No mês passado, a cidade recebeu do governo federal doses da vacina, depois de a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) encaminhar as listas repassadas pelas associações com a relação de quilombolas associados a cada uma delas e que deveriam ser imunizados. Não houve checagem prévia por parte do município.
“Não tive acesso a essas listas”, disse a secretária, ressaltando que não viu os nomes antes de eles serem encaminhados por sua própria equipe ao Ministério da Saúde. A gestora afirmou que só foi saber a quantidade de vacinas destinadas a quilombolas depois de as doses chegarem ao município. “Vi que o número era muito alto”, afirmou.
O Metrópoles teve acesso à lista de uma das quatro associações quilombolas, com cerca de 400 nomes de possíveis descendentes de escravos, especificação de idade deles e de possível comorbidade. Diversas faixas etárias estão relacionadas no documento. A mais nova é uma menina de 10 meses, e o mais velho, um idoso de 87 anos.
“Enquanto não tiver uma decisão de como realmente funcionam essas associações, a gente não vai liberar os imunizantes”, afirmou a secretária, sem explicar por que não houve a checagem no município antes. “Enquanto tiver pessoas mais velhas na fila, acho injusto [vacinar mais jovens]”, disse.
A lista inclui diversas crianças e adolescentes, que, até o momento, não são estão definidos como prioridade pelo Ministério da Saúde para a vacinação, já que o foco, por enquanto, são os mais adultos e idosos. Contudo, a maioria das pessoas relacionadas no documento é adulta até a faixa dos 80 anos.
A secretária também criticou o fato de os quilombolas reivindicarem vacinas, mas não viverem isolados. “Aqui, os quilombolas moram mais nas cidades, esparramados na rua, do que na zona rural”, afirmou. “A gente conhece pessoas associadas que não têm nada a ver com gente quilombola”, emendou.
No entanto, em seguida, após ser questionada pela reportagem para mais detalhes, a secretária disse não saber qual associação pratica a suposta fraude em registros, como apontado pela gestora.