No mesmo dia em que o Brasil completa um ano do primeiro caso de coronavírus identificado no país, a vacinação contra a doença ainda caminha a passos lentos, sem conseguir cumprir cronogramas e com a imunização para os grupos prioritários restrita a uma pequena parcela dos cidadãos mais vulneráveis à doença.
Com cerca de 3 milhões de habitantes, o Distrito Federal tem hoje 346,2 mil idosos entre 60 e 80 anos ou mais. Isso representa 11,3% da população local. Porém, só aqueles com 79 anos ou mais começaram a receber o imunizante. Eles representam 48.525 indivíduos na capital. Ou seja, até o momento, quando se fala em pessoas com mais de 60 anos, significa que 1,6% dos moradores da capital tiveram a oportunidade de receber a vacina contra a Covid-19.
Nesta sexta-feira (26/2), a campanha de imunização contra o novo coronavírus no DF será ampliada para a população de 76 a 78 anos. Isso representa 29.231 pessoas, segundo dados da Companhia de Desenvolvimento do DF (Codeplan). Assim, elas ficam dentro de quantitativo de 303,8 mil idosos que ainda precisam ser vacinados com a 1ª e a 2ª doses da vacina antes de outros grupos.
Após receber 25,5 mil doses da AstraZeneca, no dia 24 de fevereiro, o Governo do Distrito Federal conseguiu ampliar a campanha de vacinação contra a Covid-19, mas não da maneira que planejava. A intenção do Executivo distrital era incluir pessoas de 75 até 79 anos. Porém, a conta não fecha. O DF tem hoje 9.363 idosos com 75 anos, e as doses recebidas só contemplam as 29.231 pessoas que têm entre 76 e 78 anos porque a capital ainda conta com lotes anteriores.
Com a expectativa de receber mais 11 mil doses da Coronavac em março, o DF espera começar a vacinação de pessoas com 75 anos. Mas, se for programada a 2ª dose, dificilmente isso será possível sem o governo federal disponibilizar outra remessa de imunizantes para o DF.
Nesta quinta-feira (25/2), o governador Ibaneis Rocha (MDB) voltou a afirmar que o GDF não pretende comprar vacinas contra a Covid-19. “Confio no Plano de Imunização Nacional e acho um erro a gente começar a entrar nesta guerra”, disse, durante agenda em Santa Maria. O chefe do Executivo local reiterou esperar que as 11 mil doses da Coronavac cheguem ao DF em março.
O GDF embasa todas as suas ações de vacinação em um plano elaborado com as fases a seguir. As doses a serem usadas têm por base os dados populacionais da Codeplan por idade, aos quais o Metrópoles teve acesso (veja arte abaixo).
Para concluir a primeira fase de imunização no DF, que inclui trabalhadores da saúde, população idosa a partir dos 75 anos de idade e pessoas com 60 anos ou mais que vivem em instituições de longa permanência (como asilos e instituições psiquiátricas), entre outras, o DF precisaria ao menos fechar o ciclo de vacinação das pessoas na faixa dos 75 aos 80 anos ou mais. Isso significa, somente para os idosos, 80.950 imunizados.
Somente após concluir essa etapa, a segunda fase poderá ser iniciada, contemplando a parcela populacional de 60 a 74 anos.
Veja os dados populacionais por grupos etários e idades:
Quando é avaliado o total de pessoas com idade entre 60 e 64 anos no DF, chega-se ao número de 116,3 mil. Levando em consideração que são necessárias duas doses das vacinas usadas na capital para que o ciclo de imunização contra a Covid-19 seja concluído, será preciso, somente nessa faixa etária, 232,6 mil doses para sair da segunda fase de prioridades.
Após concluir a segunda fase, o plano prevê a imunização de pessoas com comorbidades que apresentam maior chance para agravamento da doença. É o caso de indivíduos com diabetes mellitus; hipertensão arterial grave; doença pulmonar obstrutiva crônica; doença renal; doenças cardiovasculares e cerebrovasculares; indivíduos transplantados de órgão sólido; além de pessoas com anemia falciforme, câncer e obesidade grave (IMC≥40).
A quarta fase de imunização inclui profissionais de segurança e professores. Os profissionais da educação voltam à ministrar aulas na rede pública de ensino do DF em 8 de março, quando nem a primeira fase, com idosos de 75 anos vacinados, deve ter sido concluída devido à falta de imunizantes.
Antes da chegada das 25,5 mil doses da AstraZeneca, nesta semana, a campanha de vacinação na capital federal chegou a ser paralisada em alguns postos. Na terça-feira (23/2), a Superintendência da Região Central da Secretaria de Saúde informou que a aplicação da primeira dose da vacina contra Covid-19 estava suspensa no DF em algumas unidades.
Após a entrega do novo lote, foi anunciada a imunização de idosos de 76 a 78 anos. Essa parte da programação no Distrito Federal agora será feita exclusivamente mediante agendamento, pelo site vacina.saude.df.gov.br. A plataforma digital para a marcação da primeira dose está disponível ao público-alvo.
A vacinação ocorrerá em 42 pontos, sendo 13 por drive-thru. A lista e os horários de funcionamento das unidades que realizam a imunização contra a Covid-19 estão disponíveis aqui.
Questionada sobre as idades, os grupos e as doses de vacina para o DF, a Secretaria de Saúde não respondeu pontualmente às questões e indicou o seguinte link à reportagem: http://www.saude.df.gov.br/gdf-inclui-nova-fase-no-plano-de-vacinacao-contra-a-covid-19/.
Até o momento, segundo dados do site oficial da pasta, o DF recebeu 173.560 doses da Coronavac e 66,5 mil da Covishield. Ao todo, foram 240.060 doses. Do grupo prioritário, que inclui profissionais de saúde, entre outros, além dos idosos de 79 anos ou mais, já foram vacinadas, até a quinta-feira (25/2), 119.747 pessoas.
Dados da Diretoria de Vigilância Epidemiológica, atualizados em 19 de fevereiro, apontam que 60.514 trabalhadores da saúde foram vacinados. Dos demais públicos imunizados, os idosos com idade igual ou superior a 80 anos vêm em seguida, com 47.063 indivíduos. A soma de idosos supera 54 mil já vacinados: os que estão em situação de risco, abrigos e instituições de longa permanência, na faixa dos 60 aos 75 anos, já foram imunizados.
A Coronavac é produzida pelo Instituto Butantan, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. A Covishield é desenvolvida pela universidade inglesa de Oxford, com a farmacêutica sueco-britânica AstraZeneca. Cerca de 5% do total de doses recebidas é reservado tecnicamente para repor eventuais perdas.
A Coronavac tem intervalo de aplicação entre as doses de 14 a 28 dias. Devido a isso, metade do quantitativo recebido é reservado para a segunda aplicação. Já com a vacina de Oxford, esse intervalo é de até 90 dias. Por causa desse tempo, o Ministério da Saúde recomendou que todas as doses dessa marca fossem utilizadas.