A ala dos militantes mais radicais e ideológicos da gestão do presidente Jair Bolsonaro está sofrendo uma nova baixa com a demissão da secretária nacional de Igualdade Racial, Sandra Terena, que informou estar sendo demitida pela ministra Damares Alves para interromper qualquer vinculação do governo com seu marido, o jornalista Oswaldo Eustáquio.
Ele chegou a ser preso e é investigado no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura o financiamento de atos antidemocráticos em Brasília e possíveis elos com autoridades e parlamentares.
Surpreendida pela decisão, Sandra Terena reclamou em entrevista à rádio Jovem Pan que estava “sendo exonerada por ser casada com uma pessoa que defende o presidente Bolsonaro”.
A demissão revoltou o guru dessa ala radical, o escritor Olavo de Carvalho, que há meses vem protestando contra a perda de relevância de sua agenda antiglobalista no governo.
“Para o governo Bolsonaro, apoiá-lo demais é radicalismo, é crime”, atacou Olavo, em postagem no Facebook, na qual aproveitou para atacar os militares, ala que ele responsabiliza por seu ostracismo.
Fontes ouvidas pelo Metrópoles garantem, porém, que são os novos aliados do Centrão que mais pressionam o presidente a se livrar dos auxiliares olavistas, argumentando que eles apenas arrumam confusões e atrapalham a comunicação do governo, agora nas mãos do PSD de Fabio Faria, o ministro das Comunicações.
Como fruto dessa pressão, foi concretizada na última semana a saída do ex-assessor especial da presidência Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro Abraham Weintraub, outro radical expurgado. O próximo dessa “fila”, ainda segundo fontes do Centrão com apoio ao Planalto, é o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, que deve ter destino parecido com o dos irmãos Weintraub: um cargo em organismo internacional. Abraham está trabalhando no Banco Mundial e Arthur vai para a Organização dos Estados Americanos (OEA).
Se a saída de Martins também se confirmar, de olavistas “raiz” no governo só restarão o ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o secretário de Alfabetização do Ministério da Educação, Carlos Nadalin. Nos tempos de ouro da influência olavista, no início do governo, o grupo tinha o comando do MEC e dava as cartas na comunicação oficial, além dos assessores especiais de Bolsonaro.
“Lembro ao Bolsonaro: segundo a Bíblia, a ingratidão a um benfeitor é um dos cinco pecados que bradam aos céus, tão horrível quanto assassinar o próprio pai”, postou ainda o guru Olavo de Carvalho sobre a expulsão de seu grupo.
Formado em jornalismo, o marido de Sandra Terena se tornou célebre nas redes sociais militando apaixonadamente por Jair Bolsonaro. Em depoimento, ele mesmo disse que integrou o “governo de transição” após a eleição de Bolsonaro, mas não chegou a receber um cargo público – ao contrário da esposa, que deverá ter a exoneração oficializada nesta semana.
Eustáquio foi preso em Mato Grosso do Sul no dia 26 de junho, sob suspeita de que, já investigado, poderia deixar o país com destino ao Paraguai. Ele passou 10 dias na cadeia e foi solto sob a condição de cumprir uma série de condições, como deixar de se pronunciar na internet. Desde então, postagens em seus perfis têm sido assinadas por sua “assessoria de imprensa”.
Nas entrevistas que deu ontem, Sandra Terena contou que Damares ficou incomodada pela participação da subordinada em eventos com outros personagens radicais na casa do casal, em Brasília. Sandra lembrou, porém, que o secretário do MEC Carlos Nadalin e parlamentares também participam dos encontros, que não são secretos nem ilegais.
Oswaldo Eustáquio é investigado ao lado de outros influenciadores digitais bolsonaristas, como o jornalista Allan dos Santos, que se diz perseguido e afirma ter deixado o país. Ambos negam qualquer participação em irregularidades.