09/02/2021 às 07h00min - Atualizada em 09/02/2021 às 07h00min

Auditoria vê “indício de desperdício” de R$ 1,3 mi para pintar Hospital de Campanha da PMDF

Inspeção da CGDF apontou possível superfaturamento em contrato da Secretaria de Saúde, além de projeto sem detalhamentos necessários

As obras do Hospital de Campanha da Polícia Militar do DF, as reformas no Centro Médico da corporação e a manutenção predial apresentam indícios de irregularidades desde o projeto inicial até a prestação de serviços. Inspeção da Controladoria-Geral do DF (CGDF) apontou possível superfaturamento, falta de elementos básicos para o orçamento de obras, além de desperdícios de recursos públicos.

Somente a pintura foi orçada ao valor de R$ 1,3 milhão. Apesar de todas as intervenções serem em unidades da PMDF, a gestão do contrato é da Secretaria de Saúde.A CGDF analisou a contratação emergencial de empresa especializada em engenharia civil para prestar serviços de manutenção predial pelo período de 180 dias. O acordo previa construção de abrigo de recipientes de resíduos, a fim de permitir o funcionamento de 86 leitos de terapia intensiva e 20 de retaguarda no Centro Médico da Polícia Militar do DF (PMDF), com área de 10.958,51 m². O montante do chamamento é de R$ 5,7 milhões.

O órgão de controle detectou diversas irregularidades na manutenção predial e construção de abrigo de recipiente de resíduos no centro. De acordo com o Relatório de Inspeção nº 1/2021, há, ainda, indícios de superfaturamento, de contratos com erro de execução e falta de dados, além de inconsistências na definição dos preços dos serviços.
 

Os auditores apontaram incongruências na cotação que fundamentou a definição do valor referência para a contratação, seguida pelo selo “Prioridade Covid-19”, o que possibilitou contratação emergencial.

De acordo com a inspeção da Controladoria, mesmo diante da complexidade das obras em ambiente hospitalar, nenhuma das empresas que fizeram proposta apresentou cálculos de previsão dos custos a partir da área da edificação. Além disso, não ficou comprovado que elas foram ao local antes de fazer o projeto.

“O tamanho do terreno, da obra, seria essencial para cotação razoável de preços. Foram três cotações com potenciais fornecedores”, diz o documento.

A inspeção foi realizada na Secretaria de Saúde, durante o período de 9 de julho de 2020 até o dia 24 do mesmo mês, a pedido do então secretário de Saúde, Francisco Araújo. Ele solicitou que fosse avaliada a conformidade da contratação de empresa.

17 minutos

Outro problema encontrado pela CGDF foi o tempo de preenchimento das propostas – incompatível com a complexidade dos serviços. Três empresas concorreram pelo contrato: Engemega, que levou 17 minutos para preencher proposta de R$ 7,3 milhões; a COSS, que gastou 59 minutos e a CDL, 59 minutos.

Assim, a CGDF encontrou forte similaridade entre propostas, além da falta de requisitos básicos para a contratação pelo poder público, como elaboração de planilha com preços dos serviços. “As propostas das empresas Engemega e COSS Construções são praticamente iguais, pois a diferença entre as duas propostas é considerada irrelevante.”

Há, ainda, ausência de detalhamento de dados essenciais para uma razoável cotação de preços. “Não foi fornecida planilha com a quantificação mínima requerida dos profissionais envolvidos na execução dos serviços, nem a planilha de materiais e suas especificações, bem como não indicou um índice de reaproveitamento dos materiais em uso nas instalações elétricas, hidráulicas e de incêndio do Centro Médico a fim de uniformizar as propostas de preços.”

Reprodução

Inspeção da CGDF sobre Centro da PMDF

Inspeção da CGDF sobre Centro da PMDF

 
Pintura cara

A CGDF questiona ainda o valor de pintura do Centro Médico da PMDF. Segundo a inspeção, não há como afastar a possibilidade de sobrepreço “decorrente de quantidades de serviços superiores às efetivamente necessárias”.

O valor da pintura predial, por exemplo, custou 25% de todo o valor contratual, ou seja, um montante de R$ 1.361.800,00 foi destinado apenas para a realização de serviços de pintura da edificação do Centro Médico.

1
Recomendações

Diante das suspeitas, a CGDF considerou ter havido falhas graves na contratação e, por isso, pediu que a Secretaria de Saúde instaure, em até 30 dias, procedimento apuratório. Além disso, a pasta que é responsável por esses contratos, mesmo o hospital sendo da PMDF, deve determinar o acompanhamento da execução.

A CGDF exige a verificação detalhada das “obrigações contratuais, fazendo constar em relatório circunstanciado as condições de fornecimento dos materiais e equipamentos para a correta quantificação dos serviços objeto da contratação e exclusivos ao atendimento e funcionamento dos leitos de UTI do Centro Médico da Polícia Militar do DF, sendo que os pagamentos realizados deverão ser posteriores à emissão do referido relatório e à correção de eventuais irregularidades apontadas”.

O que diz a Secretaria de Saúde

Procurada, a Secretaria de Saúde informou que irá acatar as recomendações da Controladoria-Geral do DF.


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »