic Life, onde o estudante já estagiou. O Ibama ressalta que não foi a primeira vez em que fiscais encontraram irregularidades no trabalho realizado pelos veterinários do local. “Em suas redes sociais apresentam-se inúmeros animais indubitavelmente ilegais para a manutenção doméstica”, afirma o documento do órgão ambiental.
O Ibama é enfático: “A empresa se esconde atrás de atendimento veterinário, mas suas postagens demonstram claramente que consideram normal a manutenção de animais ilegais, já que acobertam a atividade”. “Expõem, orgulhosos, animais que sabem ser ilegais”, acrescenta o instituto.
O último nome citado na lista é o de Adriana da Silva Mascarenhas. Ela é servidora do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres do Ibama. Segundo o próprio órgão, a funcionária é “uma das responsáveis por esconder as serpentes de Pedro”.
Informações sobre a servidora dão conta de que ela é suspeita de liberar licenças para pessoas criarem animais silvestres na capital do país, além de ter expedido licença de coleta, captura e transporte de serpentes que não pertencem à fauna brasileira.
Trecho da decisão diz que há fortes indícios de seu envolvimento com fatos investigados relacionados à organização de tráfico internacional de animais silvestres, bem como de prática de ato de improbidade na emissão de licenças para transporte de animais.
Além da “rede direta” de Pedro Henrique Krambeck, outras cinco pessoas foram indiciadas pela PCDF. Saiba quem são e por quais crimes devem responder.
– Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl: responderá por tráfico de animais, associação criminosa e exercício ilegal da medicina;
– Rose Meire dos Santos Lehmkuhl: fraude processual, corrupção de menores, tráfico de animais, maus-tratos e associação criminosa;
– Clovis Eduardo Condi: tráfico de animais, fraude processual, maus-tratos e associação criminosa;
– Gabriel Ribeiro: posse ilegal de animal silvestre, maus-tratos, fraude processual e corrupção de menores;
– Julia Vieira: posse ilegal de animal silvestre e corrupção de menores;
– Fabiana Sperb Volkweis: fraude processual;
– Raynner Leyf: posse ilegal, fraude processual e associação criminosa;
– Major Joaquim Elias: prevaricação, fraude processual, associação criminosa, coação no curso do processo;
– Silvia Queiroz: fraude processual;
– Luiz Gabriel: favorecimento real;
– Gabriel Moraes: associação criminosa e maus-tratos
A Naja kaouthia, uma Víbora-Verde-de-Vogel e cinco cobras-do-milho (Corn Snake) mantidas pelo universitário ficaram inicialmente no Jardim Zoológico de Brasília. Depois, foram transferidas para o Instituto Butantan, em São Paulo, onde permanecem em quarentena. Ainda não se sabe se elas serão exibidas ou se ficarão à disposição para pesquisas científicas.
Veja fotos dos animais em São Paulo: