Vice-líder do grupo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o deputado José Nelto (Podemos-GO) afirmou que o rearranjo no Executivo é resultado direto do discurso de Lira na semana passada, quando o parlamentar alertou o governo que acendeu uma luz amarela, que não havia mais como errar no combate à pandemia, e que os remédios políticos "podem ser fatais". "Não tenha a menor dúvida. O Lira mandou um recado e o presidente abriu as portas do Palácio para o Centrão. Sem apoio político, ninguém governa. Porque a Dilma caiu? Ela perdeu apoio popular e político. Vamos torcer para que dê certo. O povo está sofrido, cansado e quer resultado. Tenho que acreditar que possa mudar alguma coisa", afirmou.
Nelto demonstrou preocupação quanto à saída do ministro da Defesa, Fernando Azevedo Silva. "Me preocupa muito a saída do ministro Fernando. Tem que saber o motivo. Se vai haver mais trocas nas Forças Armadas, como Exército, Marinha e Aeronáutica. O papel das Forças Armadas é cumprir a Constituição. Não permitindo tentativa de golpe", afirmou. O deputado Hildo Rocha (MDB-MA) destacou que, apesar da dança das cadeiras, há pouca alteração real no governo, que "trocou seis por meia dúzia". "Você leva o Braga Neto para o Comando do Exército, ele já estava na Casa Civil. Leva o Ramos para a Casa Civil, ele já estava articulação política. Poucas mudanças aconteceram", opinou.
Para Hildo Rocha, Flávia Arruda terá dificuldades de lidar com outros ministros, principalmente, por conta da forte carga ideológica dos nomes próximos a Bolsonaro. "Vão queimar a Flávia. Os ministros não respeitavam o Ramos, não vão respeitar ela. Falta uma postura do presidente de pedir para os ministros respeitarem as orientações da Secretaria de Governo. Quanto ao Itamaraty, vamos esperar para ver qual vai ser a atitude. Esses últimos anos foram muito ruins. Brigamos com todos os parceiros comerciais", destacou. Sobre as mudanças das Forças Armadas, o deputado minimizou. "Nossa democracia é forte e consolidada. Sem apoio político, não há golpe. Mesmo que tivesse apoio do Exército, sem a Câmara e o Senado, não teria êxito", disse.
O líder do PT, deputado Bohn Gass (RS), destacou que o país enfrenta o pior momento da pandemia até agora, com perspectivas ruins de combate, e as mudanças não conversam com a realidade. "Estamos na pior crise da pandemia e o governo não mexe em nada para sinalizar o pior problema que vivemos no Brasil. Não mexe em nada para ter vacina. É um rearranjo interno. Mas dá pra perceber uma nítida preocupação em não pagar a conta pelo negacionismo que ele sempre defendeu. O ministro da Justiça na AGU é a busca de uma proteção maior para sua família e seu aparelhamento, e um sinal para o Centrão no momento que ele estava cobrando fortemente uma postura diferenciada", avaliou.
O líder do Podemos no Senado, senador Álvaro Dias (PR), afirmou ao Correio que Bolsonaro tenta retomar as rédeas do poder sobre o Ministério das Relações Exteriores e o da Defesa. "Em relação ao MRE, havia uma pressão forte dos próprios diplomatas, além dos políticos. O ambiente estava conturbado. Nas Forças Armadas é um pouco diferente, porque o ministro adotou postura de independência e não colocou as corporações a serviço do governo. Isso contrariou o presidente. A Flávia Arruda é o Centrão assumindo o comando da política de governo, dominando a articulação política. O Centrão está podendo, e o presidente está olhando o palanque de 2022. Está fazendo uma opção declarada pelo Centrão", ponderou.
Para Dias, as alterações não trarão muitas melhoras. "No MRE, é impossível ser pior do que o que existia. Nesse setor pode haver avanço. Nas Forças Armadas, é um retrocesso. Avanço seria consolidar a independência e vinculá-las a política de Estado e não de governo. E o que se pretende é o contrário. O desempenho do governo é claudicante, temerário e as expectativas não são das melhores", afirmou. O senador Jayme Campos (DEM-MT) demonstrou otimismo. "É importante aguardar. Quem sabe (Flávia Arruda) faça um bom trabalho. É um cargo em comissão, de confiança. Se não correspondem com a expectativa, o governo troca. Mas, o relacionamento do governo com o Congresso é dos piores. O que eu torço é que, daqui pra frente, o país volte à normalidade. Há uma intranquilidade generalizada. O país está sem bússola. É ruim para o jogo democrático. A população paga a conta", disse.