25/10/2020 às 06h50min - Atualizada em 25/10/2020 às 06h50min

Polícia coloca na mira 50 jovens de classe média que participam de rachas no DF.

Investigações apontaram os líderes do grupo, a dinâmica das corridas ilegais no DF e as principais rodovias em que ocorrem os pegas

A velocidade se traduz em respeito e a vitória vem acompanhada de fama para um grupo de 50 jovens de classes média e alta que desafiam as autoridades ao promover rachas pelas ruas do Distrito Federal. Os motoristas tornaram-se alvo de mapeamento feito pela Coordenação de Repressão a Crimes Patrimoniais (Corpatri), da Polícia Civil (PCDF). As investigações apontaram os líderes das corridas ilegais, revelaram a dinâmica de organização das perigosas disputas e identificaram as principais rodovias em que ocorrem os pegas.

A Corpatri aprofundou a apuração de um relatório prévio produzido pelo setor de inteligência do Departamento de Trânsito (Detran-DF). Turbinados, os carros com motores envenenados – desde os modelos populares nacionais até esportivos de luxo alemães –, roncam alto para uma plateia eufórica formada por jovens sedentos de diversão em várias localidades do Distrito Federal.

Os investigadores da PCDF se infiltraram na multidão que assiste aos rachas, sempre durante às madrugadas de quinta e sexta-feira. O mapeamento identificou pontos de encontro nos estacionamentos do Park Design e Shopping Popular, na Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), no Clube Nippo, às margens da L4 Sul, em locais próximos a quadras comercias em Águas Claras e no Setor Noroeste, nas vias W7 e W9.

Pelo “like”

Apostando na impunidade, os participantes fazem questão de tornar públicas as corridas ilegais. As disputas em alta velocidade são alimentadas pelo like nas redes sociais. A repercussão das postagens e as curtidas servem de combustível para o exibicionismo. Os corredores querem “bombar” na internet. Alguns vídeos feitos na L4 Sul, madrugada adentro, flagraram os carros, alguns com cerca de 300 cavalos de potência, emparelhando e arrancando com violência logo em seguida. A gritaria da plateia acompanha o fritar dos pneus no asfalto.

Nos estacionamentos de clubes, como o do Nippo, a disputa entre os pilotos clandestinos começa ainda com os carros desligados. Primeiro, os racheiros medem quem tem o som mais alto. Além da música, o álcool abastece o ego dos corredores. O consumo de cerveja e de outras bebidas corre solto. Nos pontos de encontro dos pegas não existe Lei Seca. Garotas circulam entre as máquinas. Ali, sinal de status é ter grandes rodas de liga leve que podem custar R$ 10 mil o jogo.

De acordo com as investigações, os motoristas, em sua maioria, são moradores do Park Way e das asas Sul e Norte, mas há alguns que residem em Taguatinga. As diligências da Corpatri apontam que existe grau de organização bem definido nos eventos ilegais. A comunicação entre os participantes é feita por grupos de WhatsApp e comunidades privadas em redes sociais.

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“A situação é de tanto descontrole que os participantes perderam o temor. Isso fica claro com as publicações abertas em redes sociais que mostram velocímetros marcando velocidades absurdas”, pontua a PCDF.

Acidentes investigados

Com as vias desertas em decorrência da quarentena, criou-se o ambiente perfeito para a realização dos rachas. O registro de alguns acidentes de trânsito serviu como ponto de partida para a PCDF lançar olhar mais atento sobre o tema. Os policiais avançaram na apuração para descobrir a identidade do organizadores dos eventos ilegais.

“Conforme as filmagens demonstram, os participantes se reúnem em estacionamentos onde há socialização com som alto e bebida alcoólica. Embalados, começam a ir para as rodovias Epia, N1 e S1, por exemplo, para efetivar as competições”, ressalta relatório da corporação.

As imagens extraídas pela PCDF dos perfis em redes sociais que pertencem aos suspeitos mostram que, em altíssima velocidade, os racheiros cortam as ruas de Brasília fazendo ultrapassagens perigosas e arriscando a vida por alguns minutos de glória e entretenimento.

Em um dos vídeos, o motorista filma o velocímetro digital do carro enquanto corre pela Ponte JK. A velocidade passa dos 130 km/h, via em que o limite é de 6o km/h.

Infração gravíssima

Atualmente, o Código Brasileiro de Trânsito (CTB) fixa a pena pelo crime de participação em racha em um período de 6 meses a 3 anos de detenção. E poderá resultar em reclusão, no caso de a prática gerar lesão corporal grave ou morte.

A pena é de 3 a 6 anos de reclusão no caso de lesão corporal e de 5 a 10 anos se resultar em morte. Pelo texto, a condenação independe da comprovação de que o motorista quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.

A norma também aumenta em 10 vezes as multas aplicáveis aos motoristas envolvidos em racha, competições não autorizadas e demonstrações de manobras arriscadas. Se houver reincidência no prazo de 12 meses, a nova autuação será aplicada em dobro.


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