06/11/2020 às 05h30min - Atualizada em 06/11/2020 às 05h30min

Grupo que fraudava pesquisas eleitorais atuou em 191 cidades goianas

Instituto cobrava cerca de 6 mil reais para colocar determinado candidato em primeiro lugar nas pesquisas. “Descobrimos uma oferta feita a um candidato em Pontalina. O candidato não aceitou, ele fez outra oferta mas o candidato fez a denúncia”, diz o promotor Douglas Chegury

O Ministério Público Eleitoral (MPE) desencadeou, na manhã desta quinta-feira, 5, a operação denominada Leão de Neméia, cujo objetivo é desarticular grupo suspeito de produzir e divulgar pesquisas eleitorais fraudulentas em todo o Estado de Goiás nas eleições municipais de 2020.

Investigações realizadas pelo MP identificaram que a empresa IPOP-Cidades & Negócios produziu e divulgou 349 pesquisas suspeitas em 191 dos 246 municípios goianos desde a sua criação em fevereiro deste ano, o que representa, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o maior número de pesquisas realizadas nestas eleições em todo o país.

Foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão expedidos pelo Juiz Eleitoral da comarca de Alvorada do Norte, no nordeste goiano, Pedro Henrique Guarda Dias, nos municípios de Goiânia e Aparecida de Goiânia, na sede da empresa, e nas residências do proprietário do IPOP, Márcio Rogério Pereira Gomes, e da estatística Karen Cristina Alves Pessoa.

De acordo com o MP, Márcio Rogério, nas eleições municipais de 2016, atuou desta mesma forma em mais de uma centena de municípios do Estado de São Paulo, valendo-se de uma outra empresa por ele criada à época para produzir e divulgar pesquisas fraudadas (Márcio Rogério Pereira Gomes-ME/ Jornal Folha da Região Norte Paulista).

Ele responde a dezenas de processos cíveis e criminais na Justiça Eleitoral paulista, já tendo sido condenado em vários deles. Com a descoberta de sua atuação em São Paulo, migrou para o Estado de Goiás neste ano de 2020,onde criou a empresa IPOP com o mesmo objetivo criminoso.
 

Em dezenas de Zonas Eleitorais do Estado multiplicam-se ações que requerem a suspensão da divulgação de tais pesquisas, o que já foi deferido em muitas delas com o objetivo de preservar a transparência e legitimidade do processo eleitoral.

As fraudes consistem em produzir pesquisas que não refletem a realidade das intenções de voto dos eleitores, com desobediência dos requisitos exigidos na legislação eleitoral, em bairros inexistentes e com oferta criminosa de manipulação de dados em favor de candidatos.

A operação é coordenada pelos promotores de Alvorada do Norte Eusélio Tonhá dos Santos e Douglas Chegury, e conduzida também pelos promotores eleitorais Asdear Salinas (Iaciara), Guilherme Vicente de Oliveira (Pontalina) e Lucas César Costa Ferreira (Silvânia), e conta com o apoio do Centro de Inteligência do MPGO e da Polícia Civil.

Os investigados, bem como todos os demais envolvidos, estão sujeitos a responder pelo crime de pesquisa eleitoral fraudulenta, cuja pena de prisão é de seis meses a um ano, além de serem responsabilizados pela fraude eleitoral.

De acordo com o promotor Douglas Chegury, o proprietário do instituto, Márcio Rogério, começou a atuar em 2016 em São Paulo, percorreu municípios fazendo pesquisas eleitorais com dados que não correspondiam à realidade. Ele passou a responder a vários processos e chegou a ser condenado. Após esse momento ele migrou para Goiás e criou uma empresa Ipop e passou a atuar com o mesmo modus operandi.
 

“Chamou a atenção logo de cara que ele não recebeu por nenhuma das pesquisas. Formalmente ele teria feito por conta própria. Ele teria gasto 2 mil por pesquisa. Ou seja, gastou por volta de 700 mil reais, fora aluguel e outras despesas. Todas essas informações chamaram a atenção dos investigadores”, diz o promotor. Na Juceg, Márcio declarou um capital de 150 mil reais.

“Descobrimos uma oferta feita a um candidato em Pontalina. O instituto cobraria de 6 mil para o colocar na frente em uma pesquisa. O candidato não aceitou, ele fez outra oferta mas o candidato fez a denúncia”, detalha.

Muitas situações chamaram a atenção e foi solicitado ao juiz eleitoral a quebra do sigilo de dados e bancários e mandados de busca e apreensão que foram cumpridos hoje.

As investigações terão prosseguimento para identificar e responsabilizar outros envolvidos nas fraudes. O nome da operação é uma referência ao primeiro de 12 trabalhos executados pelo herói mítico grego Hércules, que derrotou o leão que explorava e subjugava a região de Neméia, localizada no nordeste do Peloponeso.


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