15/04/2017 às 06h50min - Atualizada em 15/04/2017 às 06h50min

'Acordo de mercado' envolveu obra do Mané Garrincha, em Brasília, diz delator

Ex-executivos da Odebrecht dizem ter sido procurados pela construtora Andrade Gutierrez para combinar preços; contrapartida seria construção da Arena Pernambuco. Reforma do estádio de Brasília custou R$ 1,4 bilhão.

Por G1 DF
 
 

Reconstruído a um custo estimado de R$ 1,4 bilhão, o estádio Mané Garrincha – o mais caro entre as obras para a Copa do Mundo de 2014 – foi reformado depois de um "acordo de mercado" entre a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. As afirmações fazem parte da Petição 6.766, que revela delações de João Pacífico e Ricardo Roth, ex-executivos da Odebrecht.

 

Ricardo Roth explica como foi feita a negociação. "Como nós não tínhamos interesse [no Mané Garrincha] e nós tivemos notícia de que a Andrade Gutierrez tinha, um diretor deles procurou o João Pacífico solicitando que ofertássemos uma proposta de cobertura a esse estádio, certo?", relatou Roth.

 

O ex-dirigente da empreiteira disse ainda que a Odebrecht estava focada apenas em arenas que seriam construídas em regime de concessão, as Parcerias Público Privadas (PPPs). Roth explicou que a empresa aceitou beneficiar a Andrade Gutierrez no Distrito Federal em troca de parcerias futuras.

 

"Com a definição da participação do Brasil na Copa de 2014, vários estados foram definidos para serem contemplados com arenas. Dentro desses estados estariam alguns cuja liderança era do meu diretor, João Pacífico. Nesse contexto, fui designado para estudar o Mané Garrincha, mas esse estádio, vale ressaltar, a empresa tinha interesse em participar, mas em concessões, PPPs, para fazer desde a construção até a operação. No caso do Mané não fazia parte, era uma obra que seria licitada no regime de 8666 (Lei de Licitações e Contratos nº 8.666/93)", disse Roth em gravação.

 

"O João Pacífico me orientou nesse sentido e assim foi feito. Na data da apresentação da proposta nós ofertamos o valor acertado, na época o valor indicado por eles [...] Eles apenas apresentaram um número que a nossa proposta devia estar naquele limite."

 

Ricardo Roth explicou também que as negociações sempre eram feitas pessoalmente. Um dos locais dos encontros era o escritório da Andrade Gutierrez em Brasília, mas os acordos eram sempre verbais.

 

A delação do ex-executivo da Odebrecht João Pacífico dá detalhes do interesse da empresa em não apenas construir as arenas para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, mas fazer a operação dos estádios por períodos de 20 a 30 anos, dentro das Parcerias Público Privadas.

 

"Naquela ocasião, a companhia decidiu que a nossa prioridade eram projetos que iam além da construção. Ou seja, construção e operação. Em função disso, o mercado tomou conhecimentro de que nós estávamos interessados."

 

O ex-executivo explicou ainda que, em 2009, recebeu o telefonema de um diretor da Andrade Gutierrez "pedindo para fazer uma proposta de cobertura, ou seja um acordo de mercado."

 

"Deve ter sido para o telefone do escritório, porque como eu era responsável pela região centro-oeste, eu tinha uma base também em Brasília. Tinha uma base em Recife e uma base em Brasília. Não em recordo, deve ter sido para o escritório de Brasilia", disse Pacífico.

 

A Odebrecht teria "acertado" para que a Andrade Gutierrez ficasse com as obras do Mané Garrincha. A contrapartida viria em um empreendimento futuro, de interesse da empresa. Mais tarde a Odebrecht acabou contruindo a Arena Pernambuco.

 

As estruturas principais do novo Mané Garrincha foram realizadas pelo Consórcio Brasília, que reuniu as empreiteiras Andrade Gutierrez e Via Engenharia. Em abril de 2016, o Jornal Nacional mostrou que o ex-presidente da Andrade Gutierrez e delator Otávio de Azevedo já tinha citado Agnelo Queiroz e as obras do Mané Garrincha como parte do suposto esquema de propina.

