15/04/2017 às 16h02min - Atualizada em 15/04/2017 às 16h02min

Arruda pediu R$ 8 milhões em propina para liberar condomínio no DF

De acordo com o ex-diretor da Odebrecht, as negociações prosseguiram até março de 2010, quando Arruda foi preso preventivamente e afastado do governo do DF em meio às investigações do mensalão do DEM. Mesmo assim, as pressões por pagamento teriam continuado.

Portal G1
 
 

A concretização de uma parceria público-privada do governo do Distrito Federal com a Odebrecht – o condomínio Jardins Mangueiral, com 8 mil unidades habitacionais – só foi possível com o pagamento de propina a políticos, afirma um dos delatores da Odebrecht. Segundo o ex-diretor Paul Elie Altit, o ex-governador José Roberto Arruda (PR) pediu R$ 8 milhões como contrapartida. No mandato seguinte, o secretário de Habitação Geraldo Magela (PT) teria pedido mais R$ 1,4 milhão para deslanchar projetos imobiliários. Informações do G1.

 

O G1 e a TV Globo não conseguiram retorno de Geraldo Magela. A defesa do ex-governador Arruda informou que não pretende comentar as delações da Odebrecht, nesse momento. Em nota, a Odebrecht diz que a avaliação das delações é “de responsabilidade da Justiça”.

 

À época da construção dos Jardins Mangueiral, Paul Elie Altit era presidente da Odebrecht Realizações Imobiliárias, um dos braços da empreiteira. Aos procuradores do Ministério Público Federal (MPF), ele informou que o empreendimento era “único no país”, e contava com financiamento alto, de R$ 700 milhões, da Caixa Econômica Federal.

 

“Nós resolvemos fazer uma composição com as empresas locais. Essas empresas dificilmente teriam condição de captar R$ 700 milhões de crédito”. Segundo ele, a Odebrecht ficou com 53% do empreendimento, e as firmas menores, com 47%.

 

“Então, com isso, nós tínhamos empresa local para poder dividir o risco. E, tinha empresa local que tinha algo que a gente não tinha, que era acesso político.”

 

‘Acesso político’ 

 

Esse “acesso político”, segundo Altit, era personificado pelo engenheiro civil Adalberto Valadão, então presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-DF). De acordo com a delação, ele era o “elo forte” de ligação entre o governo Arruda e as empresas locais de construção.

 

O G1 tentou contato com a atual gestão da Ademi-DF na tarde desta quinta (13), sem sucesso. A reportagem também não conseguiu localizar Adalberto Valadão, atual vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic).

 

“Ele [Valadão] não tinha a liderança da obra, a obra era conosco. Mas, a liderança política, as relações locais, aprovações, licenças, GDF, era o ‘seu’ Adalberto que tinha”, afirma o delator.

 

“Ele voltou dizendo que o governador Arruda estava demandando R$ 8 milhões de propina, por conta do contrato. A primeira reação foi bastante contra, de todos os sócios, e pediram a ‘seu’ Adalberto que voltasse pro ‘seu’ Arruda. E dissesse, ou que não se queria pagar, ou que, pelo menos, se reduzisse o valor de propina”.

 

Altit diz que Valadão levou o recado, e voltou aos empresários com uma negativa do então governador – “é preciso que se pague ao seu Arruda, ou não vai ter projeto”. Os empreiteiros teriam pedido, como alternativa, que os valores fossem repassados “na medida das vendas”, mas a pressão do Buriti teria continuado intacta.

 

De acordo com o ex-diretor da Odebrecht, as negociações prosseguiram até março de 2010, quando Arruda foi preso preventivamente e afastado do governo do DF em meio às investigações do mensalão do DEM. Mesmo assim, as pressões por pagamento teriam continuado.

 

“Nós identificamos no Drousys [sistema eletrônico que contabilizava os pagamentos] dois pagamentos. Um, de R$ 318 mil, e outro, de R$ 180 mil. Teriam sido destinados, na semana de 20 de setembro de 2010 a 24 de setembro de 2010, ao governador, através do senhor Adalberto”.

 

 Campanha de Magela

 

O governo mudou em 2011 mas, segundo Altit, as práticas seguiram inalteradas. Desta vez, o secretário de Habitação de Agnelo Queiroz (PT), Geraldo Magela, é quem teria recebido dinheiro para viabilizar empreendimentos.

 

De acordo com o ex-executivo da Odebrecht, a oferta em questão era relacionada a 50 mil unidades habitacionais no “segmento econômico” do Minha Casa, Minha Vida. Mais uma vez, a intermediação teria de passar por Adalberto Valadão – e, por isso, a empreiteira resolveu se aproximar do secretário.

“A gente não queria continuar, desculpe o termo que vou usar aqui, carregando seis empresas. Porque, no final da história, nós investimentos R$ 700 milhões, tomamos R$ 700 milhões com toda dificuldade na Caixa, a empresa de engenharia era nossa, etc, para os próximos projetos. Era uma aposta, sobretudo, de buscar uma aproximação [com Magela] e reduzir a dependência dos sócios locais”, afirma.

 

“E aí, foi tomada a decisão de dar um aporte, por fora, pra ele no valor de R$ 1,4 milhão para candidato, para que ele fosse candidato a senador. Ele acenara com as 50 mil casas mas, a bem da verdade, não posso mentir aqui e minha equipe é peremptória nisso, ele nunca disse ‘me dê dinheiro para a campanha que eu vou dar as 50 mil unidades’.”

 

O repasse, segundo Altit, foi feito entre março e outubro de 2014. Na eleição daquele ano, Magela ficou em terceiro lugar na disputa ao Senado – atrás do eleito Reguffe (sem partido) e do candidato à reeleição, Gim Argello (PTB).

 

‘Lista de Fachin’

 

Ao todo, o ministro Edson Fachin remeteu 201 pedidos de investigação a instâncias inferiores da Justiça Federal em todo o país, relacionados a pessoas sem foro privilegiado. O ministro também autorizou a Procuradoria Geral da República (PGR) a investigar 8 ministros, 3 governadores, 24 senadores e 39 deputados. Os pedidos se baseiam na chamada lista de Janot, feita com base em delações de ex-executivos da Odebrecht.

 

Em nota a respeito de todo o conteúdo das delações, a Odebrecht disse entender que “é de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos específicos feitos pelos seus executivos e ex-executivos”.

 

“A empresa colaborou com a Justiça, reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça e com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas”, diz o texto.

 

 

A concretização de uma parceria público-privada do governo do Distrito Federal com a Odebrecht – o condomínio Jardins Mangueiral, com 8 mil unidades habitacionais – só foi possível com o pagamento de propina a políticos, afirma um dos delatores da Odebrecht. Segundo o ex-diretor Paul Elie Altit, o ex-governador José Roberto Arruda (PR) pediu R$ 8 milhões como contrapartida. No mandato seguinte, o secretário de Habitação Geraldo Magela (PT) teria pedido mais R$ 1,4 milhão para deslanchar projetos imobiliários. Informações do G1.

 

O G1 e a TV Globo não conseguiram retorno de Geraldo Magela. A defesa do ex-governador Arruda informou que não pretende comentar as delações da Odebrecht, nesse momento. Em nota, a Odebrecht diz que a avaliação das delações é “de responsabilidade da Justiça”.

 

À época da construção dos Jardins Mangueiral, Paul Elie Altit era presidente da Odebrecht Realizações Imobiliárias, um dos braços da empreiteira. Aos procuradores do Ministério Público Federal (MPF), ele informou que o empreendimento era “único no país”, e contava com financiamento alto, de R$ 700 milhões, da Caixa Econômica Federal.

 

“Nós resolvemos fazer uma composição com as empresas locais. Essas empresas dificilmente teriam condição de captar R$ 700 milhões de crédito”. Segundo ele, a Odebrecht ficou com 53% do empreendimento, e as firmas menores, com 47%.

 

“Então, com isso, nós tínhamos empresa local para poder dividir o risco. E, tinha empresa local que tinha algo que a gente não tinha, que era acesso político.”

 

‘Acesso político’ 

 

Esse “acesso político”, segundo Altit, era personificado pelo engenheiro civil Adalberto Valadão, então presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-DF). De acordo com a delação, ele era o “elo forte” de ligação entre o governo Arruda e as empresas locais de construção.

