Originalmente, a cloroquina é receitada para diagnósticos de malária, por exemplo, mas acabou defendida publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido, foto em destaque) como protocolo precoce contra a Covid-19, argumento rebatido por estudiosos e cientistas. O Ministério da Saúde chegou a incluir a fórmula no protocolo da União em aplicativo oficial para evitar casos mais graves da doença.
Em dezembro, o repórter Lucas Marchesini, do Metrópoles, revelou que, com a segunda onda da Covid-19 no Brasil, voltou a crescer a procura por cloroquina e hidroxicloroquina em farmácias privadas. A alta aconteceu apesar de diversos estudos já terem demonstrado que a substância é ineficaz no combate ao novo coronavírus. Em novembro, por exemplo, houve aumento de 23,7% na venda dos medicamentos na comparação com outubro.
As informações foram extraídas do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), que “monitora as movimentações de entrada (compras e transferências) e saída (vendas, transformações, transferências e perdas) de medicamentos sujeitos à escrituração no SNGPC comercializados em farmácias e drogarias privadas do país”, explica a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em outra reportagem, esta de janeiro passado, o jornalista indicou que o DF liderou o ranking de população que proporcionalmente mais comprou hidroxicloroquina durante a pandemia, com 784 caixas do remédio para cada 100 mil habitantes. Em seguida foi o Rio Grande do Sul (671 para cada 100 mil pessoas) e Goiás, com 612 para cada 100 mil.
Em outubro de 2020, a Organização Mundial da Sáude (OMS) concluiu que a cloroquina e outros remédios eram ineficazes no combate ao novo coronavírus. O estudo demonstrou que Remdesivir, hidroxicloroquina, Lopinavir e Interferon têm “pouco ou nenhum efeito em pacientes hospitalizados com Covid-19”.
A aposta de Bolsonaro na cloroquina teve diversos efeitos. Além de promover um medicamento que não funciona no combate à Covid-19, há um estoque encalhado do composto em diversas cidades brasileiras.
Para se ter ideia, o Exército Brasileiro entrou em campo para buscar o medicamento e, apesar de negociar a compra de cloroquina há anos com diversas empresas do mercado, apenas consultou duas organizações para a oferta da substância em 2020. As instituições procuradas foram a Sul Minas, escolhida para a aquisição, e a MCassab, procurada um mês depois da compra.
Atualmente, o Tribunal de Contas da União (TCU) investiga a Sul Minas e o Exército por superfaturamento do produto. A empresa vendeu cloroquina à corporação por um valor 167% mais alto do que havia cobrado anteriormente.
Procurada, a Secretaria de Saúde confirmou ter recebido 72 mil comprimidos de cloroquina por parte do Ministério da Saúde. “É importante ressaltar que, uma vez que qualquer medicamento é encaminhado para alguma unidade de Saúde, fica à disposição da equipe médica para ser ministrado, ou receitado, conforme a necessidade de cada paciente. Logo, não é possível saber o quantitativo do medicamento que foi receitado ou ministrado como combate à Covid-19 no DF”, frisou.
A pasta esclareceu que os medicamentos encaminhados pelo Ministério da Saúde são enviados para atender determinado programa. “A cloroquina antes da pandemia, tinha o código de um programa diferente, e era utilizada para tratamento da malária. Por isso, não há como fazer comparativo entre os dois períodos, de forma que são tratamentos e doenças diferentes”, completou.