Preso nesta sexta, 28, o pastor Everaldo Dias Pereira organizou uma ‘caixinha’ abastecida por propinas que era dividida com o governador do Rio, Wilson Witzel. Além disso, ele também tentou ‘alinhar discurso’ com o delator e ex-secretário de Saúde do Rio Edmar Pereira para obstruir as investigações.
As acusações constam na decisão do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça, que autorizou a prisão de Everaldo nesta sexta, 28. Segundo as investigações, Everaldo lidera ‘um dos grupos criminosos influentes nos Poderes Executivo e Legislativo do Rio de Janeiro’.
“À luz dos elementos colhidos até o momento, observa-se que Pastor Everaldo instituiu uma espécie de ‘caixinha única’ para pagamentos de vantagens indevidas a agentes públicos da complexa organização criminosa sob investigação, a partir do direcionamento de contratações de organizações sociais e na cobrança de um ‘pedágio’ sobre a destinação dos ‘restos a pagar’ aos fornecedores, criando uma típica estrutura sofisticada e perene e com detalhada divisão de tarefas”, apontam os investigadores.
Para ‘administrar’ a caixinha, Everaldo teria criado uma ‘típica típica estrutura ramificada de organização criminosa, com divisão de tarefas entre os demais integrantes do grupo’. A divisão dos repasses foi instituída da seguinte forma: 30% dos valores seriam para Edmar Santos, 20% para Witzel, 20% para o próprio Pastor Everaldo, 15% para Edson da Silva Torres e 15% para Victor Hugo Barroso, apontados respectivamente como operadores administrativo e financeiro do pastor.
O Pastor Everaldo, segundo a Procuradoria, também tentou ‘alinhar o discurso’ com Edmar Santos após sua saída do governo, em maio deste ano, em meio às denúncias de fraudes na licitação para a compra de respiradores no valor de R$ 3,9 milhões. O objetivo do diálogo, segundo o MPF, seria criar uma versão que justificasse os atos ilícitos praticados pela organização criminosa.
Edmar Santos delatou que, no dia em que foi exonerado, um dos filhos do Pastor Everaldo, Filipe Pereira, o procurou por telefone. “O colaborador não chegou a falar com Filipe Pereira. Após cessarem as ligações de números conhecidos, passaram a ocorrer enxurradas de ligações de números desconhecidos, de origens diversas”, aponta trecho da delação de Edmar mencionada na decisão judicial.
“O colaborador Edmar Santos ainda asseverou dois aspectos que chamam a atenção: as afirmações de Pastor Everaldo de que todas as questões do grupo que comanda terem o aval do governador Wilson Witzel e o fato ocorrido previamente à deflagração da assim chamada ‘Operação Placebo’, referente a R$ 15.000.00 em espécie de posse de Pastor Everaldo, que teriam sido entregues pelo governador a ele ante o temor de buscas e apreensões no Palácio Laranjeiras”, apontam os investigadores.
O delator já havia dito à PGR ter sido ameaçado período em que esteve preso no Batalhão Especial Prisional de Niterói, antes de acertar o acordo de delação e deixar a cadeia. Segundo Edmar Santos, um homem que se apresentou como ‘tenente Cabana’, que seria ligado ao Pastor Everaldo, o abordou para recomendar uma troca de advogado, a fim de que ele não fosse abandonado pelo ‘grupo’. Santos interpretou o aviso como ameaça para que ficasse calado.
Nome forte e influente no Rio, o MPF aponta que Pastor Everaldo ‘comanda várias contratações e orçamentos na CEDAE, no DETRAN e na pasta da Saúde’ fluminense ‘como se proprietário fosse’. A suposta organização criminosa conta ‘sofisticada teia de relações’ que envolve pessoas físicas e jurídicas.
O operador do esquema do pastor seria Victor Hugo Barroso, responsável pela contabilidade paralela, cooptação de agentes públicos e privados e indicação de organizações sociais que deveriam ser contratadas pelo governo. A Procuradoria também aponta que Victor Hugo Barroso teria contado com um ‘informante’ preso na mesma cela de Gabriell Neves, subsecretário-executivo da Saúde no Rio, para acompanhar a situação.
Os pagamentos de propinas coordenados por Victor Hugo Barroso a Edmar Santos, segundo as investigações, foram realizados por meio de quantias em dinheiro, entrega de cartão de crédito pago por terceiros e custeio de uma viagem particular. O operador também é acusado de manter offshores no exterior e declarar seu endereço de residência em Montevidéu, no Uruguai.
Dois filhos de Everaldo, Filipe e Laércio Pereira, também presos nesta sexta foram acusados de integrar o esquema por meio de ‘várias pessoas jurídicas e sociedades com outros membros da organização’. Filipe era assessor de Witzel.
“A empresa EDP Corretora de Seguros, que tem como sócios Pastor Everaldo e os filhos, Laércio Pereira e Filipe Pereira, realizou dezenas de depósitos em espécie, em valor fracionado, de modo a dissimular o total da movimentação, em atividade típica de lavagem de capitais”, aponta o Ministério Público Federal.
Outra transação suspeita envolvendo a família de Everaldo é referente à compra de um imóvel por R$ 400 mil quando avaliação fiscal apontava que o valor real seria três vezes superior. Parte do pagamento, cerca de R$ 35 mil, teria sido feito em espécie.
O Pastor Everaldo sempre esteve à disposição de todas as autoridades e reitera sua confiança na Justiça.