Ocoronel da Polícia Militar do Distrito Federal Clovis Eduardo Condi – padrasto de Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, 22 anos – virou alvo de um inquérito policial militar e foi mantido em atividades administrativas após ser indiciado por tráfico de animais, fraude processual, maus-tratos e associação criminosa. A informação foi confirmada ao Metrópoles pela PMDF.
A corporação aguardava a conclusão do inquérito sobre suposto esquema de tráfico internacional de animais exóticos na capital, conduzido pela Polícia Civil (PCDF), para subsidiar a investigação interna contra o militar.
De acordo com a nota enviada pela PMDF à reportagem, o coronel também deixou de assumir um cargo de chefia. Conforme a reportagem antecipou, ele era cotado para comandar o Batalhão de Rondas Ostensivas Táticas Motorizadas (Rotam).
Confira a nota na íntegra:
“A Polícia Militar instaurou Inquérito Policial Militar para investigar o caso e adotará todas as medidas necessárias após análise dos fatos. A Corregedoria da PM irá conduzir os trabalhos de investigação juntamente com o Ministério Público Militar. O referido coronel iria assumir o comando de uma unidade e não assumirá mais, permanecendo na área administrativa.”
Eduardo é irmão do subcomandante-geral da corporação, Claudio Fernando Condi.
O Metrópoles teve acesso, com exclusividade, ao vídeo que mostra o coronel Clovis Eduardo Condi saindo do apartamento onde mora, no Guará, com caixas supostamente carregadas de serpentes contrabandeadas, incluindo a Naja que picou o enteado Pedro Henrique Krambeck. A família foi indiciada por maus-tratos e tráfico de animais.
As gravações, do dia seguinte ao que Pedro foi picado pela Naja, mostram o coronel da PM ajudando a esconder as cobras clandestinas. O vídeo foi registrado por uma câmera do elevador, às 13h09 de 8 de julho. Ele fica pouco mais de um minuto dentro do elevador e também estava com camundongos, que servem de alimento para as serpentes.
Condi, acompanhado pelo filho menor e de um amigo de Pedro, Gabriel Ribeiro, retirou as serpentes do interior da residência da família com auxílio de um carrinho de compras. As imagens mostram o militar carregando as caixas, cobertas com um pano vermelho.
Na parte inferior da imagem, é possível ver um recipiente com cobra. Os potes são semelhantes aos apreendidos pela Polícia Militar Ambiental. Em alguns momentos do vídeo, Condi olha para as câmeras de segurança.
Segundo as investigações, Condi e a esposa, Rose Meire, mandaram Gabriel “dar sumiço” nos animais. Após a determinação, o jovem teria feito um acordo com a PM Ambiental para entregar os animais e não ser preso.
No mesmo dia, imagens do circuito de segurança do Shopping Píer 21 mostram o momento em que Gabriel Ribeiro deixa a Naja kaouthia no estacionamento do estabelecimento. A gravação a qual o Metrópoles também teve acesso com exclusividade (assista abaixo) registra a apreensão da serpente, feita pelo Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) da PMDF.
O vídeo indica que os policiais chegaram cerca de um minuto depois que o jovem saiu do local.
O caso foi investigado pela 14ª Delegacia de Polícia (Gama), após Pedro Krambeck ser picado pela Naja, de origem asiática. A partir desse fato, os policiais colheram provas de que Pedro estaria envolvido com tráfico e maus-tratos de animais, contando com a ajuda ajuda de familiares e amigos para ocultar as evidências e atrapalhar as investigações.
O vídeo, conforme o Metrópoles havia antecipado, também colocou policiais do BPMA na investigação. Segundo o relatório final do inquérito, os militares agiram para proteger Gabriel e evitar a prisão em flagrante. A versão foi corroborada pelo depoimento do próprio jovem. À PCDF, ele admitiu que teve a “garantia” dos militares de que se entregasse o animal não seria preso.
Segundo os registros, o jovem chega ao local em uma caminhonete, às 18h14 de 8 de julho, um dia após Pedro ter sido atacado pelo animal. Gabriel desce rapidamente do veículo e deixa uma caixa de plástico, próximo a um barranco, nas redondezas do Píer 21, no Setor de Clubes Sul.
Ele estaciona o carro por volta às 18h15 e se dirige a uma escada. O rapaz fica mexendo no celular, enquanto espera. Ele fica exatamente 30 segundos aguardando. Menos de um minuto depois, a viatura da PM aparece e recolhe a Naja.
Veja fotos do caso:Militares afastados
O comando do BPMA foi afastado após as suspeitas. A PMDF também instaurou um inquérito militar para apurar a conduta dos profissionais. Entre eles, o ex-comandante do batalhão major Joaquim Elias Costa Paulino. Em 7 de agosto, durante uma entrevista ao Metrópoles, o major se defendeu. Afirmou que não sabia do curto lapso temporal e que tomou todos os cuidados para tentar prender o jovem.
“Eu sempre pedia para que ele ficasse perto da caixa para evitar que alguém pegasse. O meu objetivo com essa orientação era evitar um novo acidente e, também, prendê-lo em flagrante. É claro que eu queria fazer essa prisão. Tomei todos os cuidados. Ao chegar no shopping, desligamos todas as luzes da viatura”, detalhou.
O policial reforça: “Eu sabia que se ele tivesse por perto poderia acabar se assustando com a sirene. Como estava de noite, era mais fácil chegar sem chamar atenção. Só pedi para o motorista ligar o farol quando fui pegar a caixa. Estava na dúvida se o animal realmente estava la dentro. Também, em um primeiro momento, não tive certeza se era mesmo uma Naja. Só confirmei após identificar as manchas características que ela tem nas costas”.
Major Elias foi indiciado por prevaricação, fraude processual, associação criminosa e coação no curso do processo.