Em meio a trocas de comando e a uma crise financeira no Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), documento ao qual o Metrópoles teve acesso mostra que o então controlador interno do órgão, Bruno Araújo Beserra Lago (foto em destaque), determinou mudança em sua própria remuneração que repercutiu em aumento de quase 100%.
O ato oficial assinado por Bruno Lago fez a remuneração mensal dele saltar de R$ 13.647,17 para R$ 26.471,00.
Veja o documento assinado por Lago:
Aumento salarial Iges
O encaminhamento para a autopromoção foi publicado no Boletim de Atos Oficiais do Iges-DF, em 12 de fevereiro. Bruno Lago assina o documento. Na ocasião, o controlador também reajustou os salários de 12 funcionários. Em alguns casos, os valores saltaram de R$ 8.664,80 para R$ 17.010,66, aumento de 96,2%.
Bruno Beserra Lago teve a expectativa de ver os R$ 26,4 mil entrarem na conta por apenas sete dias. Ele não chegou a receber a quantia, pois o aumento do então controlador e dos outros colegas foi vetado pelo Conselho de Administração do Iges-DF, e Bruno acabou sendo exonerado do instituto.
O colegiado é formado por Osnei Okumoto; pelo diretor-presidente interino do Iges, Marcelo Oliveira; pela vice-presidente, Mariela Souza; pela diretora de Inovação, Ensino e Pesquisa, Emanuela Dourado Ferraz; e pelo diretor de Atenção à Saúde, Jair Tabchoury Filho.
Bruno Lago foi exonerado em 18 de fevereiro. No dia seguinte, o Núcleo de Cadastro do Iges-DF solicitou a nulidade dos aumentos. O cancelamento ocorreu conforme orientação da Superintendência da Unidade de Apoio, Gerência de Recrutamento, Seleção e Dimensionamento e Gerência Geral de Pessoas. Em 22 de fevereiro, o ato foi confirmado.
Bruno Lago afirmou que a determinação de aumento para ele e para a equipe “tratou-se de pedido de readequação salarial, de acordo com normas da CLT e conforme prevê plano de cargos e salários do Iges”. Segundo o ex-controlador interno, havia disparidade salarial entre a equipe dele e o que é previsto nas normas do instituto.
Além disso, Bruno alega que teve seu salário reduzido na gestão de Paulo Ricardo Leite, em novembro de 2020. Durante dois meses (setembro e outubro de 2020), o ex-controlador interno afirma ter recebido R$ 22,7 mil. Os valores estão registrados no Portal da Transparência do Iges. Entre abril e agosto, antes de ser promovido ao cargo de comando, Bruno Lago atuava como assessor jurídico, com remuneração de R$ 8 mil.
Tanto o cargo de controlador quanto o de assessor são de livre provimento, ou seja, não estão submetidos a concurso público e dependem da escolha do gestor. A partir de novembro, o salário para essa mesma função de controlador interno passou a ser de R$ 13.647,17, conforme consta no Portal da Transparência.
Em um outro documento, registrado no SEI, Bruno Lago assina um termo manifestando-se sobre a possibilidade de o Iges acatar sugestão das faixas salariais para três cargos, entre os quais o seu próprio, que, àquela altura, foi fixado em R$ 13 mil. “Eu assinei o documento com o pedido e aceitei a redução salarial por pressão”, disse à Coluna Grande Angular.
Quando o ex-presidente do Iges Paulo Ricardo Leite deixou o cargo, Bruno Lago decidiu assinar o ato para aumentar seu salário. Ele disse ter considerado merecer reajuste “pelo excelente trabalho realizado de fiscalização e apontamento de falhas na gestão”. Aproveitou e estendeu a promoção a todos os colegas. “Havia uma defasagem nos salários e desvio nos cargos exercidos na minha equipe”, assinalou.
Após a exoneração de Bruno Araújo Beserra Lago, assumiu a controladoria interna Eduardo Luiz Corrêa da Silva, que era chefe da compliance e governança do Iges-DF, setor que faz parte da controladoria. Silva entrou com o salário de R$ 13,6 mil.
Veja a tabela em que Bruno Beserra Lago aumenta o próprio salário, mesmo sem mudar de cargo:
Aumento Iges-DF
Veja o ato que cancelou os aumentos:
Reprodução
A mudança de salário que Bruno Beserra Lago tentou emplacar ocorreu em um momento turbulento no Iges-DF, com trocas na presidência do instituto e investigação do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), que apura gastos supostamente superfaturados.
As movimentações para os aumentos salariais de Bruno e sua equipe tiveram início, segundo o Memorando n° 36/2021, em 1º de fevereiro. Três dias depois, o então presidente, Paulo Ricardo Silva, foi afastado do cargo após uma série de acusações da diretoria-executiva do Iges-DF, inclusive de uso político da controladoria interna do instituto, conforme mostrou a coluna Grande Angular.
No mesmo dia, assumiu interinamente Marcelo Oliveira Barbosa. Ele ocupava a função de diretor de Administração e Logística da entidade e foi indicado pelo Conselho de Administração do instituto.
Pouco tempo depois, a partir de uma costura política, o governador Ibaneis Rocha (MDB) escolheu Gilberto Occhi para assumir o comando do Iges-DF com a promessa de sanear os rastros de má gestão no instituto.