Relatório mais atualizado da Secretaria de Saúde (SES-DF), divulgado na noite de ontem, mostra que a capacidade dos leitos de UTI para adultos na rede pública está em 98,50%. Há apenas quatro vagas disponíveis. Na rede particular, a situação é semelhante. Com capacidade em 96,18%, os hospitais privados dispõem de 11 vagas (veja leitos).
Os índices de transmissibilidade da covid-19 estão em 1,28 — cada 100 pessoas infectadas passam o vírus para outras 128 —, divulgou o GDF, ontem, durante coletiva de imprensa. “Essa taxa já esteve, nas três primeiras semanas de fevereiro, uma oscilação de até 1,03 e, nas últimas semanas, chegamos a 1,38. Tivemos um avanço, mas temos que entender a necessidade desse controle. A melhor gestão não é somente disponibilizar leitos, mas conter a disseminação. As pessoas precisam estar menos aglomeradas”, alertou o secretário-adjunto de Assistência à Saúde, Petrus Sanchez.
Para desafogar o sistema de saúde, o governador Ibaneis Rocha (MDB) pretende ativar novos leitos de UTI. O emedebista avaliou, ainda, a possibilidade de alugar quartos de hotéis para a abertura de leitos destinados à recuperação de pacientes, mas não deu mais detalhes sobre a medida. No ano passado, alguns hotéis foram habilitados a hospedar profissionais da saúde, idosos e agentes penitenciários do sistema prisional da capital.
Outro esforço do GDF é a abertura de três novos hospitais de campanha para o tratamento de pacientes com coronavírus. Cada unidade terá até 100 leitos, podendo chegar a 300 novos. Segundo o chefe do Executivo local, as unidades serão instaladas em Santa Maria, no Gama e no Ginásio Nilson Nelson, no Eixo Monumental. O prazo de execução estipulado pelo GDF para a montagem de cada hospital é de 20 dias e o investimento ficou em R$ 36 milhões.
Na coletiva, o secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha, alertou a população e disse que os profissionais de saúde estão trabalhando no limite. “Até amanhã (hoje) serão abertos mais 30 leitos, que também serão preenchidos imediatamente, porque há uma fila com mais de 130 pessoas aguardando uma vaga. Falamos aqui que havia uma concentração maior à noite, por causa dos jovens. Alguns não gostaram da forma como foi abordado e falaram que, caso ficassem doentes, iriam para o hospital privado. Mas o que eu tenho para dizer é que, nem os hospitais particulares têm vagas. Não adianta achar que só por ter condição financeira melhor ou plano de saúde, vai conseguir vaga”, frisou.
Ontem, o Hran decretou “bandeira vermelha” e restringiu o atendimento apenas para pacientes em estado grave em decorrência do novo coronavírus. Procurada pela reportagem, a Secretaria de Saúde informou que, devido ao aumento acentuado de casos da covid-19 no DF nos últimos dias, o Hran está operando além da capacidade. Dessa forma, a bandeira vermelha limita o atendimento a casos graves, com risco de morte. “Isso ocorre sempre que a insuficiência de estrutura física impede o acolhimento de novos pacientes”, afirmou a SES-DF.
Para Carla Pintas, professora do curso de saúde coletiva da Universidade de Brasília (UnB), as medidas de restrição devem ser seguidas duramente. “Não é hora de frequentar salão, ir ao bar ou fazer festas. O risco de contaminação é grande. O que estamos passando é muito sério. Os acontecimentos recentes mostram o quanto tem aumentado o número de casos de covid-19 no DF. A doença não tem escolhido quem vai pegar, não temos como prever”, alertou.
Existem pelo menos quatro novas variantes da covid-19 circulando na capital. A informação foi confirmada pela SES-DF de acordo com as amostras analisadas pelo Laboratório Central da Secretaria de Saúde (Lacen-DF). As novas cepas são: P1, P2, B.1.1.28 e B.1.1.143.
A pasta informou que, desde fevereiro, o Lacen vem realizando testes em parceria com alguns pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) para identificar as novas cepas. De acordo com o órgão, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Divep) também está atuando na coordenação de estudos direcionados para detectar o ponto de transmissão das variantes, o rastreamento dos pacientes e o estudo epidemiológico da doença.
O anúncio das cepas aconteceu logo após o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, confirmar, em entrevista coletiva, a presença delas. “Já há a identificação de, pelo menos, duas variantes importantes”, disse. Nas redes sociais, Ibaneis Rocha se pronunciou sobre a situação. “São cepas com um índice de transmissão maior e também geram uma internação e uma recuperação mais demoradas”, disse.
O chefe do Executivo local também pediu ajuda para frear a crise sanitária no DF. “Precisamos contar com o público jovem no combate a esse vírus porque se continuarem desrespeitando o isolamento, a situação vai ficar mais e mais grave”, concluiu.
De acordo com a Saúde, a variação B.1.128 foi uma das primeiras a circular. Sobre a B.1.1.143, a pasta disse apenas que “é uma outra linhagem que também já é identificada em diversos estados”. A P2 se refere à variante encontrada no Rio de Janeiro e a P1 é a encontrada em Manaus, em janeiro deste ano.
Risco de agravamento
“A presença de novas cepas representa um risco. Mas elas já estão circulando há meses e temos percebido nas diferentes regiões. A questão é que o número de testes que o governo brasileiro conseguiu organizar nessa rede de vigilância genômica é muito pequeno. Então, demoramos a perceber que estava circulando em uma região, mas já era um fato dado com todas as equipes de vigilância que tínhamos essa mutação presente em praticamente todo o país.
É possível que parte do aumento dos casos seja por causa dessas variantes, mas acreditamos que o crescimento seja cada vez maior porque a população deixou de adotar as medidas de segurança e que o efeito desses feriados de início de ano e comemorações tiveram papel importante na perda de controle que estamos vivendo agora.
A tendência da pandemia é que ela se agrave, sim, independente da variante. Pelo menos no mês de março e talvez uma parte de abril vamos ter cenários muito tristes se não conseguirmos efetivar ações de lockdown que reduzam o isolamento físico das pessoas.
Precisamos rastrear os contatos, fazer mobilização dessa testagem laboratorial para encontrar cada um desses casos, organizar redes de apoio social e econômico para que essas pessoas possam ficar isoladas em períodos de quarentena e reforçar as ações de fortalecimento sanitárias para que as medidas estejam incorporadas. O cenário atual com um lockdown relativo, ou seja, só com uma parte da população isolada e alguma parcela dos serviços fechados, é muito pouco provável que a gente veja redução do número de casos."