 

À época, Agnelo afirmou que não poderia comentar o assunto enquanto o teor de todo o inquérito não fosse divulgado. A defesa do ex-governador também disse que o político desconhecia qualquer fato citado na delação premiada.

 

Arena Pernambuco

Em um dos trechos das gravações, o ex-executivo confirma a troca de favores entre as duas empreiteiras.

 

"Aí eu liguei pro mesmo diretor e disse: 'Olha, você lembra [...] eu quero que você faça a contrapartida aqui em Pernambuco'. Aí designei o diretor que estava estudando essa obra, um diretor de investimento que estava fazendo a previsão, para ele entrar em contato com o diretor da Andrade lá em Pernambuco - que era uma pessoa ligada ao Rodrigo Lopez - e eles fizeram lá o impedimento e fizeram a proposta", disse Pacífico.

 

Os custos de construção da Arena Pernambuco, segundo o governo, foram de R$ 532,6 milhões. As investigações sobre a obra foram encaminhadas para a Justiça Federal de Pernambuco.

 

Posicionamentos

Em nota divulgada nesta quarta, o Palácio do Buriti informou que não vai comentar os pedidos de investigação, porque o processo judicial está em andamento.

 

Também em nota, a Odebrecht disse entender que "é de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos específicos feitos pelos seus executivos e ex-executivos".

 

"A empresa colaborou com a Justiça, reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça e com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas", diz o texto.

 

A Andrade Gutierrez informou ao G1 que não vai comentar o assunto.

 

Em nota enviada nesta quinta (13), a Via Engenharia diz que "não tomou conhecimento do teor da delação da parceira e líder do consórcio, apenas teve acesso aos trechos divulgados pela imprensa". A empresa diz que desconhece as negociações, e que a Odebrecht, como líder do contrato, era quem administrava as relações com o cliente.

 

"A Via Engenharia informa ainda, para os devidos fins, que desconhece qualquer menção à empresa em envolvimento com operações sob investigação na esfera judicial local ou federal", diz.

 

 

Reconstruído a um custo estimado de R$ 1,4 bilhão, o estádio Mané Garrincha – o mais caro entre as obras para a Copa do Mundo de 2014 – foi reformado depois de um "acordo de mercado" entre a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. As afirmações fazem parte da Petição 6.766, que revela delações de João Pacífico e Ricardo Roth, ex-executivos da Odebrecht.

 

Ricardo Roth explica como foi feita a negociação. "Como nós não tínhamos interesse [no Mané Garrincha] e nós tivemos notícia de que a Andrade Gutierrez tinha, um diretor deles procurou o João Pacífico solicitando que ofertássemos uma proposta de cobertura a esse estádio, certo?", relatou Roth.

 

O ex-dirigente da empreiteira disse ainda que a Odebrecht estava focada apenas em arenas que seriam construídas em regime de concessão, as Parcerias Público Privadas (PPPs). Roth explicou que a empresa aceitou beneficiar a Andrade Gutierrez no Distrito Federal em troca de parcerias futuras.

 

"Com a definição da participação do Brasil na Copa de 2014, vários estados foram definidos para serem contemplados com arenas. Dentro desses estados estariam alguns cuja liderança era do meu diretor, João Pacífico. Nesse contexto, fui designado para estudar o Mané Garrincha, mas esse estádio, vale ressaltar, a empresa tinha interesse em participar, mas em concessões, PPPs, para fazer desde a construção até a operação. No caso do Mané não fazia parte, era uma obra que seria licitada no regime de 8666 (Lei de Licitações e Contratos nº 8.666/93)", disse Roth em gravação.

 

"O João Pacífico me orientou nesse sentido e assim foi feito. Na data da apresentação da proposta nós ofertamos o valor acertado, na época o valor indicado por eles [...] Eles apenas apresentaram um número que a nossa proposta devia estar naquele limite."

