15/02/2021 às 07h17min - Atualizada em 15/02/2021 às 07h17min

"Vacina é prioridade zero", diz Flávia Arruda, nova presidente da CMO

Eleita presidente da Comissão Mista de Orçamento, a parlamentar do DF enfatiza a urgência da imunização contra a covid-19 e diz que "não pode e não vai faltar dinheiro" para comprar doses. Ela também defende a retomada do auxílio emergencial com responsabilidade fiscal

Ela já foi coadjuvante. Entrou na vida pública como primeira-dama do Distrito Federal, mulher de um governador com personalidade, José Roberto Arruda, que desperta ódios e paixões. Eleita com 121.340 votos, Flávia Arruda (PL-DF), aos poucos, conquista seu espaço próprio. Foi a mais votada da bancada do DF na Câmara. Em dois anos de mandato, tornou-se a primeira deputada a assumir a presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso. Por aclamação.
 

A disputa rolou nos bastidores no ano passado. O então presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), preferia o deputado Elmar Nascimento (DEM-BA) e não instalou a comissão porque seria derrotado. Flávia Arruda era candidata única do Centrão. Com a vitória de Arthur Lira (PP-AL), eleito com o apoio dessa bancada, as portas foram abertas.

Na semana passada, a CMO iniciou os trabalhos (foto abaixo). Nas mãos da deputada de Brasília fica a atribuição de conduzir a aprovação de um projeto de lei orçamentário que está atrasado. Em dois meses, é preciso aprovar o Orçamento de 2021, com duas dificuldades quase intransponíveis: recriar o auxílio emergencial sem ainda ter a fonte de financiamento e garantir recursos destinados à compra de vacinas contra a covid-19 para proteger uma população de 200 milhões de habitantes.

A imunização, segundo Flávia Arruda, é prioridade total. Mas não se pode permitir que as pessoas morram de fome por causa da crise provocada pela pandemia. Tarefa difícil.

O Congresso vai conseguir aprovar o Orçamento de 2021 até abril, como prevê o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco?

Temos de aprovar o Orçamento até o fim de março, para o país andar, para o governo ter condições de tocar os projetos prioritários. Esse atraso foi muito ruim, mas as eleições do deputado Arthur Lira e do senador Rodrigo Pacheco pacificaram o ambiente político.

Vai ter um novo auxílio emergencial? Em que condições?

A crise social é grave. Quem tem fome tem pressa. Eu defendo um novo auxílio emergencial, nos limites do possível.

O presidente Jair Bolsonaro disse que vai precisar fazer dívida para pagar o auxílio. De onde vai sair o dinheiro?

O relator do Orçamento, senador Marcio Bittar, e eu tivemos uma primeira reunião com o ministro Paulo Guedes, e nossas equipes técnicas estão trabalhando. Vamos encontrar caminhos.

Ao assumir a CMO, você disse que a prioridade são as vacinas. Os recursos para compra de imunizantes estão assegurados?

A vacina é prioridade zero. Não pode e não vai faltar dinheiro.

Como é possível acelerar a aquisição de vacinas?

Essa é uma responsabilidade do Poder Executivo. O mundo todo está correndo atrás das vacinas. Não podemos ficar para trás. Não podemos perder mais vidas.

Como presidente da CMO, é possível ajudar o Distrito Federal?

A bancada do DF já tem ajudado muito, destinando emendas importantes para a saúde, para escolas, creches e outras obras. Vamos continuar trazendo recursos para Brasília. Creio que, na presidência da Comissão Mista do Orçamento, vou poder ajudar ainda mais.

Qual é a prioridade aqui?

Vamos ouvir o governador Ibaneis (Ibaneis Rocha) e definirmos juntos, com os senadores e deputados, as prioridades do DF já na próxima semana.

Dá para pensar em reajuste para as forças de segurança?

O momento é muito difícil para qualquer aumento de despesas, tanto no plano federal como nas unidades da Federação. O cobertor é curto. As prioridades, repito, são a vacina, o auxílio emergencial para quem está passando fome e a retomada da economia e dos empregos, que só acontecem se soubermos atender as duas primeiras prioridades sem desorganizar a economia, sem crescer a dívida pública. Mas, mesmo em tempos difíceis, não dá para viver sem esperança.

Você é amiga de Rodrigo Maia, mas apoiou Arthur Lira na eleição para a presidência da Câmara. Como lidou com isso?

Quando a conversa é franca, a amizade é longa. Sou amiga do Rodrigo e muito amiga do Arthur. Rodrigo foi o primeiro a quem eu disse que seguiria a orientação do meu partido, e da minha consciência, e votaria no Arthur, que reuniu as condições políticas para dar estabilidade às relações institucionais, num momento em que já temos crises grandes demais.
 

Ficou alguma mágoa da parte dele?

Tenho certeza de que não. Já tivemos outras discordâncias políticas e isso nunca afetou nossas relações pessoais. Ele, inclusive, já esteve na minha casa depois que deixou a presidência. Eu não deixo eventuais discordâncias afetarem relações pessoais. Aliás, precisamos acabar com esse radicalismo que divide amigos e até familiares. Podemos ser capazes de ter posições diferentes num clima de diálogo e respeito.

Com Arthur Lira na presidência da Câmara, o Centrão vai reivindicar mais espaço no governo Bolsonaro?

O que eu penso é que num presidencialismo de coalizão é fundamental o presidente fazer composições políticas com o Congresso e estabelecer uma maioria parlamentar.

Acredita que Bolsonaro vai recriar o Ministério do Planejamento?

Não tenho essa informação. O que eu acho é que a crise da covid é a maior da nossa geração. E as consequências econômicas e sociais são muito grandes. Dar estabilidade econômica para o país voltar a receber investimentos é fundamental. Por isso, meu primeiro gesto como presidente da Comissão Mista do Orçamento, com o relator, o senador Marcio Bittar, foi visitar e estabelecer um diálogo com o ministro Paulo Guedes.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, fala em aprovar o auxílio emergencial por meio da PEC da Guerra. O governo não se preparou para uma pandemia prolongada?

Nenhum governo de nenhum país esperava uma tragédia como esta. A questão é como cada um reagiu à pandemia. Mas a hora não é de procurar culpados e, sim, de encontrar soluções. E a única saída é a vacina. E rediscutir a PEC da Guerra pode ser realmente necessário para termos mais alguns meses de auxílio emergencial.
 

Acha que teremos um ano mais difícil em termos econômicos do que 2020, com a lentidão naimunização da população e novas cepas de coronavírus surgindo?

Tenho muita esperança de que o mundo, por meio da ciência, vai vencer o vírus. Mas este ainda será um ano muito difícil. Teremos vários desafios para enfrentar além da vacina. Vivemos uma crise social grave, em que milhões de brasileiros não têm comida na mesa. Isso é grave e urgente. Por isso, eu defendo o auxílio emergencial com responsabilidade fiscal.

Você foi a deputada mais votada do DF. Chegou à Câmara e assumiu a presidência da Comissão Externa de Combate à Violência contra a Mulher. Agora, a presidência da CMO. Quais são os próximos planos?

Vivemos o momento mais difícil da nossa geração. Qualquer projeção futura de caráter político ou pessoal, neste momento, seria irresponsável. Meu foco é ajudar o Brasil e Brasília a saírem desta crise.

Acha que você está fazendo um bom trabalho?

Eu me dedico ao máximo para fazer o melhor, mas esse julgamento não cabe a mim.

 


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