30/01/2021 às 07h07min - Atualizada em 30/01/2021 às 07h07min

Técnicos do IML pedem prioridade em vacinação após manusearem 6 corpos com Covid-19 em 1 dia

Os profissionais auxiliam diretamente os médicos-legistas nos procedimentos de análise e coleta de amostra dos cadáveres

Técnicos lotados no Instituto de Medicina Legal do Distrito Federal (IML) não foram incluídos no calendário prioritário de vacinação contra a Covid-19. Os profissionais têm contato diário com dependências de hospitais e, sobretudo, manejam corpos muitas vezes infectados pelo novo coronavírus. A categoria, por meio de associações e sindicatos pedem inclusão ao governo. No instituto, apenas os médicos-legistas serão imunizados.

Os profissionais auxiliam diretamente os médicos-legistas nos procedimentos de análise e coleta de amostra dos cadáveres. Com a pandemia e o alto grau de risco de contágio, o instituto precisou criar um plano de contingência para o enfrentamento à pandemia. Regras foram estabelecidas para a rotina de necropsia, remoção, descarregamento e entrega dos corpos. Os peritos deixaram de lado o bisturi e passaram a adotar a tomografia computadorizada no exame dos corpos.

Segundo o presidente da Associação dos Técnicos em Necropsia do IML (Asten-DF), José Romildo Soares, há uma negociação entre a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e a Secretaria de Saúde, mas ainda não é possível afirmar se os servidores poderão tomar a vacina.

“Já tivemos vários colegas que contraíram o vírus. Além de lidamos com corpos e suas secreções, estamos também em contato diário diário com a população nas ruas e no atendimento no próprio IML. Temos cerca de trinta técnicos em anatomia que estão diretamente ligados à função fim, remoções de cadáver e exame necroscópico. Eles precisam ser vacinados. Além disso, temos os técnicos em radiologia, que não possuem vínculo com a Secretaria de Saúde e também têm contato direto com cadáveres”, afirmou.

Os profissionais que atuam nos rabecões usam as mesmas roupas dos médicos que trabalham em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI). Contam ainda com óculos de proteção e máscaras. Ao chegar no local de remoção, as equipes usam um spray com solução de cloro ativo, que é borrifada no rosto e no tórax da vítima. Uma proteção de plástico também é colocada na cabeça da pessoa, pois, mesmo após a morte, ainda é possível ter ar nos pulmões. Ao ser manipulado, o corpo pode expelir o vírus, caso a vítima esteja contaminada.

Um técnico  informou que é comum corpos chegarem ao IML sem o diagnóstico de Covid-19. Amostras são colhidas e o diagnostico é feito pelos próprios peritos. Segundo o servidor, em apenas uma semana, foram identificados seis casos positivos para novo coronavírus.

O IML confirmou à reportagem que há tratativas junto à secretaria, com a intermediação da Policlínica da PCDF, no sentido de incluir os técnicos de necrópsia no calendário prioritário de vacinação. A diretoria do instituto também afirmou ter solicitado a inclusão de outras categorias que atuam no local, como técnicos de radiologia, motoristas de rabecão, pessoal da limpeza, enfermagem e médicos. Apenas os técnicos de necrópsia somam 48 pessoas.
“Alguns servidores dessas categorias, não obstante serem da área de saúde, como enfermagem e médicos, não trabalham em hospitais públicos ou privados, tendo como única área de atuação o IML”, detalhou.

Sobre os testes de Covid-19 feito em cadáveres, o IML detectou, em 2020, a positividade em 16 corpos. “Ressaltamos que esse número não reflete a real incidência, pois alguns casos já chegaram ao IML provenientes de hospitais, com testes positivos. Informamos ainda que não é feita a testagem em todos os cadáveres, apenas dos considerados suspeitos. No momento, o IML aguarda o parecer da SESDF, via Policlínica”, finalizou o instituto por meio de nota.
Plano de imunização
Iniciada em 19 de janeiro, a primeira fase da campanha foi direcionada a profissionais que atuam na linha de frente da saúde, além de idosos abrigados em asilos e indígenas. A próxima etapa planejada pretende imunizar mais de 50 mil pessoas. Os idosos com mais de 80 anos começam a ser vacinados a partir de segunda-feira (1/2)

Segundo a Secretaria de Saúde, foram recebidas 106.160 doses do composto, que irão imunizar 53.080 pessoas, em duas doses administradas no intervalo de 14 dias.

Questionada sobre a inclusão dos técnicos do IML, a Saúde informou que os grupos ainda não atendidos serão incluídos nas próximas fases da campanha, de acordo com o número de vacinas disponibilizadas pelo Ministério da Saúde.
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