 

Ricardo Roth explicou também que as negociações sempre eram feitas pessoalmente. Um dos locais dos encontros era o escritório da Andrade Gutierrez em Brasília, mas os acordos eram sempre verbais.

 

A delação do ex-executivo da Odebrecht João Pacífico dá detalhes do interesse da empresa em não apenas construir as arenas para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, mas fazer a operação dos estádios por períodos de 20 a 30 anos, dentro das Parcerias Público Privadas.

 

"Naquela ocasião, a companhia decidiu que a nossa prioridade eram projetos que iam além da construção. Ou seja, construção e operação. Em função disso, o mercado tomou conhecimentro de que nós estávamos interessados."

 

O ex-executivo explicou ainda que, em 2009, recebeu o telefonema de um diretor da Andrade Gutierrez "pedindo para fazer uma proposta de cobertura, ou seja um acordo de mercado."

 

"Deve ter sido para o telefone do escritório, porque como eu era responsável pela região centro-oeste, eu tinha uma base também em Brasília. Tinha uma base em Recife e uma base em Brasília. Não em recordo, deve ter sido para o escritório de Brasilia", disse Pacífico.

 

A Odebrecht teria "acertado" para que a Andrade Gutierrez ficasse com as obras do Mané Garrincha. A contrapartida viria em um empreendimento futuro, de interesse da empresa. Mais tarde a Odebrecht acabou contruindo a Arena Pernambuco.

 

As estruturas principais do novo Mané Garrincha foram realizadas pelo Consórcio Brasília, que reuniu as empreiteiras Andrade Gutierrez e Via Engenharia. Em abril de 2016, o Jornal Nacional mostrou que o ex-presidente da Andrade Gutierrez e delator Otávio de Azevedo já tinha citado Agnelo Queiroz e as obras do Mané Garrincha como parte do suposto esquema de propina.

 

À época, Agnelo afirmou que não poderia comentar o assunto enquanto o teor de todo o inquérito não fosse divulgado. A defesa do ex-governador também disse que o político desconhecia qualquer fato citado na delação premiada.

 

Arena Pernambuco

Em um dos trechos das gravações, o ex-executivo confirma a troca de favores entre as duas empreiteiras.

 

"Aí eu liguei pro mesmo diretor e disse: 'Olha, você lembra [...] eu quero que você faça a contrapartida aqui em Pernambuco'. Aí designei o diretor que estava estudando essa obra, um diretor de investimento que estava fazendo a previsão, para ele entrar em contato com o diretor da Andrade lá em Pernambuco - que era uma pessoa ligada ao Rodrigo Lopez - e eles fizeram lá o impedimento e fizeram a proposta", disse Pacífico.

 

Os custos de construção da Arena Pernambuco, segundo o governo, foram de R$ 532,6 milhões. As investigações sobre a obra foram encaminhadas para a Justiça Federal de Pernambuco.

 

Posicionamentos

Em nota divulgada nesta quarta, o Palácio do Buriti informou que não vai comentar os pedidos de investigação, porque o processo judicial está em andamento.

 

Também em nota, a Odebrecht disse entender que "é de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos específicos feitos pelos seus executivos e ex-executivos".

 

"A empresa colaborou com a Justiça, reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça e com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas", diz o texto.

 

A Andrade Gutierrez informou ao G1 que não vai comentar o assunto.

 

Em nota enviada nesta quinta (13), a Via Engenharia diz que "não tomou conhecimento do teor da delação da parceira e líder do consórcio, apenas teve acesso aos trechos divulgados pela imprensa". A empresa diz que desconhece as negociações, e que a Odebrecht, como líder do contrato, era quem administrava as relações com o cliente.

 

"A Via Engenharia informa ainda, para os devidos fins, que desconhece qualquer menção à empresa em envolvimento com operações sob investigação na esfera judicial local ou federal", diz.


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