A Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social (Prodep), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), irá apurar a denúncia envolvendo o áudio que revela uma conversa em que o primeiro-secretário do PTB-DF, Daniel de Abreu Corrêa, organiza a nomeação de um empresário para o Conselho do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), visando supostamente desviar verba e “fazer caixa para 2022”.
A acusação foi protocolada oficialmente no MPDFT, que transferiu o caso para a Prodep. Os promotores deverão chamar tanto Daniel Corrêa quanto Wallace Soares Nazário, que figura na gravação conversando com Daniel. O caso, revelado pelo Metrópoles nesta quinta-feira (10/12), provocou a reação do secretário de Cultura do DF, Bartolomeu Rodrigues. Segundo o chefe da pasta, o áudio cita, levianamente, a Secretaria de Cultura e o FAC.
“Isso é ridículo. O que este senhor está fazendo é pura bravata. Qualquer um que conhece a estrutura da secretaria e do FAC sabe que não há o menor cabimento técnico no que ele diz que vai fazer”, afirmou o secretário. Bartolomeu defende que a deputada Jaqueline Silva aja com rigor no episódio: “Isso é caso de polícia. E, se confirmado que o áudio é de um colaborador próximo, espera-se que a parlamentar tome as devidas atitudes”.
Na gravação, Daniel – que atuou como articulador da campanha política da deputada distrital Jaqueline Silva (PTB) – comenta que a indicação de Wallace Soares Nazário será feita a pedido da própria parlamentar. A nomeação não chegou a ser efetivada. Em um dos trechos, ele dá dicas de como proceder para conseguir “uma graninha por fora”.
Além do cargo de destaque na legenda local, Daniel é irmão do ex-chefe de gabinete da deputada Vitor de Abreu Corrêa. Vitor ocupou o cargo comissionado de janeiro a setembro de 2019. Em outubro do mesmo ano, passou a fazer parte do gabinete da Mesa Diretora, posição em que se manteve até janeiro deste ano.
Daniel inicia o diálogo com Wallace apontando o conselho do FAC como “o melhor cargo na Secretaria de Cultura, a nível de (sic) articulação política”, uma vez que “todos os orçamentos da secretaria passam pelo FAC”.
Em seguida, ele explica que Wallace terá a tarefa de “fazer um lobby”, sendo representante de Jaqueline na Secretaria de Cultura. Em troca, Daniel diz que o nomeado receberá R$ 3,5 mil por reunião. “Não tem que cumprir expediente, não tem que fazer porra nenhuma disso; tem que ir lá só para despachar.”
Na sequência, ele dá dicas de como Wallace deve se comportar para atrair os recursos ilícitos e que, dessa forma, conseguirá complementar o salário do empresário.
“Mais do que a reunião propriamente dita, mais do que participar, do que fazer toda a média burocrata lá, você precisa ter a habilidade de conversar com o gerente que tem três projetos da Jaqueline. Da quadrilha junina […], tem duas entidades órfãs aqui, vou ajudar para trazer para o grupo da Jaqueline […]. E essa flexibilização também vai poder gerar recurso financeiro para a gente, que é onde eu vou fazer o complemento do seu salário”, detalha.
Daniel ainda diz que a proposta oferecida fora previamente conversada com a deputada e teria sido ela quem escolheu o nome de Wallace para a indicação. “A gente tinha três nomes e a Jaqueline preferiu, por confiar e por você ser de uma região que é nossa, que é o Gama. E também por entender que você vai ter essa habilidade, porque, se você for só protocolar, você vai lá, assina, recebe o seu dinheiro e acabou. Você tem que ir com habilidade para poder buscar projeto, buscar apoio, essas coisas.”
“De alguma forma, você vai poder privilegiar também aquelas pessoas que estão ao seu redor. E, claro, se você for privilegiar as pessoas que são próximas a você, essas pessoas também vão ajudar a turma da Jaqueline financeiramente, porque também nós precisamos fazer um caixa para 2022”, enfatiza.
Em resposta, Wallace diz que “com certeza” poderá cumprir o papel. “Minha missão dentro do conselho é, além de chegar com o nome da Jaqueline, claro, que ela quem me colocou lá dentro, fazer com que os projetos do Gama e Santa Maria sejam aprovados mais rápido”, declara.
Em seguida, Daniel completa: “E projetos de interesse da Jaqueline. Vamos supor que a gente tem um grupo cultural lá em Planaltina e a gente quer conseguir lá uma verbinha de R$ 20 mil, quem vai ensinar para eles os caminhos é você”.
O primeiro-secretário do PTB-DF, então, sugere que o homem modifique o currículo para deixá-lo com “tom mais cultural e menos administrativo”. “Dá uma enchida de linguiça”, comenta.
Ao final do diálogo, Wallace questiona se não terá que fazer mais nada além das reuniões, que seriam três por mês. “Tu vai ter uns três, quatro projetos para aprovar por semana para mim. E cada projetinho desse que a gente aprova, a gente ganha uma graninha por fora disso aí. Então, você não vai ter formalmente, mas informalmente vai ter muita coisa para fazer”, responde Daniel.
O secretário de Cultura do DF, Bartolomeu Rodrigues, reagiu duramente ao áudio obtido pelo Metrópoles que, segundo o gestor afirmou, cita, levianamente, a Secretaria de Cultura e o FAC.
“Isso é ridículo. O que este senhor está fazendo é pura bravata. Qualquer um que conhece a estrutura da secretaria e do FAC sabe que não há o menor cabimento técnico no que ele diz que vai fazer”, afirmou o secretário.
Bartolomeu defende que a deputada Jaqueline Silva aja com rigor no episódio: “Isso é caso de Polícia. E, se confirmado que o áudio é de um colaborador próximo, espera-se que a parlamentar tome as devidas atitudes”, destacou.
Ao Metrópoles, a deputada distrital e presidente do PTB-DF, Jaqueline Silva, considerou o teor do áudio “extremamente grave” e adiantou que levará o caso ao conhecimento das autoridades policiais.
Leia a resposta dela, na íntegra:
“A denúncia é extremamente grave e vai ser objeto de queixa à polícia, que deve investigar a conduta de todos os envolvidos. Jamais permiti que qualquer pessoa utilizasse meu nome. Sempre fui guiada pelos princípios de legalidade. A fala é completamente fantasiosa, pois jamais fiz qualquer indicação de membros para conselhos do GDF. O que é facilmente comprovado”.
Também em nota, o primeiro-secretário do PTB-DF, Daniel Corrêa, admitiu o que disse no áudio, mas ressaltou que não tinha a intenção de promover algum desfalque nos cofres públicos.
“Errei. Falei em nome de pessoas que jamais me deram este direito. Com o objetivo de demonstrar um poder que nunca tive, falhei comigo mesmo. A conversa ocorreu em março de 2019 e a indicação, por óbvio, nunca aconteceu, pois nunca tive tal influência. Também nunca tive verdadeiramente o objetivo de praticar o que ali foi colocado. Errei e estou pronto para arcar com as consequências”, respondeu Daniel.
Já Wallace Nazário não respondeu às mensagens enviadas pela reportagem . O espaço está aberto para eventuais manifestações.
A Secretaria de Cultura afirmou, por meio de nota, que “o Conselho de Administração do Fundo de Apoio à Cultura (Cafac) e os membros da sociedade civil têm indicação feita via Conselho de Cultura do DF (CCDF) e nomeação pelo secretário de Cultura e Economia Criativa, para mandato de três anos”, ressaltou.