10/11/2020 às 05h22min - Atualizada em 10/11/2020 às 05h22min

PCDF abre investigação para apurar “cura gay” prometida por clínica

Nesta segunda-feira (9/11), o Conselho Federal de Psicologia (CFP) também emitiu nota de repúdio ao caso

A Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin) abriu uma investigação para apurar se há crime na conduta da clínica de hipnose de Brasília que oferece “tratamento” para homossexualidade. O caso foi revelado pelo Metrópoles no último sábado (7/11).

Como explicou a delegada-chefe da unidade especializada, Ângela Maria dos Santos, ela tomou conhecimento do caso pela imprensa, e o intuito é ouvir a versão dos supostos psicólogos. “Vamos analisar se existe crime de exercício ilegal da profissão, homotransfobia ou algum outro. Isso tudo só poderemos determinar após ouvir os envolvidos”, explica.

Também nesta segunda-feira (9/11), o Conselho Federal de Psicologia (CFP) repudiou o caso, lembrando que, em 1999, uma resolução vedava “qualquer ação que favoreça a patologização de orientações sexuais”. Segundo a nota, a sexualidade compõe a identidade de cada sujeito e, por não se tratar de doença ou distúrbio, não há o que ser curado.

O CFP lembrou que levantamentos mostram a ineficácia dessa tentativa de “reparação”. A Associação Americana de Psicologia (APA) informa que tentativas de mudança de orientação sexual indicam relatos de depressão, confusão mental, disfunções sexuais, drogadição, automutilação, ansiedade, abulia, pensamentos suicidas, entre outros”.

Entenda o caso

A empresa Hipnoticus, localizada na Asa Sul, diz que o serviço para “tratar” a homossexualidade, que custa R$ 29.990, gera resultados em seis meses. Segundo consta no site do estabelecimento, a hipnose é feita pelo método “Psicoterapia Sem Falhas”, usado pelo hipnoterapeuta Gabriel Henrique de Azevêdo Veloso. São oferecidas três opções de serviços: sessões com duração de quatro, seis e oito meses.

O dono da empresa diz ser cadastrado no Conselho de Auto Regulamentação da Terapia Holística (CRT), uma sociedade civil sem vínculos com o governo federal. Ele oferece a cura de doenças como depressão e ansiedade em até seis meses, mesmo não tendo formação em psicologia, medicina ou terapia ocupacional.

No entanto, o CRT nega que Veloso esteja filiado à entidade. Em nota enviada ao Metrópoles, o conselho informou que o hipnoterapeuta teve o cadastro suspenso, em agosto de 2018, por “pendências estatutárias e falta ética e profissional”. “Justamente por não cumprir as normas previstas no código de ética profissional, ele foi alertado a cessar a utilização do número da CRT de forma indevida”, destacou.

“Solução para mudar orientação sexual”

Ao Metrópoles, Gabriel Henrique de Azevêdo Veloso confirmou que a clínica existe desde 2010. Sobre o “tratamento” para homossexualidade, ele afirmou que “há pessoas que não ficam satisfeitas com esse tipo de vida. Então, o tratamento é oferecido nessa perspectiva”.

Em uma parte do endereço eletrônico, sobre “como funciona a hipnose”, a empresa explica que “a cura de doenças é realizada através da objetividade do diagnóstico e do tratamento holístico, oferecendo resultados ainda antes da 1ª sessão”. A clínica ainda afirma que “a hipnose também é a única solução para mudar sua orientação sexual e te livrar da atração indesejada pelo mesmo sexo”.

Após a publicação da primeira reportagem do Metrópoles sobre o caso, o empreendimento retirou a palavra “homossexualismo” da parte de serviços oferecidos no site, bem como a frase citada acima.

Veja:
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A clínica Hipnoticus manifestou-se sobre o caso novamente nesta segunda-feira (9/11), por meio de uma segunda nota. A empresa havia enviado posicionamento ao Metrópoles, no último sábado, mas hoje divulgou outro texto em seu endereço eletrônico, informando que “nunca foi intenção ofender minoria qualquer que seja”. Confira aqui a íntegra.

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) também vai investigar a clínica. O Núcleo de Direitos Humanos (NDH) do órgão não foi acionado sobre o assunto, porém vai instaurar um procedimento para investigar o caso. “Por ora, não há nada tecnicamente definido [sobre a natureza deste procedimento], uma vez que o NDH ainda não foi acionado. Quando o for, deve ser instaurada uma notícia de fato”, disse o órgão.


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