 

O G1 tentou contato com a atual gestão da Ademi-DF na tarde desta quinta (13), sem sucesso. A reportagem também não conseguiu localizar Adalberto Valadão, atual vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic).

 

“Ele [Valadão] não tinha a liderança da obra, a obra era conosco. Mas, a liderança política, as relações locais, aprovações, licenças, GDF, era o ‘seu’ Adalberto que tinha”, afirma o delator.

 

“Ele voltou dizendo que o governador Arruda estava demandando R$ 8 milhões de propina, por conta do contrato. A primeira reação foi bastante contra, de todos os sócios, e pediram a ‘seu’ Adalberto que voltasse pro ‘seu’ Arruda. E dissesse, ou que não se queria pagar, ou que, pelo menos, se reduzisse o valor de propina”.

 

Altit diz que Valadão levou o recado, e voltou aos empresários com uma negativa do então governador – “é preciso que se pague ao seu Arruda, ou não vai ter projeto”. Os empreiteiros teriam pedido, como alternativa, que os valores fossem repassados “na medida das vendas”, mas a pressão do Buriti teria continuado intacta.

 

De acordo com o ex-diretor da Odebrecht, as negociações prosseguiram até março de 2010, quando Arruda foi preso preventivamente e afastado do governo do DF em meio às investigações do mensalão do DEM. Mesmo assim, as pressões por pagamento teriam continuado.

 

“Nós identificamos no Drousys [sistema eletrônico que contabilizava os pagamentos] dois pagamentos. Um, de R$ 318 mil, e outro, de R$ 180 mil. Teriam sido destinados, na semana de 20 de setembro de 2010 a 24 de setembro de 2010, ao governador, através do senhor Adalberto”.

 

 Campanha de Magela

 

O governo mudou em 2011 mas, segundo Altit, as práticas seguiram inalteradas. Desta vez, o secretário de Habitação de Agnelo Queiroz (PT), Geraldo Magela, é quem teria recebido dinheiro para viabilizar empreendimentos.

 

De acordo com o ex-executivo da Odebrecht, a oferta em questão era relacionada a 50 mil unidades habitacionais no “segmento econômico” do Minha Casa, Minha Vida. Mais uma vez, a intermediação teria de passar por Adalberto Valadão – e, por isso, a empreiteira resolveu se aproximar do secretário.

“A gente não queria continuar, desculpe o termo que vou usar aqui, carregando seis empresas. Porque, no final da história, nós investimentos R$ 700 milhões, tomamos R$ 700 milhões com toda dificuldade na Caixa, a empresa de engenharia era nossa, etc, para os próximos projetos. Era uma aposta, sobretudo, de buscar uma aproximação [com Magela] e reduzir a dependência dos sócios locais”, afirma.

 

“E aí, foi tomada a decisão de dar um aporte, por fora, pra ele no valor de R$ 1,4 milhão para candidato, para que ele fosse candidato a senador. Ele acenara com as 50 mil casas mas, a bem da verdade, não posso mentir aqui e minha equipe é peremptória nisso, ele nunca disse ‘me dê dinheiro para a campanha que eu vou dar as 50 mil unidades’.”

 

O repasse, segundo Altit, foi feito entre março e outubro de 2014. Na eleição daquele ano, Magela ficou em terceiro lugar na disputa ao Senado – atrás do eleito Reguffe (sem partido) e do candidato à reeleição, Gim Argello (PTB).

 

‘Lista de Fachin’

 

Ao todo, o ministro Edson Fachin remeteu 201 pedidos de investigação a instâncias inferiores da Justiça Federal em todo o país, relacionados a pessoas sem foro privilegiado. O ministro também autorizou a Procuradoria Geral da República (PGR) a investigar 8 ministros, 3 governadores, 24 senadores e 39 deputados. Os pedidos se baseiam na chamada lista de Janot, feita com base em delações de ex-executivos da Odebrecht.

 

Em nota a respeito de todo o conteúdo das delações, a Odebrecht disse entender que “é de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos específicos feitos pelos seus executivos e ex-executivos”.

 

“A empresa colaborou com a Justiça, reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades brasileiras e da Suíça e com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas”, diz o texto.


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