Um esquema milionário de pirâmide financeira teria deixado um rastro de prejuízo estimado em R$ 2 milhões e atingido 715 pessoas em quase todas as unidades da Federação, incluindo no Distrito Federal. A fraude foi denunciada à Polícia Civil por uma ex-bailarina do Faustão, após ter dinheiro injetado no negócio ilegal. A rede de captação de investidores é conduzida por Juliana Novaski Ducia (foto em destaque), 24 anos, que se apresenta nas redes sociais como ex-garota de programa.
A bailarina Pablinny Pedersoli, 31, afirmou ter conhecido a estelionatária em um perfil no Instagram, em 15 de abril deste ano. “Durante a pandemia, eu tinha uma uma loja virtual de lingerie e a Juliana começou a fazer muitas compras e também a indicar pessoas. Isso ocorreu durante um bom tempo. Até que ela me pediu dinheiro emprestado com a condição que me devolveria com juros”, explicou.
egundo Pablinny, o montante foi investido em uma empresa chamada Moedas Yebsc, que opera por meio de um perfil com cerca de 27 mil seguidores. Durante lives, Juliana capta investidores dispostos a transferir quantias que variam de R$ 200 a R$ 500 mil. Dezenas de seguidores fazem transações bancárias ao vivo, alimentando a base da pirâmide. A promessa é atrativa. Em publicações, Juliana promete pegar R$ 4 mil e multiplicar o dinheiro devolvendo R$ 14 mil em 10 dias.
Em 4 de junho, quando percebeu que se tratava de um negócio fraudulento que movimentava muito dinheiro de pessoas espalhadas pelo país, a bailarina retirou a quantia que pertencia a ela e acabou quebrando o fluxo financeiro da empresa. “Depois que me afastei da Juliana e dos esquemas dela, comecei a sofrer ameaças nas redes sociais feitas por perfis fakes. Tive sérios problemas com o funcionamento da minha loja, pois o perfil foi denunciado e suspenso. Fui obrigada a registrar ocorrências por crimes de calúnia, injúria e difamação, além de delito contra a economia popular”, disse.
Com o passar dos dias, o número de investidores esperando o chamado “retorno” – ação quando os valores corrigidos por juros astronômicos são devolvidos – foram se acumulando. Diariamente Juliana faz lives transmitidas pelas redes sociais para tentar acalmar os ânimos das pessoas que estão há semanas sem ver a cor do dinheiro prometido. O mesmo ocorreu com uma veterinária brasiliense que apostou no modelo arriscado de negócio e ficou no prejuízo.
Sem se identificar, a moradora da Asa Norte contou ter conhecido juliana em um perfil de fofoca no Instagram. “Resolvi transferir a quantia de R$ 300 e nunca recebi o retorno prometido ou sequer a quantia que havia investido”, contou. A veterinária registrou ocorrência de estelionato na 5ª Delegacia de Polícia (Área Central). “Parte das vítimas se organizou em grupos. Foi possível identificar que pessoas chegaram a pegar dinheiro com agiotas para investir. Outra usaram grana até de tratamento para câncer”, disse a brasiliense.
Em alguns videos, Juliana Novaski chega a dizer que sua empresa funciona como uma espécie de banco ou financeira, mas a Moedas Yebsc funciona sob um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) de Micro Empreendedor Individual (MEI), que bloqueia movimentação superior a R$ 10 mil por mês. O limite mensal é uma restrição devido ao tipo de constituição empresarial, visto que o MEI possui limite anual de faturamento.
Na Receita Federal, a empresa está registrada como executora de atividades de sonorização e de iluminação, promoção de vendas, serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas. “Com isso, ela usa contas de terceiros para movimentar o dinheiro. Uma delas é a do namorado, que passou a ostentar nas redes sociais com moto BMW, relógio caros e roupas”, contou Pablinny.
O namorado de Juliana é Daniel Xavier, mais conhecido na internet como o “Justin Bieber” brasileiro. Com milhares de seguidores em suas redes sociais, Daniel seria usado para captar mais investidores e também guardar o dinheiro que entra no caixa da Moedas Yebsc. Segundo as denúncias, Juliana tenta maquiar o esquema de pirâmide afirmando comprar produtos para serem revendidos, entre eles roupas com as marcas de sua empresa com o nome do sósia do cantor canadense.
O Metrópoles conversou com Juliana Novaski sobre as denúncias envolvendo a prática de pirâmide financeira. Segundo ela, sua empresa desenvolve um modelo de negócio que foge às características de um esquema fraudulento. “Temos CNPJ definido, todos os investidores me conhecem, sabem onde eu moro. Não existe nada oculto ou ilegal. Não sou golpista, principalmente porque nunca deixei de pagar ninguém”, defendeu-se.
Segundo a proprietária da empresa, as denuncias feitas por Pablinny Pedersoli são de caráter pessoal, em razão de uma série de desavenças envolvendo mulheres que já pertenceram ao círculo profissional ou social dela e da empresa. “Tudo se agravou quando pelo menos 30 investidoras, entre elas a Pablynny, resolveram me mandar flores e eu não quis aceitar o presente. Esse foi o estopim para a vingança”, disse.
Juliana reconheceu que existem pagamentos em atraso, mas que todos serão quitados, inclusive das pessoas que procuraram a polícia ou a Justiça. “Preciso deixar claro que muitas pessoas se desesperaram num momento em que estava acompanhando meu namorado na gravação de um clipe e não tive como fazer os pagamentos que estavam agendados. Mas logo tudo irá se normalizar. Sobre a utilização de contas de terceiros para fazer a movimentação financeira, não vejo qualquer tipo de irregularidade nisso”, finalizou.